segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Paulo Leminsk

Bem no fundo                

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O mal está em todos nós - Philip Zimbardo


 
Em entrevista à revista Veja (Ed.2335 de 21 de agosto de 2013), o psicólogo americano Philip Zimbardo retoma o tema da maldade humana e suas raízes. Famoso na década de 1970 por seu experimento  em parceria com Stanley Milgram na Universidade Stanford, em que chega a conclusão de que o mal “repousa dentro das pessoas” e que apenas 10% das pessoas permanecem imunes àquelas situações que poderiam levá-las a agir de forma má; ou seja, todos nós – a depender das circunstâncias – podemos cometer atos atrozes e de intensa maldade. Em sua pesquisa Zimbardo também observou que militares nazistas, guardas de campos de concentração, torturadores de regimes ditatoriais não são uma espécie de “monstros” especiais que se destacam da multidão; são, antes, pessoas comuns, sem desvios de personalidade e “em geral, indivíduos normais, com vida comum, até assumirem a função” e conclui afirmando que qualquer um pode ser treinado para se tornar torturador.

A entrevistadora pergunta se existem pessoas que são mais propensas a praticar o mal, e o psicólogo é categórico ao afirmar que sim, que além do grupo dos psicopatas (que representam 1% da população), pessoas que sofreram alguma espécie de violência brutal em qualquer momento de sua história, têm uma tendência maior a praticar tais atos no futuro.  Do mesmo modo, também existem pessoas mais resistentes a prática da maldade, como exemplo temos os indivíduos altamente críticos que não se submetem a sistemas que consideram injustos e se rebelam contra todo tipo de tirania. Para Zimbardo, “a melhor vacina contra a prática do mal é o exercício permanente da autocrítica”. 

Para saber mais leia o livro O Efeito Lúcifer (Ed. Record) de Philip Zimbardo, e veja também a  pesquisa de Alexander Haslam e Stephen Reicher, da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália que contesta o experimento de Zimbardo e Milgram (Contesting the "Nature" Of Conformity: What Milgram and Zimbardo's Studies Really Show). Os psicólogos australianos discordam de Zimbardo e MIlgram quando eles sentenciam que “a obediência aos desmandos de autoridades mostrava que os seres humanos normais tendiam a se conformar com a tirania”, e propõem, por sua vez, que essa obediência se deve ao fato de a pessoa se identificar com a autoridade e acreditar estar fazendo a coisa certa. Com certeza são duas boas leituras para nos fazer entender um pouco mais dessa porção de maldade que habita em todos nós.