domingo, 11 de maio de 2008

GONZAGA LEÃO - 2

POEMA DOIS

Pude enfim erguer a casa
erguer sem barro sem cal
pedra madeira ou pilastra.
A casa quase irreal
não tocável não palpável
mas simplesmente sonhada.
A casa somente canto
casa somente palavra.
Transparente como vidro
e fugitiva como asas.
Casa que antes de construída
já por ela o vento entrava
e a manhã (se amanhecia)
era essa casa o primeiro
lugar que ela ocupava.
Na cama que não havia
em pensamento eu deitava
e a mulher que eu possuía
era a mulher não chegada
que sem vir sempre partia
e que partindo ficava.
E o vinho que ela servia
simulado como a taça
mais que o real nos tocava.
e a gente punha cuidados
especiais para que
mesa talheres toalha
de repente não voassem.
Pude enfim erguer a casa.
A casa insubsistível
se olhada se observada
se vista como outras casas.
Porque sem área porque
sem paredes sem telhado.
A casa que apenas vi
que senti e que habitei
que somente foi real
depois de desmoronada.