quarta-feira, 29 de junho de 2011

LOPE DE VEGA

Lope Félix de Vega Carpio (1562-1635) nasceu em Madri, e era proveniente de uma família humilde. Muito cedo começou a estudar, em sua cidade natal e em Alcalá, tendo sido considerado um menino prodígio pelos seus mestres. Em sua desordenada vida particular combinou de forma simultânea e separadamente os papéis de amante, soldado, marido, secretario e sacerdote, além é claro de ter sido escritor em tempo integral.

Considerado o fundador da comédia espanhola, e um dos mais prolíficos escritores da literatura universal. Sua produção literária compõe-se de 426 comédias e 42 autos, além de milhares de poesias líricas, cartas, romances, poemas épicos e burlescos, livros religiosos e históricos, entre eles os extensos poemas como La Dragontea (1598) e La Gatomaquia (1634), os poemas curtos Rimas (1604), Rimas sacras (1614), Romancero Espiritual (1619) e a célebre écloga Amarilis (1633) - uma homenagem à amada morta. Ainda são destaques por sua originalidade, os épicos Jerusalén conquistada (1609), o Pastores de Belém (1612) e o romance dramático La Dorotea (1632).


Seus contemporâneos o chamaram de "Monstro da Natureza" por ter escrito mais de 1.500 peças de teatro. Entre elas destacam-se as inspiradas em histórias e lendas espanholas: O melhor juiz, o Rei; Peribánez e o Comendador de Ocaña; Fuenteovejuna; O cavaleiro de Olmedo. As históricas: O castigo sem vingança; Contra o valor não há infortúnio. As mitológicas: O pelego de ouro, Vênus. As comédias de costume: O aço de Madri; A dama boba.
Veja abaixo um dos poemas mais bonitos de Lope de Vega:


DESMAYARSE, ATREVERSE, ESTAR FURIOSO


Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde, animoso,

no hallar, fuera del bien, centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso.

Huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor süave,
olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengaño:
esto es amor. Quien lo probó lo sabe.


DEFINIÇÃO DO AMOR

Tradução de José Jeronymo Rivera

Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso,
áspero, terno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde e valoroso;

não ver, fora do bem, centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
enfadado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;

furtar o rosto ao claro desengano,
beber veneno qual licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;

acreditar que o céu no inferno cabe,
doar sua vida e alma a um desengano,
isto é amor; quem o provou bem sabe.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Parece piada mas não é...

Como fazer fama e dinheiro como cientista



(Nota do Tradutor) - Quem, ao ler o texto abaixo, imaginar seu autor, ou como um lunático, ou como um ressentido, estará errando por muito. Ele descreve, através de um texto irônico, um estado de coisas implantado na comunidade científica mundo afora.

Desde que aos departamentos acadêmicos das universidades só importa o número de publicações de um determinado professor-pesquisador, ser um pesquisador famoso é equivalente a operar o milagre da multiplicação das publicações. Isso e muito mais é analisado e ensinado no texto que se segue.

Tudo isso acontece em países desenvolvidos onde a sociedade costuma ser mais atenta a fatos dessa natureza. A situação no Brasil é um muito pior, pois, falta-nos a tradição de uma instituição acadêmica que mereça esse nome. Lembremos que nossa primeira universidade foi criada, em 1920, para dar um título ao Rei da Bélgica. Além disso, com uma sociedade com baixo nível educacional, onde nossos intelectuais só promovem o desaprendizado daquela camada que sabe ler, nossas universidades se sentem livres para fabricar reputações ao sabor das modas. Somos famosos porque nos achamos famosos. Daí o pacto da mediocridade: fingimos que somos famosos e vocês fingem que acreditam. Fingem e, claro, nos financiam.


Parece que muitos de nossos cientistas não recebem um treinamento básico de como ter sucesso em ciência - por exemplo, como obter financiamento, como granjear o reconhecimento dos pares, como construir uma bibliografia maior que qualquer particular publicação nela listada. Para corrigir essa deficiência, são apresentadas a seguir algumas orientações. É claro que sempre haverá uma ovelha negra que decide embarcar num caminho inteiramente original ou que escolhe renunciar às benesses de ser reconhecido como um cientista famoso, caso para o qual essas orientações não se aplicam. No entanto, atenção aos princípios enunciados abaixo deve ser suficiente para proporcionar uma sólida base sobre a qual aspirantes a cientistas possam construir suas carreiras.

1. Relaxe! Afinal, estamos, no momento, entre duas alterações de paradigmas

Muito do stress e da ansiedade que tradicionalmente são associados com a atividade científica foi aliviado pelo tremendo insight de Thomas Kuhn. Como a grande maioria dos cientistas está atualmente fazendo ciência "normal", flutuando em águas teóricas, e avanços verdadeiros devem aguardar a próxima alteração de paradigma, muitos de nós podemos relaxar na medida em que percebemos que é improvável que nosso trabalho tenha uma influência duradoura. Há, é claro, aqueles que objetivam contribuir para, ou mesmo precipitar, uma alteração de paradigma, e é difícil que eles sejam dissuadidos de fazê-lo, mas o restante de nós deve reconhecer que o esclarecimento de um paradigma existente é necessário para a subseqüente revolução científica. Imagine como seria difícil a ciência se cada investigador fizesse alguma contribuição fundamental que envolvesse uma alteração de paradigma e nos forçasse a analisar as suposições básicas de nossa área de trabalho.

2. Torne-se Famoso

Uma vez que você tenha desenvolvido a atitude relaxada sobre a importância de seu próprio trabalho (item 1), torna-se muito mais fácil se dedicar a ser um cientista. Nesse particular, o ser famoso só perde em importância para o estar relaxado. Infelizmente, muitos cientistas subestimam a importância de ser famoso para ter sucesso em áreas como obter financiamento e conseguir viajar pelo mundo (item 5, abaixo). E ser famoso é realmente muito menos difícil que muitos imaginam. Há diversas opções. Uma das mais rápidas e garantida é trabalhar com alguém que já é famoso. Isso garantirá uma certa quantidade de fama secundária que poderá servir de fundamento para o estabelecimento de sua própria fama. Outro método é organizar uma conferência sobre um tópico "quente" e convidar para participar as pessoas mais famosas da área, incluindo a pessoa famosa com quem você trabalha. Em seguida inclua-se na conferência. Essa técnica tem tido resultados maravilhosos para incontáveis dos agora famosos cientistas. Outra opção efetiva é publicar um artigo ou abstract (resumo) toda semana na sua área de escolha. (item 3). Esse método demanda mais esforço, mas com atenção ao próximo item, o trabalho pode ser minimizado e os resultados certamente farão de você um reconhecido expert em qualquer área particular.

3. Publique Sempre (Preferencialmente Abstracts)

É conhecimento geral de que os cientistas modernos não têm tempo de ler a rapidamente crescente literatura de suas áreas e, com o reconhecimento de que a maior parte da pesquisa não terá efeito duradouro (item 1), seria mesmo uma perda de tempo tentar realizar tal tarefa. Portanto, aproveite-se do fato de que a maioria de seus pares será influenciada por seu trabalho através de reconhecimento de nome. O mesmo princípio que as agências de propaganda usam, ou seja, exposição repetida, é também vital para o sucesso em ciência. Quanto mais seu nome for visto impresso, maior influência você terá e mais famoso você será (item 2). A escolha do meio de divulgação é crítica; você deve publicar tanto quanto possível em jornais e revistas populares, mas revistas científicas têm também seu lugar. Você deve manter uma média de um artigo ou abstract por semana, e seu nome deve aparecer por último. Quanto mais co-autores você tiver, melhor, pois, todos sabem que o último autor é o verdadeiro, aquele que conta, e isso mostra que você já deve ser famoso por ter tantos cientistas trabalhando com você. Alguns argumentarão que cada publicação deve conter informação nova, mas, de novo, essa visão não leva em conta as lições aprendidas na Avenida Madison. De fato, quanto mais você diz a mesma coisa, maiores suas chances de ser lembrado. Uma vez que o mesmo conjunto de dados tenha sido publicado muitas vezes, com não mais que variações mínimas, elas começarão a ter grande credibilidade nas mentes de seus colegas e na sua própria. Além disso, sua área particular de trabalho, mesmo que previamente tida como obscura e desinteressante, ganha importância crescente toda vez que ela aparece impressa.

O formato pode ter um papel vital no seu sucesso definitivo. As muitas vantagens derivadas da publicação de seu trabalho, na forma de abstract, por exemplo, são freqüentemente subestimadas. Primeiramente, as publicações lhe proporcionam oportunidades de viagem (item 5). Em segundo lugar, elas raramente passam pelo processo de revisão para publicação (e todos nós temos verdadeiras estórias de horror sobre revisões críticas recebidas, mesmo relacionadas aos nossos melhores artigos). Em terceiro e mais importante lugar, as publicações proporcionam documentos que podem, ou ser citados no estabelecimento de precedência de uma observação, se ela estiver correta ou importante (ou ambas), ou podem ser facilmente deixadas de lado, se a observação se provar errada.

Em alguns casos, particularmente quando você já tiver alguma experiência, é possível publicar diversos abstracts ao mesmo tempo, cada um tratando de uma pequena variação sobre o mesmo tema. Algumas sociedades científicas permitem que você submeta apenas um abstract como primeiro autor, mas essa restrição pode facilmente ser superada. Muitos cientistas, por exemplo, já são cientes dos potenciais co-autores vindos de seus estudantes e associados, mas são freqüentemente subestimados os funcionários técnicos e administrativos, alguns dos quais ficariam satisfeitos de ver seus nomes impressos. Com um pouco de planejamento você pode ter diversos abstracts publicados simultaneamente, um com seu nome em primeiro lugar e o resto com seu nome listado por último. Conta a lenda que um cientista foi capaz de preencher duas sessões inteiras de um encontro científico com abstracts apenas de seu laboratório.

4. Publique Somente o Que Não Possa Ser Refutado (pelo Menos Durante sua Existência)

Muitos jovens cientistas tristemente interpretam erroneamente esse princípio como significando que os artigos a serem publicados devem ser trabalhados e concebidos cuidadosamente. Ao contrário, muito tempo e esforço podem ser economizados publicando-se resultados sem qualquer atenção à sua significância ou relevância. É provável que ninguém irá, afinal, ler o artigo (item 3), desta forma, não gaste seu precioso tempo analisando resultados. Ainda mais importante, desde que você restrinja sua discussão àquilo que você vê, com suficientes diferenças metodológicas de trabalhos prévios para que qualquer discrepância possa ser explicada se necessário, você nunca será flagrado em erro, particularmente se você se abstenha de discutir a significância potencial dos resultados. A maneira mais simples de evitar qualquer embaraço é publicar técnicas novas e aprimoradas. A publicação de métodos novos raramente levará você a grandes discussões teóricas com seus colegas, mas ainda lhe permite vivas discussões sobre se o PH era ótimo. Ainda mais recomendável, desenvolva um reagente que seus colegas possam usar e então o distribua a eles, com a modesta solicitação de que você seja incluído como autor de qualquer artigo que mencione o reagente. Você se surpreenderá o quão rapidamente sua bibliografia crescerá, juntamente com sua fama. Se, por alguma razão, você sinta obrigado a especular, por escrito, sobre seus resultados, limite sua especulação a idéias que não possam ser testadas, pelo menos durante sua existência.

5. Apresente Seu Trabalho em Toda Oportunidade

Um dos muitos benefícios de ser um cientista é viajar. Quanto mais famoso você é, mais oportunidades você terá de viajar. Da mesma forma, quanto mais você é visto em público, mais famoso você será. Além disso, cada conferência proporciona a oportunidade de publicar pelo menos um abstract (item 3). Quando apresentar seu trabalho, use slides atrativos, que não estejam cheios de detalhes. Uma dica importante: deixe de fora qualquer informação estatística, especialmente na forma de gráficos, pois, isso freqüentemente tira a atenção do ponto principal do slide. Contrariamente à situação de seu trabalho escrito, sinta-se livre para especular durante sua apresentação. De fato, não se sinta limitado pelos resultados. Lembre-se que seu impacto será muito maior se você fizer afirmações e generalizações amplas e radicais sem fundamentação no que você publicou no abstract. Se alguém lhe questionar seriamente alguma afirmação feita ou apresentar resultados contraditórios, você pode evitar qualquer embaraço alertando que ele ou ela não usou o PH ótimo.

As apresentações são necessárias, mas não suficientes, para a fama em ciência. Quando você for convidado a participar de um encontro científico, certifique-se de registrar quem o convidou, para que você seja capaz de convidar os mesmos indivíduos à próxima conferência que você organize. Com o tempo você descobrirá que existem suficientes pessoas para se convidarem mutuamente a diversas conferências ao ano e, se você for realmente famoso, poderá mesmo decidir estabelecer sua própria sociedade científica, consistindo de somente aqueles mais famosos cientistas (principalmente aqueles que você convidou para muitas conferências durante o ano).

6. Submeta uma Proposta de Financiamento Somente para o Trabalho que Você já Tenha Feito

Apesar disso ser uma coisa tão óbvia, há ainda cientistas, especialmente os principiantes, que solicitam financiamentos de experimentos que não estão ainda concluídos. Finalmente a maioria dos revisores de propostas de financiamento tem eliminado aqueles que continuamente propõem trabalhos inéditos, mas ainda há aqueles que têm dificuldade de entender que a aposta certa é no cavalo que já venceu. Naturalmente, você deve ser um pouco cuidadoso na publicação do trabalho proposto, de tal forma que ele não apareça impresso antes que sua proposta seja analisada (exceto, é claro, em forma de múltiplos abstracts). O cientista neófito pode se defrontar com o dilema de não ter sido capaz de realizar os experimentos antes de obter o suporte financeiro. A solução mais comum para isso é propor um trabalho similar ao que você já fez trabalhando com alguém famoso. Se essa opção não está disponível, então você será forçado a propor um trabalho que é original. Se for esse o caso, certifique-se de que a pesquisa é apenas uma pequena variação do trabalho já feito por alguém. Isso assegura aos revisores que seus experimentos particulares se encaixam no paradigma existente. Um bom exemplo seria encontrar o PH ótimo para a aplicação de um novo e aprimorado método.

7. Não Perca Tempo Dando Aulas

Lembre-se de que seu objetivo é fazer sucesso em ciência. Apesar de alguma experiência dando aulas ser benéfica, na medida em que o expõe aos estudantes que podem decidir trabalharem para você (e proporcionarem potenciais autores para muitos de seus abstracts), dar aulas consome muito tempo. Haverá alguma pressão de colegas e de seu chefe para que você contribua com o ensino, mas essa pressão pode ser aliviada de alguma forma, pela maneira com que você ensina. Por exemplo, sempre apresente seu material de forma a obscurecer qualquer relevância nos conteúdos que interessem aos estudantes. No ensino médico isso tem se tornado prática comum. Outro meio efetivo é oferecer detalhes sobre métodos que você usa no laboratório, especialmente enfatizando a importância do PH ótimo. Usualmente os estudantes estão tão sobrecarregados pelo volume de informações que eles terão dificuldade de formular perguntas inteligentes. A vantagem disso é óbvia. Com o tempo, menor carga de ensino será requerida de você e você terá mais tempo para escrever abstracts e ir a conferências.

8. Comercialize seu Produto

Fama é bom mas é muito melhor quando acompanhada de riqueza. O papel tradicional do cientista não tem sido tão lucrativo quanto outras carreiras. Isso está mudando. Uma das opções mais interessantes em ciência é identificar as aplicações comerciais potenciais de seu trabalho e comercializá-las. Numerosos cientistas estão descobrindo as vantagens financeiras de fundar suas próprias companhias com capital inicial provenientes de fundos governamentais de pesquisa e desenvolvimento. A beleza desse sistema é que há muito pouco risco. Se a aplicação comercial não gerar lucro, você pode sempre submeter uma proposta para um outro fundo governamental de pesquisa e continuar a vida. De outro lado, se você for capaz de capitalizar seu próprio sucesso científico e fundar uma lucrativa companhia, você pode usar suas afiliações acadêmicas, suas posições em corpos editoriais de publicações e de conferências, para manter-se a par dos mais recentes desenvolvimentos na área de estudo que alimenta sua companhia. A vantagem competitiva que isso dá a você é óbvia.

Resumo

A aderência a esses princípios não garantirá o sucesso, mas o testemunho de muitos cientistas famosos confirma a hipótese de que essas orientações podem fazer crescer significativamente.

Poucos cientistas sabem a história ilustrativa do abstract (resumo). A palavra é uma contração de "Abe’s Tract" (Tratado de Abe), que foi um panfleto pouco conhecido que Lincoln fez circular quando ele, pela primeira vez, disputou um cargo político. Apesar do conteúdo do panfleto não ser conhecido, sua influência dificilmente pode ser subestimada, pois a carreira subseqüente de Lincoln é considerada inteiramente derivada desse pequeno tratado. Alguns dizem que muitas idéias do tratado foram plagiadas de um trabalho não publicado de John Wilkes Booth, mas essa alegação nunca foi consubstanciada.

© 2003 MidiaSemMascara.org
(Publicado em Perspectives in Biol. and Med., 34:2 Winter 1991, 213-218)
por Redação MSM em 04 de novembro de 2003

Resumo: Por Keith A. Crutcher, com tradução de Antônio Emílio de Araújo para o MSM (4/11)