TENTAÇÃO E TENTATIVA DE DEFINIR O
CONCEITO DE
INCONSCIENTE
Alduisio
Moreira de Sousa
O procedimento doutrinário de Lacan no que tange à
cientificidade da Psicanálise deve muito a Louis Althusser e aos alunos da École Normale Supérieure da Rue D’Ulm.
Foi no seu ensino ali – na École – que ele procedeu de forma francamente
matemática com escrita lógica algébrica e foi radicalizando sua própria então
incipiente axiomática, deixando emergir interrogações nunca antes feitas em seu
ensino: epistemologia numa exigência de clareza sem igual, pois ali encontrava
um público jovem e desafiador para o qual devia se dispor realmente a uma
abertura não simplesmente mudança de endereço, mas criar um lugar de abertura
para novos interlocutores do Seminário então aberto para não analistas e para
novos horizontes teóricos: filosofia marxista (no caso, maoista), matemática,
topologia e as questões postas pela comunidade de um público diante da efervescência
política pré-revolucionária [ou pré 1968], que abalou os alicerces políticos da
cultura e da ciência supostamente neutra em relação à política e à ideologia. O
ensino então carecia de maior precisão, e se apresenta então diante da
exigência de atualidade do publico novo da nova comunidade. Foi como se lhe
fosse exigido contas sob a forma conceitual a qual não estava habituado. Foi
ali que ele abriu espaço para os jovens normalistas e inclusive àquele que se
tornou seu principal interlocutor – Jacques-Alain Miller que se tornou seu
genro ao se casar com sua filha Judith Miller. Ali também que formulou o
Seminários sobre os conceitos fundamentais da psicanálise interrogando-os pelo
viés da ciência de onde surgiu o Seminário 11, então nomeado por Miller como “os quatro conceitos fundamentais” [o
inconsciente, a pulsão a transferência e a repetição] cuja abertura tem por
tema: A Excomunhão, onde Lacan manifesta
sua identificação a Espinosa de 1656, e então
foi o momento que interrogou sistematicamente a cientificidade da psicanálise
se interrogando no seu ensino: a psicanálise se seria uma ciência ou não?
É então daí que Lacan se interroga, pontuado por Louis Althusser em sua leitura
marxista de Freud e do Próprio Lacan. Temos uma refundação dos interrogantes
teóricos, tendo como interlocutores Althusser e seus discípulos: Jacques-Alain
Miller, Ives Duroux, Alain Grosrichard, e Pierre Souris etc. Lacan fica à
vontade para falar do materialismo histórico e dialético pela releitura de Marx
promovida pelo genial Louis Althusser. Tal como leio a Psicanálise, Lacan aí
fala e ensina como um cientista. A lógica de seu ensino se radicaliza e ousa um
procedimento até então inusitado em sua elaboração, cujo apoio em Frege se
torna manifesto. A partir de então, o
procedimento eclético se torna pouco a pouco algébrico, num processo formal seguindo
um algoritmo que ele já havia definido em 1957 e uma composição conceitual por
proposições na lógica já então fregeana, da relação entre função e argumento.
Diz
Lacan em 1957: “( .../..). vamos fiar-nos nas premissas (...) pelo fato de que a
linguagem teria efetivamente conquistado, na experiência, seu status de objeto
científico. (.../..). por esse fato que a linguística se apresenta numa posição
piloto (.../...) para uma reclassificação das ciências (.../...) como acontece
com toda ciência no sentido moderno (...) no momento constitutivo de uma
algoritmo que a funda”. S/s.
Quando estudamos Frege através do texto A SUTURA de
Jacques-Alain Miller e depois indo diretamente aos textos fregeanos, deixamos
escapar a oportunidade de estendermos o tratamento conceitual para fazermos uma
checagem deles para nossa atividade seja de estudos ou da clínica. Não de uma
aplicação, mas de exercício de dedução já que poderíamos diretamente acrescentar
ao conceito de conceito, de número e de
sucessor uma elaboração do próprio conceito de INCONSCIENTE que está posto
nas condições de enunciação, e assim apurarmos nosso entendimento da doutrina e
da prática analítica.
De
entrada, na SUTURA, nas provocações de Miller, ele diz que: “O campo freudiano não é representável por
uma superfície fechada”, deixando claro que a estrutura que o representa
este campo é moebiana com uma invariante e os objetos topológicos subsumidos são
a Cinta de Moebius, a Garrafa de Klein e
o Cross-cap. O passo que faltava é
mínimo para alojar o conceito de Inconsciente. É o que proponho que trabalhemos,
já que, na página 12 eis o que o autor diz:
“.../... a relação que na álgebra
lacaniana é dita do sujeito ao campo do Outro (como lugar da verdade) se
identifica à que o zero mantém para com a identidade do único como suporte da
verdade. Esta relação, enquanto matricial, não poderia ser integrada da
objetividade, – é isto que
doutrina o doutor Lacan. O engendramento do zero, a partir dessa
não-identidade-a-si sob cuja batida não cai coisa alguma do mundo, pode
ilustrá-la para vocês. (.../...) O que constitui essa relação como matriz da
cadeia deve ser isolado nessa implicação que faz determinante da exclusão do
sujeito para fora do campo do Outro (A), sua representação sob a forma do um do
único, da unidade distintiva chamada por Lacan “o unário” (l’unaire). Na sua
álgebra, essa exclusão é marcada pela barra que vem afligir o S do sujeito
diante do grande A (Outro), deslocamento cujo efeito é a emergência da significação
significada ao sujeito. (.../...) Não entabulada pela troca da barra, essa exterioridade
do sujeito ao Outro $(A) se mantém, instituindo o inconsciente”.
Ou
seja, a barra que escrevia a posição do Sujeito como uma demanda indeterminada,
como carência da própria cadeia como uma suposição aflige então ao sujeito, já
que ele diante do Outro está em posição de carência pelo efeito de seu desejo,
cuja mostração aponta para o traço-unário, como elemento que lhe é
fundador enquanto sujeito: sua castração. Aqui, podemos colocar uma dupla
acepção: do que limita e possibilita, de onde surgirão as formações que sob o
signo da carência ou suposta suficiência ao Ideal do Eu e Eu ideal. Ou seja, da
distinção aberta pelo Estádio do Espelho de 1936/1949.
Temos
aí a relação S(A) significante diante do Outro, sem mais é a condição da fala e
como exclusão do sujeito de seu campo, campo do Outro, lugar da verdade. O
matema s(A), é proposto como significado ao sujeito. É como da reversão do
inicio do grafo do desejo, e em seguida significante diante falta do Outro,
aqui é onde o Outro é barrado $(Ⱥ),
nos indicando que é do campo mesmo da verdade que devemos sacar o Significante
e de lá, da barra que aflige o $ujeito que ele é interrogado sobre sua ex-sistência. A falta marcada sobre o
Outro então é o sujeito que a toma pra si, quando fala, daí sua determinação e
responsabilidade, pois sua fala se inscreve como obturação buscada dessa falta,
ou seja, da carência de seu Outro. Daí, o passo necessário é a elaboração de um
novo conceito de objeto, de onde resulta o Objeto a. Pensemos na subsunção e
na atribuição para este paradoxal objeto?
Percebamos
e façamos o registro do que o autor chama de significação para o sujeito, o que entendi como da ordem da
mensagem, em seguida é que o Outro é barrado, já que é nele que temos a bateria
significante, e por ele ser barrada significa que não é todo, e a barra como
uma inversão da mensagem retorna ao sujeito que aí então aparece ele, o Outro,
como barrado (Ⱥ), o Outro como
barrado é apontado pelo traço-unário. É aí
que situamos a própria emergência do Inconsciente, como ato ainda não
conceptualizável enquanto tal, mas como enganche indicando a necessidade de uma
elaboração.
Devemos situar esta superfície evocada no
texto da SUTURA, que deveria conter o que é representável do campo freudiano,
superfície cujo ponto comum ou invariante é a torção moebiana: temos então a moebianiedade
como condição e como tal temos os objetos topológicos referidos como vemos nos objetos
aqui mostrados ou descritos: a própria
cinta de Moebius, a Garrafa de Klein e o Cross-cap para que pensemos a Lógica do Significante na obra de Lacan,
na construção dos objetos, funções, argumentos da elaboração linguageira.
Processo
formal, e como tal por ser puramente formal, implicando todos os campos do
saber, na produção do sujeito, aqui considerado como um movimento linear
engendrando-se no seu próprio percurso, extrapolando sua origem linguística
inclusive com a distinção dada por Frege
entre sentido e significado. Aqui
no que nos interessa é interessante pensar a cientificidade da psicanálise, tomando
como exemplo, pelo conceito de CONCEITO, conceito de NÚMERO e de SUCESSOR, tal
como Jacques-Alain Miller pontuou em seu texto A SUTURA. O conceito de
sucessor, definido a partir do conceito duplamente contraditório nos trás o
CONCEITO DE INCONSCIENTE.
O
conceito de SUTURA ele explicita como “a
relação do sujeito à cadeia significante de seu discurso”. Estrutura onde o
enunciador se faz presente por sua ausência na locução onde ele está como
lugar-tenente da marca de passagem de interior a exterior discursivo ou ainda
pela diferença posta pelo enunciado e a enunciação. Frege acrescentará nessa
binariedade a presença da diferença entre sentido
e significado, ou sentido e significação.
Miller
vai trabalhar considerando e questionando os axiomas fundadores de Peano: ZERO,
NÚMERO e SUCESSOR.
Eis
os axiomas de Peano:
1
Zero é um número.
2
O
sucessor imediato de um número é um número.
3
Zero não é sucessor de nenhum número.
4
Não há números que tenham o mesmo
sucessor imediato.
5
Qualquer propriedade pertencente a zero
e também ao sucessor imediato de cada número que tenham estas propriedades
pertence a todos os números.
Ao retomarmos a axiomática de Peano ela
nos libera e convoca para a reflexão, mas exige que tenhamos como sabido que
ela está na base teórica de nossas elaborações. Ela é suturante aqui para nosso
exercício de pensamento, já que elabora a relação do sujeito à cadeia de seu
próprio discurso. Miller se interroga e responde sua própria interrogação: “O que é que funciona na série dos números
inteiros naturais, ao que é preciso relacionar sua progressão? – É
a função sujeito”, aqui ainda
desconhecido que opera. Observemos que ele diz função sujeito e não função do sujeito, simples observação para a
atenção requerida a seguir.
Frege
exclui o empirismo e o psicologismo no que seria a passagem da coisa à unidade
e à coleção das unidades e daí à unidade
do número. Aí a função sujeito e mesmo do sujeito pensante toma emprestado
a figura da abstração e da unificação. A unidade
então é conferida ao indivíduo como à coleção e o que marca o número é seu nome. Trata-se aqui de uma Vorstellungen objetiva excluindo então
o empirismo e seu efeito de ser uma Vorstellungen
subjetiva, ou psicológica. Esta exclusão do empírico e do psicológico
(subjetivo) vai dar espaço para a noção que podemos identificar à repetição. Veremos que a repetição é
um avanço na direção da subjetivação como automatismo
sulucionante.
Frege trabalha de forma ternária com três
conceitos: CONCEITO, OBJETO e NÚMERO
e duas relações, SUBJUNÇÃO e ATRIBUIÇÃO, ou ASSINAÇÃO. De forma simplificada e rigorosamente determinada pelo
uso das duas relações: SUBSUNÇÃO e
ATRIBUIÇÃO, que seria mais prático chamar de NOMEAÇÃO. Ou seja, o conceito
convoca um objeto que ele então SUBSUME
e em seguida o NOMEIA.
A
localização espaço-temporal – a seriação dos números inteiros – do objeto cria
a diferença entre objeto e coisa integrada. A coisa então desaparece e ressurgindo
como OBJETO, que é a coisa enquanto UNA. Fica assim claro que o conceito
que opera no sistema formado a partir da SUBSUNÇÃO
é um conceito reduplicado: O CONCEITO DE
IDENTIDADE A UM CONCEITO. A atribuição é então a nomeação, ou melhor, um
dar nome à coisa subsumida. É aí que começa a lógica, já que a indução no
conceito pela identidade dá nascimento à dimensão lógica e provoca a emergência
do numerável.
Vamos
ao exemplo do texto A SUTURA, de
Miller:
Um
conceito: “o filho de Agamenon e
Cassandra”, convocamos para subsumi-los Pélops e Telédamos que serão os
objetos que serão atribuídos após subsumi-los e daí segue que os objetos que
caem sob o conceito é “idêntico ao
conceito: filho de Agamenon e de Cassandra”.
Fica
evidente que o conceito que opera no sistema formado a partir da determinação
da subsunção é um conceito reduplicado: o conceito de identidade a um conceito.
Ou seja, um conceito dentro do Conceito para torná-lo operável. É daí que surge
o numerável. A seriação dos números inteiros, com o conceito de SUCESSOR trás o
paradoxo do Inconsciente através do que constitui a base do numerável, cujo procedimento devemos reestudar.
Os
filhos então são aplicados a si mesmos – condição da verdade – o que os
transforma em unidade a passar ao estatuto de objeto e como tal numerável. O um
da unidade singular, esse um do idêntico ao subsumido esse um é aquilo que todo
número tem de comum: ser antes de tudo constituído como unidade.
Daí temos que a atribuição do número tem a seguinte operação: “o
número atribuído ao conceito F é a extensão do conceito “idêntico ao conceito F””.
Aqui está o ponto chave segundo o raciocínio de Frege: a reduplicação do conceito. Um Conceito subsume sempre um objeto,
mas partes e mesmo todo um Conceito pode ocupar o lugar de objeto de outro conceito.
É um conceito auxiliar ou como Miller o nomeia, reserva. Este encaixe
será determinante e presente em toda formulação de Frege, sabem bem quem
procurou seguir a elaboração passo a passa dos Fundamentos da Aritmética de Gottlob Frege.
O sistema ternário (Conceito, Objeto e
Número) de Frege, tem por efeito só deixar à coisa o suporte de sua identidade
a si, no que ela é então objeto do conceito operante e numerável. O conceito
atribuível, assinante, com sua unidade unificante se subordina à unidade
distintiva – articulável – para dar suporte à seriação que suporta o número. O
fundamento da unidade distintiva situa no princípio de que é a função da
identidade que confere a todas as coisas do mundo a propriedade de serem unas,
completando sua transformação em objeto de conceito (lógico).
EADEM SUNT QUORUM UNUM POTEST
SUBSTITUI ALTERI
SALVA
VERITATE. (Leibniz)
Idênticas
são as coisas que podem ser substituídas uma a outra sem que a verdade se
perca. Temos aqui a emergência da função
da VERDADE.
Se
uma coisa não puder ser substituída por si mesma o que seria da VERDADE?
Absoluta é sua subversão.
“... a verdade se reencontra no que
a coisa substituída, porque idêntica a si mesma pode ser objeto de julgamento e
entrar na ordem do discurso: idêntica a si mesma, no discurso ele é então
articulável”.
Vemos
que a identidade a si mesma é essencial para o que salva a verdade: A VERDADE É. CADA COISA É IDÊNTICA A SI
MESMA.
Foi
preciso nessa travessia de Frege evocar ao nível do conceito um objeto não
idêntico a si mesmo, rejeitado em seguida (mas necessário à reflexão) pela
discensão da verdade.
O NÚMERO ZERO
O ZERO, 0,
do primeiro axioma de Peano é que se inscreve no lugar do número consuma a
exclusão desse objeto, nada poderia ser
escrito ali e se é preciso grafar algo será um 0 apenas para figurar um branco
e tornar visível a falta. Do ZERO-falta
ao ZERO-número se conceptualiza o
não conceptualizável. Há aqui uma alteração fundamental, pela evocação e
revogação do ZERO-número. O zero
entendido como número que marca um conceito que deveria subsumir um objeto na
verdade subsume a falta de objeto e como tal uma coisa é a primeira coisa não
real no pensamento.
Se do número Zero construímos o
conceito ele subsume como seu único objeto o número Zero. O número que marca
este único objeto é então o número 1.
O sistema
de Frege opera a cada um dos lugares que ele fixa pela circulação de um
elemento: do número Zero a seu conceito, deste conceito a seu objeto e a seu
número. Circulação que produz o 1. 0 é
então contado por 1 uma vez que o conceito de Zero subsume no real apenas um
branco que é o suporte geral da série de números. Isto é demonstrado por Frege
com a operação do sucessor que é (n+1).
Tomemos
um número: 3, (três). Ele nos serve para construir o conceito de “membro da
série dos números naturais terminados por 3 (três)”. O número assinado (atribuído)
a este conceito é quatro, pois contamos (n+1). Atribuindo ao seu conceito
reduplicado o número 3 funciona como o número que unifica a coleção
reserva. No conceito de “número da série dos números naturais terminado
por 3” ele é termo (elemento e elemento
final).
Na ordem do real o 3 subsume 3
objetos. Na ordem do número que é a do discurso premido pela verdade, são os
números que contamos antes do três: antes dos 3 há três números ele é portanto
o quarto. Na ordem dos números há também o 0 (Zero) e ele se conta como o 1
(um). O 0 (zero) que estava em reserva passa ao termo pela somação do 0 (zero). Daí é que temos o SUCESSOR. O que no real é
ausência pura e simples se acha pelo fato do número (instancia da verdade) é
notado e contado como 1. É por isso que dizemos: o objeto não idêntico a si,
provocado – rejeitado pela verdade, instituído – anulado pelo discurso (a
subsunção como tal) – em uma palavra é o SUTURADO. Aquele que estava na reserva
mas não foi descartada sua existência. A emergência da falta como 0 (zero) e do
0 (zero) como 1 determina o SUCESSOR. Penso ser o processo de SUTURAÇÃO. Seja n,
a falta se fixa como 0 (zero) que se fixa como 1: n+1 que se adiciona para
formar o que seria o n’, que absorve o 1.
O
1 assim engendrado deve ser tomado
como o símbolo originário da emergência
da falta no campo da verdade e o sinal +
indica o passamento, a transgressão pela qual o 0-falta vem a ser representado pelo 1 e produz por essa diferença de n a n’ o que reconhecemos como
efeito de sentido, o nome de um número.
A DIREÇÃO VERTICAL E A HORIZONTAL
“A
repetição geradora da série dos números se sustenta nisso, do que o Zero-falta passar segundo um eixo
vertical de início, transpassando a barra que limita o campo da verdade para
nela se representar como 1 (um),
abolindo-se em seguida como sentido em cada um dos números da progressão
sucessorial”.
Se
distinguimos o 0 (zero) como falta
do objeto contraditório dos que suturam em ausência na série dos números devemos distinguir o 1 (um), nome próprio de um número daquele
que vem fixar numa marca o 0 (zero) do não idêntico a si suturado pela
identidade a si, lei do discurso, o que dá as garantias no campo da verdade do
dizer. O paradoxo a ser compreendido (do significante no sentido lacaniano) é o
de que a marca do idêntico representa o não idêntico de onde se deduz a
impossibilidade de sua reduplicação, e por isso não há metalinguagem, e daí
temos a estrutura da repetição (re-petição) como processo de diferenciação do
idêntico.
A
série dos números é uma metonímia do 0 (zero) na série sucessorial horizontal, mas sua efetivação como inicial é
de uma substituição na verticalidade: donde substituição metafórica e
contiguidade metonímica. O discurso da lógica convoca um objeto impossível como
não idêntico a si mesmo, negativo puro no campo da verdade: O SUJEITO no
sentido lacaniano, busca a suturação para se sustentar como e no discurso para
em seguida desaparecer na sua própria efetuação, daí sua fugacidade e sua
permanência paradoxal, como citado no início em Cinta de Moebius, Garrafa de Klein e Cross-cap. Temos então uma estrutura que tento dar uma
ideia da seguinte maneira:
SUJEITO – SUTURA – INCONSCIENTE
S (Ⱥ)
>>>>>>>>>> $ (A)
O objeto impossível que o discurso
da lógica convoca como não idêntico a si e o rejeita como negativo puro, quando
ele insiste em se fazer presente nós o chamamos de SUJEITO. Sua exclusão para
que o SUJEITO se relacione efetivamente com a cadeia de seu próprio discurso
foi dado o nome de SUTURA, este batimento que vai do significante ao campo
Outro que é marcado como falta S(Ⱥ), o efeito disso, acolhimento ou injunção de
onde o existente recolhe a barra que o funda como pura exterioridade $(A) é que
o aliena nos efeitos da fala na linguagem, é onde escrevemos o conceito de INCONSCIENTE.
Temos
assim uma tripartição: SIGNICADO para o Sujeito que poderia ser grafado como a
escrita da mensagem no grafo da Subversão do Sujeito nos Escritos: s(A); a da
cadeia significante que o sujeito sutura ou mesmo tenta burlar sendo então
recortado pelos sentidos metafórico e metonímico da cadeia sendo puro efeito da
falta no campo do Outro S(Ⱥ); o
campo exterior onde o sujeito é rejeitado não é suporte para a dicotomia
linguística do significado / significante nos seus múltiplos efeitos de significância
pela repetição (tal A carta roubada),
a isto, quando efetivado chamamos o INCONSCIENTE,
precedido do artigo definido para configurar um conceito.
Podemos enfim no lugar do
objeto-não-idêntico-a-si-mesmo, para o qual convém o termo paradoxal do nome de
Objeto a, sua moebianidade e os objetos que subsume (Cinta de Moebius,
Garrafa de Klein e Cross-cap) é a FUNÇÃO SUJEITO que reconhecendo, pelo uso da
linguagem a sua incompletude ou sua infinitude o INCONSCIENTE como conceito
seria o ATO de fazer sua causa ou razão (matemática) ao que subsumindo um
objeto do zero-falta ao zero-número que enfim é falta de objeto, é nomeado
sempre como um-a-mais (n+1) nessa duplicidade da presença-ausência, o nome
desta operação paradoxal, convém conceptualizar de: INCONSCIENTE. A barra que
aflige o Outro (Ⱥ) retorna ao sujeito que então é barrado ($). Esta barra é o
efeito do ATO INCONSCIENTE.
Alduisio
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