quinta-feira, 20 de novembro de 2014

WILHELM REICH E A ORGONOMIA


BIOGRAFIA
       Nasceu em 24/03/1897 na Galícia.
       Sua mãe suicidou-se quando ele tinha 14 anos.
       1922: primeiro assistente clínico de Freud.
       1933: expulso do PCA.
       1934: expulso da IPA.
       1939: mudou-se para os Estados Unidos.
       1954: perseguido pela FDA acusado de charlatanismo.
       Em 1957 morre na prisão.
INFLUÊNCIAS
       Psicanálise:
-          Análise do caráter e couraça caracterológica.
-          Ampliou a teoria da libido.
       Marxismo:
-          Tentou conciliar as teorias de Freud e Marx.
-          A Psicanálise é uma ciência revolucionária que completa a crítica marxista da economia burguesa com uma crítica de sua moralidade repressora da sexualidade.
       Sexualidade Humana:
-           Criou clínicas de Higiene Sexual: anticoncepcionais, aborto, divórcio, DST.
-           Defendia a livre expressão dos sentimentos sexuais e emocionais dentro de um relacionamento amoroso e maduro.
       - A meta da terapia era a libertação dos bloqueios do corpo e a plena capacidade para o orgasmo sexual.
PRINCIPAIS CONCEITOS
       Caráter:
Inclui atitudes, valores, estilo de comportamento e atitudes físicas (postura, movimentação etc).
Forma-se como uma defesa contra a ansiedade criada pelos sentimentos sexuais da criança e o medo da punição.
       Couraça do caráter:
São frutos das defesas do Ego que se tornaram cronicamente ativas e automáticas, se transformaram em “Traços de Caráter”, e são experimentadas como partes integrantes da personalidade do indivíduo.
       Caráter Genital:
Pessoa que adquiriu a capacidade de abandonar-se, sem inibições, ao fluxo de energia biológica, que possui “potência orgástica”.
“Capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo”.
Quando o paciente renuncia à couraça caracterológica ele desenvolve a potência orgástica e fica livre da rigidez neurótica.
       Bioenergia:
Energia Vegetativa ou Biológica que flui quando a couraça é dissolvida.
Fórmula do Orgasmo: tensão mecânica    carga bioenergética     descarga bioenergética    relaxamento mecânico.
       Energia Orgônica:
Energia universal presente em todas as coisas.
A energia orgônica cósmica funciona no organismo vivo como energia biológica específica.
       Dissolvendo a couraça:
Armazenar energia através da respiração profunda.
Atacar a musculatura cronicamente tensa (massagens, pressão, beliscões etc.).
Começar o trabalho pelos olhos e terminar na pélvis.
OLHOS       BOCA       PESCOÇO       TÓRAX     DIAFRAGMA        ABDÔMEM       PÉLVIS

BIBLIOGRAFIA:
 FADIMAN, J e FRAGER, R. Teorias da Personalidade. Harbra. São Paulo. 1979.






CARL JUNG - A Psicologia Analítica

BIOGRAFIA
       Suiça, 26/07/1875
       Em 1900 torna-se interno na Clínica Psiquiátrica Burgholzli em Zurique.
       1904: desenvolve o teste de associação de palavras para auxiliar o diagnóstico.
       1906: inicia a correspondência com Freud que duraria até 1913.
       27/02/1907: encontro com Freud em Viena.
       Em 1912 ele rompe definitivamente com Freud.
       Morreu em 06/06/1961 em Kusnacht, Zurique.
INFLUÊNCIAS
       Psicanálise: sonhos, símbolos, processos inconscientes.
       Literatura e Filosofia:
-          O “Fausto” de Goethe o levou a compreensão do poder do mal e de sua relação com o crescimento e o autoconhecimento.
-          Nietzsche: penetração psicológica, luta pelo poder.
       Alquimia: transformar metais em ouro=metáfora para a mudança da personalidade e consciência.
       Filosofia Oriental:
-          Ioga e Budismo eram procedimentos orientais para a “individuação”.
-          Mandala: simboliza o processo de individuação. O centro representa o self; o diagrama circular representa o equilíbrio e a ordem que se desenvolvem na psique.
PRINCIPAIS CONCEITOS
       As Atitudes: Introversão e Extroversão:
Os introvertidos: concentram-se prioritariamente em seus próprios pensamentos e sentimentos, em seu mundo interior, tendendo à introspecção. O perigo para tais pessoas é imergir de forma demasiada em seu mundo interior, perdendo ou tornando tênue o contato com o ambiente externo.
Os extrovertidos: se envolvem com o mundo externo das pessoas e das coisas. Tendem a ser mais sociais e mais conscientes daquilo que acontece à sua volta. Necessitam se proteger para não serem dominados pelas exterioridades e, ao contrário dos introvertidos, se alienarem de seus próprios processos internos. Algumas vezes esses indivíduos são tão orientados para os outros que podem acabar se apoiando quase exclusivamente nas ideias alheias, ao invés de desenvolverem suas próprias opiniões.
·         Funções Psíquicas
-          Jung identificou quatro funções psicológicas que chamou de fundamentais: pensamento, sentimento, sensação e intuição. E cada uma dessas funções pode ser vivida tanto de maneira introvertida quanto extrovertida.
-          O Pensamento
Jung via o pensamento e o sentimento como maneiras alternativas de elaborar julgamentos e tomar decisões. O Pensamento, por sua vez, está relacionado com a verdade, com julgamentos derivados de critérios impessoais, lógicos e objetivos. As pessoas nas quais predomina a função do Pensamento são chamadas de Reflexivas. Esses tipos reflexivos são grandes planejadores e tendem a se agarrar a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com contraditória evidência.
-          O Sentimento
Tipos sentimentais são orientados para o aspecto emocional da experiência. Eles preferem emoções fortes e intensas ainda que negativas, a experiências apáticas e mornas. A consistência e princípios abstratos são altamente valorizados pela pessoa sentimental. Para ela, tomar decisões deve ser de acordo com julgamentos de valores próprios, como por exemplo, valores do bom ou do mau, do certo ou do errado, agradável ou desagradável, ao invés de julgar em termos de lógica ou eficiência, como faz o reflexivo.
-          A Sensação
Jung classifica a sensação e a intuição juntas, como as formas de apreender informações, diferentemente das formas de tomar decisões. A Sensação se refere a um enfoque na experiência direta, na percepção de detalhes, de fatos concretos. A Sensação reporta-se ao que uma pessoa pode ver, tocar, cheirar. É a experiência concreta e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise da experiência.
-          A Intuição
A intuição é uma forma de processar informações em termos de experiência passada, objetivos futuros e processos inconscientes. As implicações da experiência (o que poderia acontecer, o que é possível) são mais importantes para os intuitivos do que a experiência real por si mesma. Pessoas fortemente intuitivas dão significado às suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos.
       Inconsciente Coletivo:
-          Herança psicológica que se soma à biológica.
-          Inclui material psíquico que não provem da experiência pessoal.
-          Dentro do Inconsciente Coletivo existem, segundo Jung, estruturas psíquicas ou Arquétipos.
       Arquétipos:
-          Arquétipos são formas sem conteúdo próprio que servem para organizar ou canalizar o material psicológico. Eles se parecem um pouco com leitos de rio secos, cuja forma determina as características do rio, porém desde que a água começa a fluir por eles.
-          Jung também chama os Arquétipos de imagens primordiais, porque eles correspondem freqüentemente a temas mitológicos que reaparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diferentes.
-          Jung escreveu que cada uma das principais estruturas da personalidade seriam Arquétipos, incluindo o Ego, a Persona, a Sombra, a Anima (nos homens), o Animus (nas mulheres) e o Self.
       Símbolos:
-          De acordo com Jung, o inconsciente se expressa primariamente através de símbolos. Embora nenhum símbolo concreto possa representar de forma plena um Arquétipo (que é uma forma sem conteúdo específico), quanto mais um símbolo se harmonizar com o material inconsciente organizado ao redor de um Arquétipo, mais ele evocará uma resposta intensa e emocionalmente carregada.
-          Além dos símbolos encontrados em sonhos ou fantasias de um indivíduo, há também símbolos coletivos importantes, que são geralmente imagens religiosas, tais como a cruz, a estrela de seis pontas de David e a roda da vida budista.
       Sonhos:
-          Para Jung, os sonhos desempenham um importante papel complementar ou compensatório. Os sonhos ajudam a equilibrar as influências variadas a que estamos expostos em nossa vida consciente, sendo que tais influências tendem a moldar nosso pensamento de maneiras frequentemente inadequadas à nossa personalidade e individualidade. A função geral dos sonhos, para Jung, é tentar estabelecer a nossa balança psicológica pela produção de um material onírico que reconstitui equilíbrio psíquico total.
-          Para o analista junguiano devemos tratar nossos sonhos não como eventos isolados, mas como comunicações dos contínuos processos inconscientes.
       O Ego:
-          é o centro da consciência e um dos maiores Arquétipos da perso-nalidade. Ele fornece um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes. Ele tende a contrapor-se a qualquer coisa que possa ameaçar esta frágil consistência da consciência e tenta convencer-nos de que sempre devemos planejar e analisar conscientemente nossa experiência. Somos levados a crer que o Ego é o elemento central de toda a psique e chegamos a ignorar sua outra metade, o inconsciente.
-          Persona:
 - inclui nossos papéis sociais, o tipo de roupa que escolhemos para usar e nosso estilo de expressão pessoal. O termo Persona é derivado da palavra latina equivalente a máscara, se refere às máscaras usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam representando. As palavras "pessoa" e "personalidade" também estão relacionadas a este termo.
- Entre os símbolos comumente usados para a Persona, incluem-se os objetos que usamos para nos cobrir (roupas, véus), símbolos de um papel ocupacional (instrumentos, pasta de documentos) e símbolos de status (carro, casa, diploma).
       Anima e Animus :
- estrutura ics que representa a parte sexual oposta de cada indivíduo. Anima (porção do feminino no homem) e Animus (porção do masculino na mulher).
- O pai do sexo oposto ao da criança é uma influência importante nesse desenvolvimento.
       A Sombra:
-          Para Jung, a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da consciência. A Sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais.
-          A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a projetar suas qualidades indesejáveis em outros ou a deixar-se dominar pela Sombra sem o perceber. Quanto mais o material da Sombra tornar-se consciente, menos ele pode dominar.
       Self:
-          Jung chamou o Self de Arquétipo central, Arquétipo da ordem e totalidade da personalidade. Segundo Jung, consciente e inconsciente não estão necessariamente em oposição um ao outro, mas complementam-se mutuamente para formar uma totalidade: o Self.
-          O Self é um fator interno de orientação, muito diferente e até mesmo estranho ao Ego e à consciência. Para Jung, o Self não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o consciente quanto o inconsciente, ele é o centro desta totalidade, tal como o Ego é o centro da consciência

                        Bibliografia: 
FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo, Harper & Row do Brasil, 1979.



  

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ALFRED ADLER

ALFRED ADLER – A Psicologia Individual
Biografia:
  Viena 07/02/1870.
  Quase morreu de pneumonia aos cinco anos.
  Medicina aos 18 anos: oftalmologia e clínica geral.
  Em 1902 entra para o grupo de Freud. Foi o primeiro presidente da SPV.
  Em 1911 rompe com Freud.
  Morre em 1937 aos 67 anos durante conferencias na Escócia.

Antecedentes Intelectuais:
  Teoria da Evolução (Darwin): Adaptação ao meio; luta pela superioridade; cooperação vs competição; a relação entre inferioridades orgânicas e a compensação foi uma aplicação da teoria darwinista à medicina.
  Psicanálise (Freud): relação mãe-filho, desenvolvimento psicológico nos primeiros anos de vida, interpretação de sonhos e sintomas.
  Existencialismo (Nietzsche): equiparação dos instintos agressivos com a “vontade de poder”.
  Ficcionalismo (Hans Vaihinger): Filosofia do “Como Se”; “as pessoas são mais influenciadas pelas suas expectativas em relação ao futuro do que pela sua experiência passada real”.
  Holismo (Jan Smuts): a compreensão de cada pessoa como uma totalidade integrada dentro de um sistema social.

Principais Conceitos:
  Inferioridade e Compensação: A inferioridade orgânica estimula o sujeito a lutar para superá-la. A criança experimenta um “Complexo de Inferioridade” devido ao seu tamanho e falta de poder. Quando moderado, servem de motivação para realizações construtivas.

               Luta pela superioridade:
- Agressividade e luta pelo poder são incentivos para a superação de obstáculos.
- Vontade de poder: manifestação de um motivo mais geral – superioridade ou perfeição.
- “A luta pela perfeição é inata no sentido de que faz parte da vida; uma luta, um impulso, um algo sem o qual a vida seria inimaginável”.
- Positiva: conduz ao interesse pelo bem estar dos outros – preocupações sociais.
- Negativa: fruto de um forte complexo de inferioridade transforma-se em perversão neurótica.
  Objetivos de vida:
- Funciona como centro de realização, e é influenciado pelas experiências pessoais, valores, atitudes e personalidade.
- Não é um alvo conscientemente escolhido, formam-se na infância – como compensação de sentimentos de inferioridade, insegurança e desamparo – e permanecem em geral inconscientes.
- Defesa contra sentimentos de impotência. “uma ponte de um presente insatisfatório para um futuro brilhante (...) e realizador”.

  Estilo de vida:
- É o único caminho que um indivíduo escolhe para buscar seu objetivo. Estilo integrado de adaptação e integração com a vida.
- Problemas psicológicos e emocionais, sintomas e traços são uma expressão do estilo de vida.
- Esquema de apercepção: parte do EV que envolve uma concepção de si mesmo e do mundo. Nosso conceito de mundo determina nosso comportamento.

  Self:
-É o estilo de vida, é a personalidade como um todo integrado.
- É o poder criador do self ou personalidade que guia e dirige a resposta individual ao meio ambiente.
-Indivíduo: unicidade, consciência e controle sobre seu destino.
- “Todo indivíduo (...) é o artista de sua própria personalidade”.

  Interesse Social e Cooperação:
- Senso de solidariedade,  de fraternidade na comunidade.
- Sentimento de afinidade com toda a humanidade.
- Nossa personalidade é socialmente formada.
- Só através da cooperação poderemos superar nosso sentimento de inferioridade.
- Falta de cooperação: raiz do estilo de vida neurótico ou inadaptado.

  Tarefas da Vida:
Trabalho: atividades úteis à comunidade; sentimento de satisfação e automerecimento; aperfeiçoamento e maiores realizações.
Amizade: necessidade de interação e adaptação com outros de nossa espécie 
Amor: envolve uma íntima união de mente e corpo e a máxima cooperação entre duas pessoas de sexos opostos.

  Obstáculos ao crescimento:
Três situações na infância que levam ao isolamento, falta de interesse social e estilo não cooperativo; ou seja, neurose:
       A)     Inferioridade Orgânica: crianças fortemente autocentradas.
       B)      Superproteção: insegurança, mínimo interesse social, exigências unilaterais aos outros.
       C)      Rejeição: dificuldades de amar e cooperar, dureza de caráter, inveja e ódio.


  Bibliografia:
FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo, Harper & Row do Brasil, 1979.











sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Spinoza por Borges

Poema en audio: Spinoza de Jorge Luis Borges por Jorge Luis Borges
CLIQUE NO LINK ACIMA PARA OUVIR
Las traslúcidas manos del judío 
labran en la penumbra los cristales 
y la tarde que muere es miedo y frío. 
(Las tardes a las tardes son iguales.)
Las manos y el espacio de jacinto 
que palidece en el confín del Ghetto 
casi no existen para el hombre quieto 
que está soñando un claro laberinto.
No lo turba la fama, ese reflejo 
de sueños en el sueño de otro espejo, 
ni el temeroso amor de las doncellas.
Libre de la metáfora y del mito 
labra un arduo cristal: el infinito 
mapa de Aquel que es todas Sus estrellas.

terça-feira, 10 de junho de 2014

HOLOCAUSTO BRASILEIRO

O livro da jornalista mineira Daniela Arbex, ganhadora de inúmeros prêmios nacionais e internacionais, e atualmente atuando como repórter especial do jornal Tribuna de Minas, é no mínimo chocante. Trás a tona um período da historia da saúde mental brasileira desconhecido por muitos, pois, se para os que conheciam a triste realidade dos hospícios brasileiros, marcados pela tortura e exclusão, descobrir o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), ou o Colônia, como era chamado, jamais imaginaria que poderia haver algo pior do que o já  existente em termos de hospital psiquiátrico. Nesta verdadeira casa dos horrores, que abriu suas portas em 1903, durante as décadas de 1930 a 1980 contabilizou a morte de 60 mil pessoas em suas dependências. É isso mesmo, em cinquenta anos de funcionamento, 60 mil pacientes internados no Colônia morreram das mais diversas e brutais formas que se possa imaginar, chegando mesmo a haver dias em que morriam mais de quinze internos, em um único dia.

Segundo estimativa feita por pesquisadores, 70% dos atendidos não sofria de transtornos mentais. Eram geralmente indivíduos rejeitados pelo seu meio familiar ou grupo social, tais como homossexuais, negros, pobres, mendigos, alcoolistas, prostitutas, mães solteiras e desafetos de algum poderoso. Houve casos de esposas que foram trocadas por amantes e acabaram internadas lá, mocinhas que perdiam a virgindade também eram comuns, e até casos de alguém incômodo em questões de herança que foram internados por seus familiares. Não havia diagnósticos nem direitos; ao entrar no CHPB o paciente pertencia ao estado de Minas Gerais, perdia sua identidade, suas roupas, sua relação com o mundo de fora, um verdadeiro campo de concentração nazista ou comunista.

Um dos problemas do Colônia era a superlotação, que na década de 1930 contava com 5 mil pacientes num espaço destinado para duzentos, e, como quantidade é sinônimo de lucro, em vez de se reduzir o número de internos, eles aumentaram a área dos leitos retirando as camas substituindo-as por capim, desse modo o espaço ficava maior para acomodar mais e mais pacientes. Essa medida ficou conhecida como “Leito-chão” e passou a ser recomendado para outros hospitais psiquiátricos pelo poder público de Minas Gerais em 1959. A maioria dos pacientes chegavam nos chamados “Trens de doido”, termo cunhado pelo médico e escritor Guimarães Rosa, que no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha” de 1962 retrata bem essas viagens que cortavam o interior do país e terminavam nos fundos do Hospital Colônia. Ao desembarcar do trem os pacientes iam para a triagem onde eram separados por sexo, idade e características físicas. Os homens tinham a cabeça raspada  e todos – homens, mulheres e crianças – eram obrigados a tomar banho coletivo gelado, sem respeito algum pelo pudor que pudessem ter. Aqueles que podiam trabalhar eram recrutados para realizar trabalhos não remunerados no hospital, nas fazendas e na cidade.

A eletroconvulsoterapia era utilizada como forma de tortura ou castigo, mas também era usada para o treinamento das auxiliares de enfermagem, quando pacientes eram escolhidos aleatoriamente e iam para a fila do eletrochoque dado pelas moças aspirantes a uma progressão funcional. Muitos pacientes morreram nesses “treinamentos”, como conta a ex-funcionária Francisca Moreira dos Reis, que após provocar uma morte e presenciar outras tantas pediu dispensa por não suportar mais ver tamanha atrocidade. Lá também se morria de pneumonia, diarreia, fome, sede e frio; a comida era racionada e imunda, os internos bebiam água direto do esgoto, e as baixas temperaturas congelavam os corpos nus. Nesse ambiente que cheirava a fezes e urina, os pacientes que adoeciam eram deixados à própria sorte, esfarrapados e cobertos de moscas esperando a hora da morte. Nos milhares de atestados de óbito pode-se ler “enterite do alienado”, termo criado para tentar explicar a quantidade absurda de mortes por diarreia aguda, e, de quebra eximir-se da culpa pelas condições que geraram a doença.

Nesse ambiente insalubre e assassino, as mortes eram frequentes. Havia dias em que chegavam a morrer 16 pessoas em média por dia; e o destino dos cadáveres eram as salas de anatomia das faculdades de medicina. Entre 1969 e 1980 foram vendidos 1853 corpos para dezessete faculdades espalhadas por todo país. Durante todo inverno, com o aumento do numero de mortes de pacientes, os lucros do hospital dobravam, pois vendiam cada corpo ao equivalente hoje a duzentos ou trezentos reais. Esse comércio incluía ainda a negociação de peças anatômicas, como fígados, corações e esqueletos.
Não se pode afirmar que havia algum tipo de tratamento psiquiátrico ou psicológico no Hospício de Barbacena; afora algumas tentativas isoladas de promover conforto aos pacientes por parte de funcionários ou religiosas mais piedosos, nada era feito para se tratar ou reabilitar os pacientes. O que eles chamavam de tratamento era a tortura do eletrochoque, a lobotomia que transformava homens, mulheres e crianças em vegetais ambulantes, a ducha escocesa (jatos d’água em alta pressão) e banhos gelados na madrugada: em suma, tortura. Como a autora afirma o Colônia “não existia para fins terapêuticos, mas políticos”.

O psiquiatra italiano Franco Basaglia, um dos pais da antipsiquiatria e do movimento de reforma psiquiátrica, esteve no Colônia na década de 1970 e afirmou com convicção: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum lugar do mundo presenciei uma tragédia como essa”. A tragédia acontecida em grande escala no Hospício de Barbacena aconteceu em pequena escala em todos os lugares de nosso país, e em muitos outros, que ainda hoje confundem tortura, isolamento e exclusão com tratamento, e veem a loucura e o louco como um mal que deve antes de tudo ser silenciado e não compreendido.



sábado, 12 de abril de 2014

Marisa Monte - Depois (iTunes Live from São Paulo)

A Cura do Amor...

A revista Isto é dessa semana traz como matéria de capa "O amor pode ter cura", baseada em estudos da neurociência que propõem, entre outras medidas, o uso de remédios "para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria".
Quem nunca sofreu por amor? Desde o sofrimento causado pelos amores obsessivos, que levam os indivíduos a viverem a dor de uma relação a dois em que o desejo de uma experiência simbiótica impraticável dita o ritmo, até aquelas em que é o final do relacionamento, seja por traição ou mesmo quando acaba o sentimento do outro lado, todos já passaram por isso. E, realmente seria ótimo se houvesse uma pílula milagrosa que nos livrasse desse infortúnio.
Entretanto, a pergunta que não quer calar, bem colocada pela autora da matéria é: "seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite?". Para os defensores da ideia da chamada "biotecnologia antiamor" sim. Para Brian Earp, neurocientista da Universidade de Oxford, a neurociência apresenta um novo entendimento do amor, que é dividido em três fases ( Desejo sexual, Atração e Vínculo), com possibilidades de tratamento para qualquer uma das três fases.
Desejo sexual mais atração é igual a Paixão, que evoca pensamentos que em tudo se assemelham ao TOC, logo, drogas que são utilizadas para tratar desse transtorno também serviriam para atenuar os sintomas do amor obsessivo. De quebra, as estruturas cerebrais acionadas nessas duas fases (Desejo + Atração= Paixão) são as mesmas que compõem o "sistema de recompensas", algo semelhante ao que acontece nas dependências químicas e alcoolismo, já que ele é ativado pela sensação de prazer devido a liberação de dopamina; e, segundo Earp, existem teorias sobre a adição "que sugerem que qualquer substância, comportamento ou relacionamento que apresente potencial de recompensa pode desencadear dependência".
E o tratamento como seria? Antidepressivos para reduzir os pensamentos obsessivos e a euforia diante do ser amado; inibidores de testosterona, antiácidos, estatinas e até anti-hipertensivos para diminuir a excitação e o desejo, e Naltrexona (usada no tratamento do alcoolismo e dependência de opióides) para tratar a dependência.
E aí, vai um comprimido ou uma pilulazinha? Ou não seria melhor e mais maduro (excetuando os casos de amores patológicos, obsessões ou psicopatias) até sofrer sua dor dessa perda, viver seu luto, chorar um bocado e finalmente aceitar nossa limitação de que não se pode ter tudo? O outro não tem obrigação de nos amar da forma que nós gostaríamos de ser amados, se ele(a) preferiu outro caminho não foi nossa culpa, foi o desejo dele(a), isso pode doer muito, mas, a vida continua.
Lembrei de uma música cantada por Marisa Monte (vou postar o vídeo lá em cima), em que ela fala sobre o fim de um relacionamento com tanta maturidade ( "depois de aceitarmos os fatos, vou trocar seus retratos por o de outro alguém... Quero que você seja feliz, eu vou ser feliz também... depois") que faz a proposta dos neurocientistas ingleses parecer mais uma daquelas esquisitices de querer medicalizar a vida, como se não se pudesse sofrer, ficar tristes etc... Viva o pharmakon.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Gênese da Personalidade



  • EXEMPLOS DA COMPLEXIDADE ENTRE OS FATORES INATOS E ADQUIRIDOS:

1.      A Identidade Sexual: Para R. J. Stoller, o sexo anatômico deve ser diferenciado do que ele chamou de gênero (convicção da adequação de seu sexo anatômico).
2.      O Nanismo psicossocial: Crianças que apresentam parada total do crescimento devido a problemas relacionais.
 

·         CONTINUIDADE E DIFERENCIAÇÃO:

1.      “A satisfação das necessidades fisiológicas, o próprio fato de sua necessária repetição e apaziguamentos que ela carrega, representa um ponto de apoio (escoramento...) e de ancoragem essencial. (JEAMMET. 2000, 74)”
2.      Continuidade Relacional: o indivíduo se constrói a partir da continuidade de suas relações, onde seu EU se constitui nas respostas e trocas com as figuras dominantes de seu meio. A natureza dessas trocas é sensorial, já que a criança não é capaz ainda de representar mentalmente.
3.      Se o desenvolvimento da personalidade se apóia necessariamente em aprendizados de todos os tipos, práxicos e cognitivos, os mesmos são largamente tributários do clima emocional no qual se desenvolvem e da qualidade das relações da criança com seu meio ambiente”. E afirma que é “essa qualidade que condiciona a facilitação ou o entrave de tais aprendizados” (JEAMMET. 2000, 75)
4.      É necessário no entanto, que existam fatores de descontinuidade para que haja DIFERENCIAÇÕES “indispensáveis ao processo de autonomia progressivo da criança e à constituição da sua identidade (op.cit.75)”.

·         EIXOS DE DESENVOLVIMENTO:

1.      Relacional: é o eixo das RELAÇÕES DE OBJETO, das trocas afetivas entre o bebê e o mundo, particularmente à função materna, para depois se estender a outros objetos.
2.      Autonomia do sujeito: “é feito de tudo o que contribui para reforçar essa autonomia e assegura a diferença entre o indivíduo e os outros”. Paradoxo: “para ser eu (ter uma atitude de acordo com a sua personalidade) e tornar-se autônomo, é preciso aceitar se alimentar de trocas com os outros (op.cit. 76)”.




DAS PRIMEIRAS INTERAÇÕES ENTRE A CRIANÇA E SEU AMBIENTE:
  
1.      Donald Woods WINNICOTT (pediatra e psicanalista, 1896-1971):

 “A tendência hereditária não pode agir sozinha, é o ambiente que facilita o crescimento do indivíduo durante o desenvolvimento do bebê e da criança pequena. No extremo oposto, se disséssemos que ensinamos tudo a nossos filhos, isso seria um patente absurdo. Não somos capazes sequer de ensina-los a andar, mas sua tendência inata para andar numa certa idade necessita de nós.” (1986, p. 249-50. Apud. NASIO, 1995, p. 198).

“O objeto transicional e os fenômenos transicionais trazem a todo ser humano, desde o começo, algo que será sempre importante para ele, a saber, uma área neutra de experiência que não seja contestada.” (op.cit. p. 198).
  O fundamento de uma estrutura psíquica sadia e estável deve ser relacionado, certamente, com a confiabilidade da mãe interna, mas essa própria capacidade é sustentada pelo indivíduo. É verdade que as pessoas passam a vida carregando o refletor em que se apóiam, mas, em algum lugar, no começo, tem que haver um refletor que se sustente sozinho, caso contrário, não há introjeção da confiabilidade.” (op.cit. p. 199.)
“O ser humano, em sua maturidade, não é nem tão gentil nem tão malvado quanto o imaturo. A água dentro do copo é lodosa, mas não é lama.” (op.cit. p. 199)

2.      Jeammet. Reynaud e Consoli:

“O auto-erotismo se alimenta das experiências onde a criança, nas suas trocas com a mãe, retira um prazer que pode torna-las objeto de uma interiorização.” Traços mnemônicos que serão evocados posteriormente.

 “O que vai contar para atenuar a tensão e dar à criança uma segurança interna é reencontrar os traços mnemônicos dessa experiência de satisfação (...) O auto-erotismo consiste, então, num reinvestimento intermitente dos traços mnemônicos da satisfação anterior, reinvestimento tornado independente da expressão da necessidade inicial.”

O principio prazer-desprazer é constitutivo da personalidade em seu desenvolvimento primitivo graças aos traços que se inscrevem como memória.



3. Melanie Klein: O Psiquismo Primitivo da Criança.


·        A primeira defesa imposta pelo ego está em relação com duas fontes de perigo: o próprio sadismo do sujeito e o objeto que é atacado. O objeto atacado se converte em fonte de perigo (Contribuições à Psicanálise. p.296.)
                                      
·        Identificação: surge das tentativas que faz a criança para reencontrar em todos os objetos seus próprios órgãos e funções.

·        Simbolismo: Fundamento de toda sublimação e de todo talento, uma vez que é através da equação simbólica que as coisas, as atividades e os interesses se convertem em tema de fantasias libidinosas. (op.cit p.297)

·        A relação do sujeito com o mundo externo se dá pelo simbolismo.

·        O bebe é incapaz de distinguir o ‘eu’ e o ‘não eu’; suas sensações particulares são o seu mundo, o mundo para ele; assim, quando está com frio, faminto ou solitário, para ele é como se no mundo não existisse mais leite, prazer ou bem-estar. (Amor, Ódio e Reparação p.23)

·        A capacidade de identificação com outra pessoa é o elemento mais importante nos relacionamentos humanos em geral, e também condição para autênticos e fortes sentimentos de amor. (Op.cit.p 105)

·        A mãe é a cena, o lugar dos deslocamentos do sujeito e o receptáculo de um número cada vez mais considerável de objetos.


CONDIÇÕES PARA O PROCESSO DE AUTONOMIA E DIFERENCIAÇÃO.



A qualidade das interações
Afetivas, vai constituir: 
Estabelecimento de Limites


Estabelecimento de investimentos diferenciados
- Os auto-erotismos
O proibido: não se pode fazer tudo
Percepção que se apóia na “repartição diferenciada das Funções e Atitudes”.
- as bases narcísicas
«é porque teremos sabido lhe dizer NÃO que a criança poderá dize-lo à sua volta, tomando então consciência da sua capacidade de existir por ela mesma».
No C. de Édipo, o casal parental permite à criança se situar numa genealogia e na diferença dos sexos.

Evita que a criança se confunda com o mundo adulto.
O fracasso desse sistema de representações, pode ser observado nas Psicoses e Perversões.

O amor está diretamente relacionado ao efeito da proibição.
Pais inseguros usam seus filhos “para negar sua incompletude e suprimir as diferenças, no detrimento do outro pai”.