segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

MARCOS DE FARIAS COSTA

Nasceu em Maceió, é poeta, compositor e psicólogo (apesar de nunca ter exercido a carreira, preferindo optar pela poesia). Fez cursos de tradução e língua alemã. Obra poética: O amador de sonhos (1982), Ócios do ofício (1984), A quadratura do círculo (1991), A comédia de Eros (1997).

A COMÉDIA DE EROS
(poemas galantes)
(Maceió: Edição do Autor, 1997)


JARAGUÁ

Ouvia Jurame,
a caminho da zona;
punham pedra-ume
pra vedar a cona.

Juventude perdida
toda sem firmeza,
por delicadeza
eu perdi a vida.

Em Jaraguá,
bairro das perdidas
fiz amor no mar
por trezentas vidas.

Nos puteiros
e prostíbulos
torrei dinheiro
e testículos.

Pobre juventude
toda arrependida:
gorda cornitude
magra Margarida.


PSIU! ELA ESTÁ GOZANDO

Seu corpo se crispa
seus olhos se nublam
perde o comando:
ela está gozando.

Seus pés se retorcem
seu ventre impa
tem o roso pando:
ela está gozando.

Sua carne arde
sua boca queima
sua voz sem mando:
ela está gozando.

Seus seios suam
suas mãos explodem
o ser em desmando:
ela está gozando.

Súbito, a paz
ilumina o mundo:
ela se refaz
                                                do gozo profundo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Complexo do Alemão!

Depois de tantas reportagens sobre a ação da polícia no conglomerado de favelas cariocas conhecido como "Complexo do Alemão", lembrei-me do velho Analista de Bagé, criação imortal de Veríssimo, que tinha um jeito peculiar - mais grosso que parede de igreja católica - de atender seus pacientes e discorrer sobre a psicanálise. Esse renomado psicanalista gaúcho talvez se referisse assim à essas reportagens: " Bah guri! Para mim, complexo do alemão é aquela sacanagem de filho querer comer a mãe... Barbaridade, tchê! Como esse pessoal da imprensa modifica as coisas tchê!
Mas, complexos à parte, é impressionante constatar o impacto que tais reportagens tiveram sobre a vida das crianças dos outros estados brasileiros. A típica brincadeira de polícia-e-ladrão ganhou entre nossas crianças um cenário mais amplo: meu filho de 7 anos contou-me que durante a brincadeira, o objetivo dos "policiais mirins" era justamente invadir o morro do alemão (salão de festas do condomínio) onde os "bandidos mirins" estavam escondidos com armas poderosíssimas, inclusive armas para derrubar os helicópteros e tanques utilizados na busca. (!)
Crianças de Maceió reinventando a história dos morros cariocas, e que, sem saber, apontam realmente para o Complexo do Alemão - o do Rio de Janeiro e o descrito pelo quase-alemão (a Áustria fazia parte do grande Império Alemão) Sigmund Freud: derrotar o Pai e viver sem limites e sem Lei.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O que é Neurose?

Hoje em dia quase não ouvimos mais falar em NEUROSE. A terminologia proposta pela Associação Psiquiátrica Americana (que influencia os manuais diagnósticos mundo afora) nos empurrou goela abaixo um vocabulário técnico baseado na sintomatologia, que diluiu em transtornos, síndromes e fobias, aquilo que desde Freud se agrupava como sendo a boa(!?) e velha Neurose.
Certamente você já ouviu falar em Transtorno de Ansiedade (com ou sem depressão, generalizada, paroxística etc); ou Transtorno Fóbico (ansioso, social, com ou sem agorafobia etc); ou o clássico Transtorno Obsessivo-compulsivo (com ou sem fobia, depressão etc); ou quem sabe nos Transtornos Conversivos ou Dissociativos (com somatização, epileptiformes, de transe e possessão etc); e, tem ainda os Transtornos Alimentares (anorexia, bulimia etc). E as Síndromes (de pânico, das pernas inquietas etc)?
E o que dizer das dezenas de Fobias (acro, zoo, claustro, tanato, social, agora etc)? E tem também os distúrbios da sexualidade (perversões, disfunções eréteis, orgásticas etc)o que dizer deles?
Pois bem, tirando as perversões, o resto é tudo Neurose. Seja histérica (conversiva ou dissociativa), seja Angústia (ansiedade ou pânico), seja Fobia (qualquer uma delas) ou seja Obsessão-compulsão ( o tal do TOC), é sempre a mesma patologia: Neurose. E proponho uma nova-velha conceituação - pois já foi proposta por outros estudiosos com outras palavras e outro rigor teórico.
Neurose é uma doença que impede o sujeito de sentir prazer na vida cotidiana e normal e executar atividades, desde nas coisas mais simples, como sair de casa para ir trabalhar ou entrar num elevador, até nas mais complexas, como se relacionar com outras pessoas, falar em público e gozar do prazer do sexo.
Em minha experiência clínica tenho acompanhado pessoas que sofrem por não conseguir sair de casa para ir ao trabalho com medo de serem assaltados, ou de morrer ou desmaiar no ônibus; tenho visto gente que pensa em se matar por sentir tanta angústia e medo de que alguma desgraça ocorra com seus familiares; tenho ouvido os medos daqueles que imaginam que seus entes queridos serão acometidos de doenças terminais e se angustiam antevendo os momentos finais de seus filhos, pais e cônjuges; tenho acompanhado as angústias daqueles que não conseguem dirigir seus automóveis ou assinar seu nome em qualquer petição. Tenho ainda acompanhado o terror de alguns diante de uma experiência sexual, pois, ou não respondem ao estímulo ou nada sentem. E ainda há aqueles para quem a vida perdeu o sentido.
Para todos há uma esperança: remédios para os casos mais graves (só para aliviar os sintomas) aliados à psicoterapia, pois sem psicoterapia nada será resolvido, já que não se trata de problema orgânico. E, para todos os casos, psicoterapia, que mesmo sem medicação resolverão o problema, pois é problema de vida, de emoção e de história, e para isso não há droga, a não ser aquelas que entorpecem e causam mais problemas ainda.

Onde encontrar tratamento psicoterápico gratuito em Maceió!

Felizmente o acesso à psicoterapia e a outros tipos de intervenção psicológica gratuitos está ao alcance da população de Maceió já a alguns anos. Entretanto, boa parte da população (principalmente aquela parcela que não frequenta Postos de Saúde)ainda desconhece essa prestação de serviços.
Então, segue abaixo uma relação detalhada dos CAPS e Unidades de Saúde para que você possa fazer uso desse direito... Boa psicoterapia!

RELAÇÃO DOS CAPS E UNIDADES DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ

1. Centros de Atenção Psicossocial – CAPS
• Enfermeira Noraci Pedrosa.
Conj. José da Silva Peixoto, Rua G, Qd. 7, Jacintinho.
Telefone: (82) 33155399
• Dr. Sadi Feitosa de Carvalho.
Av. Dr. Oswaldo Cruz, s/n, Chã de Bebedouro.
Telefone: (82) 33155433
• Dr. Luiz da Rocha Cerqueira.
Conj. José Tenório, s/n, Rua E, Qd. E, Serraria.
Telefone: (82) 33152401
• Dr. Everaldo Moreira (CAPSad Infanto-Juvenil).
Rua Virgínio de Campos, s/n, Farol.
Telefone: (82) 33153075
• Dr. Rostand Silvestre.
Rua José Maia Gomes, s/n, Jatiúca.
Telefone: (82) 33151624

2. Unidades de Saúde
• Riacho Doce.
Telefone: (82) 33155383.
• Francisco de Paula.
Rua Ricardo C. Moraes, 155, Grota do Arroz, Cruz das Almas.
Telefone: (82) 33155376
• David Nasser.
Rua da Igreja, 163, Ipioca.
Telefone: (82) 33155376
• Oswaldo Brandão.
Rua Lafaiete Pacheco, 325, Ponta da Terra.
Telefone: (82) 33155403
• Reginaldo.
Rua Dr. Carlos de Miranda, 96, Reginaldo Baixo.
Telefone: (82) 33155413
• PAM Salgadinho.
Rua Misael Domingues, 241, Poço.
Telefone: (82) 33155288
• PAM Dique Estrada.
Conj. Joaquim Leão, Rua das Flores, s/n, Ponta Grossa.
Telefone: (82) 33155380
• PAM Bebedouro.
Rua Antonio Nunes Leite, 226, Bebedouro.
Telefone: (82) 33155431
• Roland Simon.
Rua Cabo Reis, s/n, Vergel do Lago.
Telefone: (82) 33155353
• São Vicente de Paula.
Rua Natal, Comunidade Planalto, s/n, Pinheiro.
Telefone: (82) 33155437
• Vale da Pitanguinha.
Rua Antonio Nogueira, s/n, Pitanguinha.
Telefone: (82) 33155370/5284
• Edvaldo Silva.
Rua Cel. Othon Bezerra de Melo, 01, Fernão Velho.
Telefone: (82) 33155497
• Dr. José Araújo Silva.
Rua Pr. E. Calheiros, 56, COHAB, Jacintinho.
Telefone: (82) 33155397
• Felício Napoleão.
Rua Luiz Barbosa Rego, 55, Aldeia dos Índios, Cruz das Almas.
Telefone: (82) 33155411
• Dr. Paulo Leal Melo.
Rua Acre, s/n, Feitosa.
Telefone: (82) 33155281
• Associação de Moradores do Conj. José Tenório.
Conj. José Tenório, s/n, Serraria.
Telefone: (82) 33155417
• Graciliano Ramos.
Conj. Graciliano Ramos, creche, s/n, Tabuleiro dos Martins.
Telefone: (82) 33155441
• Cobel II.
Rua da Floresta, 135, Tabuleiro dos Martins.
Telefone: (82) 33155446
• Dr. Djalma Loureiro.
Rua Muniz Falcão, 378, Clima Bom, Tabuleiro dos Martins.
Telefone: (82) 33155488
• José Pimentel.
Rua Adriano V. Castro, s/n, Salvador Lira.
Telefone: (82) 33155442
• Hamilton Falcão
Av. Norma Pimentel, s/n, Benedito Bentes.
• Sônia Born
Rua Corintho da Paz, s/n, lote 17, Tabuleiro dos Martins.
Telefone: (82) 33155387
• CAIC Benedito Bentes.
Rua Benedito Bentes II, s/n.
Telefone: (82) 33155480
• CAIC UFAL.
BR 101, km 14, Campus Universitário, Cidade Universitária/ UFAL.
Telefone: (82) 33155474

sábado, 6 de novembro de 2010

José Angelo Gaiarsa

No dia 16 de outubro faleceu aquele que talvez foi o maior nome da área psi em nosso país. Gaiarsa, trouxe para nosso país Wilhelm Reich, o velho proscrito da Psicanálise, por ter tentado reunir em sua teoria libertária os dois maiores nomes da revolução das ciências humanas: Marx e Freud. Eu tive o prazer de conhecê-lo, de participar de seus workshops, e, de abraçá-lo. Uma vez ele me disse: "Solta esse tórax, e você vai poder sentir o mundo em sua plenitude".

Gaiarsa nasceu em 1920 na cidade de Santo André, região metropolitana de São Paulo. Formado em medicina pela Universidade de São Paulo e especializado em Psiquiatria pela Associação Paulista de Medicina, foi o introdutor das técnicas corporais em psicoterapia no Brasil.

Durante dez anos (de 1983 a 1993), Gaiarsa apresentou o quadro Quebra-Cabeça do Programa Dia-a-Dia, transmitido pela Rede Bandeirantes, em que analisava problemas emocionais contando sempre com a participação dos espectadores.

O mago ainda era especialista em comunicação não verbal. Gaiarsa participou de todas as grandes revoluções do Século 20. A principal delas foi a Revolução Sexual, e inspirado por Reich e Lowen, foi um dos precussores desse movimento libertário em psicologia no Brasil.

Sua produções na área Psicoterapia tem contribuido para a produção científica e para a socialização dos conhecimentos científicos sobre temas como família, sexualidade e relacionamentos amorosos.

Faleceu na capital paulista no dia 16 de outubro de 2010, aos 90 anos de idade, enquanto dormia.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Da Hipnose ao Método Catártico - Uma Introdução à Psicanálise - Parte 2.

Durante todo o tempo em que Freud cursou medicina, e mesmo após a conclusão do curso, a tendência teórica dominante na Medicina alemã era a da "anatomia patológica". De acordo com essa concepção, toda e qualquer patologia deveria apresentar uma lesão anatômica para possuir o status de doença, e, para aquelas enfermidades que contrariavam o postulado básico – ausência de lesão – havia a explicação temporal: se não há lesão anatômica é porque o tempo de duração da doença foi insuficiente para que tal lesão aparecesse.

Na psiquiatria, a corrente patológico-anatômica tinha como principais representantes na época de Freud os célebres Wilhelm Griesinger, professor de psiquiatria da Universidade de Berlim e Theodor Meynert, professor de neuropsiquiatria de Freud na Universidade de Viena e principal opositor das concepções psicológicas explicativas do fenômeno da histeria. Tanto Griesinger quanto Meynert eram categóricos ao afirmar a existência de lesões anatômicas nas doenças mentais, e partilhavam da crença de que a Psiquiatria seria a disciplina médica que se ocupa das doenças do córtex cerebral e de que toda investigação psicopatológica deveria ser feita a partir de fatos anatômicos.
Foi sob essa influência que Freud deu seus primeiros passos na pesquisa médica, tendo como orientador Meynert com quem trabalhou por dois anos (1883-1885) e posteriormente Ernst Brucke, ele produziu uma série de trabalhos cuja ênfase eram estudos anatômicos na área de Neuroanatomia; de acordo com Levin (1980): "Esses trabalhos anatômicos e clínicos foram a base para a nomeação de Freud, em 1885, como Privatdozent".

No entanto, a influência decisiva que conduziria Freud à Psicanálise, foi seu encontro com o eminente médico francês Jean-Martin Charcot, que ao lado de Emil Kraepelin representou a maior oposição que a tendência anátomo-patológica poderia sofrer. Charcot afirmava que o "trabalho da Anatomia estava acabado e ... pode-se afirmar que a teoria das doenças orgânicas do sistema nervoso chegou ao fim", foi com ele que Freud estudou durante aproximadamente seis meses, e, conheceu uma nova explicação para o enigma da histeria bem mais consistente que àquela apresentada pela tradição da anatomia patológica. Em suas aulas na Salpêtrière Charcot defendia a tese de que a conversão histérica estava baseada em modificações fisiológicas do SN: "existia um choque emocional que deixava o indivíduo em um estado hipnóide e a partir daí vinha a lesão funcional ou dinâmica. O trauma induz um estado hipnótico em pessoas que sofrem de disposição histérica e que nesse estado (....) o trauma transmite sugestões ao paciente".

Além de afirmações chocantes, Charcot também utilizava métodos de investigação nada ortodoxos. Na tentativa de provar suas teorias, ele usava a hipnose para criar sintomas histéricos, dirimindo dessa forma, quaisquer dúvidas acerca do papel da sugestão e do estado hipnóide na gênese da sintomatologia histérica. Apesar de criar e de fazer desaparecer temporariamente os sintomas histéricos, Charcot não conseguiu curar nenhum caso de histeria, porém, a impressão que esse grande médico causou em Freud foi suficiente para afastá-lo da anatomia patológica, conforme ele mesmo escreveu em uma carta para sua noiva Martha em 24 de novembro de 1885: "Charcot, que é um dos maiores médicos ... está simplesmente destroçando todos os meus propósitos e opiniões ... Quando me afastar dele, não terei mais desejo algum de continuar a trabalhar em minhas coisas ridículas".

Em 1880, Josef Breuer iniciou o tratamento de uma jovem histérica, filha de um de seus pacientes, que ficou conhecida na literatura psicanalítica como Anna O. Anna sofria de paralisias histéricas, distúrbios visuais, sintomas afásicos, sonambulismo, entre outros sintomas ocasionais de curta duração, tais como hidrofobia e agorafobia. O tratamento foi realizado por Breuer utilizando-se do sonambulismo vespertino da paciente, durante o qual eram feitas sugestões e gradativamente os sintomas iam desaparecendo. A forte transferência erótica de Anna O. levou seu terapeuta a afastar-se definitivamente dela e da histeria; no entanto, estava aberto o caminho para a decifração do inconsciente.

Depois de escutar o relato desse interessante caso clínico, Freud converte-se em discípulo de Breuer, que lhe manda pacientes e ainda lhe paga honorários para que aprofunde a pesquisa sobre o fenômeno da histeria. O fruto dessa colaboração surgiu em l895 sob a forma de um livro: os "Estudos sobre histeria", e com ele, inaugurava-se as bases da teoria psicanalítica, chamada à época de método catártico. Nesse livro, além das considerações teóricas de ambos sobre o mecanismo psicológico da histeria, encontramos também a descrição dos aspectos técnicos do método catártico ilustrados por inúmeros casos clínicos que passaremos a examinar.
...continua.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

SIGMUND FREUD - Uma Introdução à Psicanálise. Parte 1.

Torna-se tarefa quase impossível falar da teoria psicanalítica sem fazer referência à vida de seu criador. Sigismund Schlomo Freud nasceu em Freiberg na Morávia, no dia 6 de maio de 1856, primeiro filho do segundo casamento de Jacob Freud, um comerciante de lãs, com Amália Nathansohn. Ainda na adolescência e por motivos desconhecidos até pelos biógrafos, Freud passa a assinar Sigmund, sem o "is", e a não utilizar o segundo nome, Schlomo, que era uma homenagem ao avô.
Os Freud eram uma típica família judia, que movida por dificuldades financeiras teve que emigrar para centros mais promissores, primeiro para Leipzig e depois para Viena, onde fixaram-se de forma definitiva. A infância de Freud foi marcada pela luta de seu pai para manter uma família extensa (Sigmund, Anna, Rosa, Marie, Adolfine, Pauline e Alexander), e pelo favoritismo declarado de seus pais a esse jovem promissor.

No outono de 1873 Freud ingressa no curso de medicina da Universidade de Viena, e sente na pele o anti-semitismo reinante naquele período. O curso de medicina possuía duração de cinco anos, mas só oito anos depois, em 1881 ele sai da Universidade com seu diploma de médico. Dos anos que passou na Universidade, seis foram dedicados ao trabalho de pesquisa em neurofisiologia no laboratório de Ernst Brucke, que teve um papel importante na criação da psicanálise ao apresentar o jovem Sigmund ao já famoso clínico Josef Breuer.

No ano de 1879, Freud se licencia da Universidade para se dedicar ao serviço militar obrigatório, onde fica até o ano seguinte. Por achar a vida na caserna um tanto tediosa, ele passa seu tempo livre traduzindo para o alemão quatro ensaios das obras reunidas do famoso psicólogo John Stuart Mill. Em abril de 1882, Freud conhece Martha Bernays e rapidamente se apaixona e ficam noivos dois meses depois do primeiro encontro; agora ele tinha um forte motivo para se preocupar com sua situação financeira, pois pretendia casar-se o mais rápido possível.

Apesar de já ter concluído o curso de medicina, Freud permanece trabalhando no laboratório de Brucke; mas, no verão desse mesmo ano, aconselhado por seu mestre, deixa o laboratório e assume um posto não muito importante no Hospital Geral de Viena, onde ficou por três anos trabalhando em várias especialidades médicas. Em maio de 1883, ele foi promovido a "Sekundararzt" e passa a trabalhar na clínica psiquiátrica dirigida por Theodor Meynert, com quem anos mais tarde viria a ter problemas por causa da histeria e da hipnose.

No início de 1884, Freud dedicou-se ao estudo das propriedades anestésicas da cocaína, e, em junho desse mesmo ano, concluiu um artigo técnico intitulado "Sobre a Coca". Entretanto suas pesquisas lhe trouxeram mais aborrecimentos que dinheiro e sucesso - que era o que ele esperava conseguir. A glória pela descoberta do uso da coca como anestésico local em pequenas ciriurgias coube a Carl Koller, que aproveitando-se da ausência de Freud - que viajara para encontrar-se com sua noiva - apresentou um trabalho sobre coca no congresso oftalmológico de Heidelberg que estava totalmente baseado nas pesquisas realizadas por Freud.

Em meados de outubro de 1885, Freud chega a Paris para estudar com o célebre médico Jean-Martin Charcot, que entre outras coisas, teve o mérito de demonstrar que a histeria não era fruto de lesões orgânicas - tal como era postulada por Meynert e por toda tradição médica alemã. Charcot foi ainda mais longe ao afirmar que a histeria não era uma doença exclusiva das mulheres (histeron= útero); e mais ousado, quando resgata a hipnose das mãos dos mágicos e curandeiros "para aplicá-la de modo conseqüente no tratamento de doenças mentais" (Peter Gay, p.61). No entanto, o interesse de Charcot pela histeria não foi suficiente para que ele se preocupasse em procurar um modo de tratar o distúrbio; a hipnose, tal como utilizada por ele, não representava propriamente uma modalidade de tratamento. Segundo Maud Manoni, Charcot estava tão absorvido pela observação científica que não deu importância à vida infantil dos pacientes, nem a relação que se estabelecia entre estes e o médico, impedindo assim quaisquer possibilidades de se chegar à cura da histeria. Malgrado toda admiração que Freud sentia por Charcot, ele não estava muito satisfeito com a explicação dada pelo médico francês sobre a natureza da hipnose, pois, para Charcot o estado hipnótico só poderia ser provocado em histéricos. Adotando postura contrária à tese defendida por Charcot, a Escola de Nancy - representada por Liébault e Bernheim - afirmava que a hipnose era apenas uma questão de sugestão, Freud achava esse ponto de vista mais coerente.
... continua.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Psicologia

A Psicologia é a ciência da alma.
Mas será mesmo ciência? E o que será a tal alma?
No velho pragmatismo estadunidense é ciência do comportamento. É isso que nos ensina o velho-atual-e-bom Behaviorismo.
É a expressão-compreensão do vivido, do existencial, do ser-no-mundo, do organísmico. É o que prega a tendência fenomenológica-existencial em suas maravilhosas elucubrações.
É a conjugação de fatores inconscientes e vivências infantis, de ditos e não ditos ou de mal-ditos como pregava Freud - o grande mestre da alma humana.
A ciência médica pegou carona e criou especialidade - a psiquiatria - para medicar a alma doente. Será culpa da dopamina, endorfina ou da serotonina?
Para entender de Psicologia a melhor escola se aproxima justamente daquilo que menos se imaginava, porém, Freud já advertia - a Literatura.
Aprendemos com os poetas, sobre a dor e o amor, sobre a superação e a criação, sobre a vida e a morte, e as angústias e ansiedades sobre a difícil arte de viver bem.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Rubem Alves - Saúde Mental

"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."
In: "Sobre o tempo e a eternidade" Campinas: Ed. Papirus, 1996.

Para saber mais:
A casa de Rubem Alves
www.releituras.com/rubemalves_menu.asp

sábado, 19 de junho de 2010

Alduísio Moreira de Souza

"Memórias quase esquecidas", obra em 3 volumes do psicanalista mineiro Alduísio Moreira de Souza, é um relato dramático do percurso de um homem em busca de sua verdade e de seu lugar no mundo. Da infância cheia de aventuras míticas e amores encantados de criança na Fazenda Velha de Baixo; passando pela militância de esquerda e do Movimento Estudantil, que culminou em prisão, torturas, mortes de amigos e exílio; até os anos intensos de seu exílio na França, marcado pela descoberta da Psicanálise e (re)descoberta do auto-hetero-erotismo no corpo de belas mulheres e retomada do corpo próprio - quase desmontado, desconstruído pelo sadismo dos porões da ditadura militar brasileira. E depois a volta do outro lado do rio que não se avista a outra banda, pra banda de cá.
Trata-se de uma grande história de amor (almor) em suas múltiplas formas: o amor romântico-sensual(d'aqueles olhos ausentes/presentes nas mulheres),  as amizades (Diaraque/Pai/Avô/Camaradas), e, o desejo de saber (epistemofilia sempre presente de Dona Zazica a Jacques Lacan).
"A vida para mim, só tem sentido para além do viver se tenho uma paixão. Pode ser a própria vida. Mas é uma paixão que implica movimento. Tanto do corpo quanto do pensamento".
O estilo de Alduísio nos remete aos grandes contadores de história da nossa Literatura que fizeram de suas terras personagens (a fazenda, o sertão, as matas, os rios, a fauna e a flora) que dialogam com as outras personagens humanas e animais. A Fazenda Velha de Baixo, Paris, Brasilía, Roma e Normandia ficam tão próximas, tão familiares... Distância? Nada é longe ou perto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago


Na ilha por vezes habitada



Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.

Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites.

Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

Morreu hoje em sua ilha espanhola de autoexílio o escritor-poeta da prosa certeira José Saramago, único escritor de língua portuguesa a receber o Nobel de Literatura. E, como sempre se diz quando morre um artista, que sua obra lhe confere a imortalidade, deixemos que ele mesmo defina o que entende por imortalidade:
“Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala.”

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mário Quintana

POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
 
POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A FUNÇÃO PATERNA NA PSICANÁLISE (esquema de aula).

1. É necessário que haja um homem para que haja um pai?

• A função paterna é estruturalmente identificada à função fálica.

• Complexo Paterno: sentimentos contraditórios (amor-ódio) da criança em relação ao pai CULPABILIDADE DÍVIDA (que só será apagada honrando-o simbolicamente – obediência).

• É apenas quando investido simbolicamente de possuir o atributo fálico que um homem (pai Real) se faz reconhecer como Pai (simbólico).

• Então, todo terceiro elemento que – sendo atribuído do objeto fálico – responda a esta função como mediador dos desejos da mãe e do filho, institui a proibição do incesto.

• Logo, não é preciso que haja um homem para que haja um pai.


2. Pai Real, Pai Simbólico e Pai Imaginário:

• O pai não é um objeto real; é uma metáfora (um significante que vem no lugar de um outro).

• No Complexo de Édipo o PAI REAL (um estranho na relação mãe-criança) entra em cena (priva, interdita e frustra) e passa a ser PAI IMAGINÁRIO (pois detém o direito sobre a mãe). Quando a mãe reconhece a Lei-do-pai, ele passa a ser investido como aquele que tem o falo, portanto, PAI SIMBÓLICO.

• O pai: causa das ausências da mãe. Nome-do-pai = FALO.

• Basta que o nome-do-pai seja convocado pelo discurso materno para que a função mediadora do PAI SIMBÓLICO seja estruturante. Mas é necessário ainda que este significante – nome-do-pai – seja explicitamente, e sem ambigüidades, referido à existência de um terceiro, marcado em sua diferença sexual.

3. A Função Paterna e seus avatares:

• Sob certos aspectos, todos os avatares da função paterna permanecem, portanto, suspensos no destino que é reservado ao significante da falta no Outro (castração). O desejo da criança encontra aí, a lei do desejo do outro (Pai).
3.1. Função Paterna e Perversão:

1. O pai deve aparecer como possuidor do objeto que a mãe deseja.
2. A mãe deve se significar como FALTOSA, não satisfeita pela criança.
3. Caso não ocorra, devido a um apelo sedutor e/ou cumplicidade libidinal da mãe, ou complacência silenciosa do pai.
4. O resultado: A criança ficará presa na fronteira do SER e do TER (o falo), e, o PAI SIMBÓLICO não será reconhecido, será contestado (desafio e transgressão). EIS A PERVERSÃO!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cecília Meireles

Mulher ao espelho

Cecília Meireles
Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Donald Woods Winnicott

Donald Woods Winnicott nasceu em sete de abril de 1896, em Plymouth na Inglaterra. Filho de John Frederick Winnicott e Elizabeth Martha Woods Winnicott. Morreu em 28 de janeiro de 1971, após o último de uma série de ataques de coração e foi cremado em Londres.

Em 1923, começa a ocupar o cargo de médico-pediatra no hospital Paddington Green Children, em Londres. Neste mesmo ano, começou sua análise com James Strachey, tradutor das obras completas de Sigmund Freud para o idioma inglês.

Em 1927, Winnicott começa sua formação analítica na Sociedade Psicanalítica Britânica. Em 1934, concluía sua formação como analista de adultos e em 1935, como analista de crianças, sendo considerado, por três décadas, um fenômeno isolado, pois nenhum outro analista era pediatra. Quando terminou a Segunda Guerra, Winnicott foi nomeado Diretor do Departamento Infantil do Instituto Psicanalítico da Sociedade Britânica, cargo no qual se manteve por 25 anos. Foi ainda, por dois mandatos consecutivos, Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise.

A partir de 1936, Winnicott começou a ministrar um curso regular sobre crescimento e desenvolvimento humano para professores do Instituto de Educação de Londres, a convite de uma amiga pessoal e colega, a Dra. Susan Isaacs. Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein.

Winnicott tinha uma boa reputação como conferencista, e a BBC convidou-o a falar para pais e mães pelo rádio. Entre 1939 e 1962, ele participou de cerca de cinqüenta programas sobre uma enorme gama de assuntos, que variaram desde “a contribuição do pai”, “o filho único”, “a importância de visitar as crianças no hospital”, e “a dinâmica da adoção”, até “a psicologia dos pais adotivos”, “o significado do ciúme” e “as vicissitudes da culpa”.

Em 1953, Winnicott foi presidente do comitê de investigações da Associação Psicanalítica Internacional, que investigou a prática clínica de Jacques Lacan. Ele e a comissão designada, entrevistaram diversos membros da instituição de Lacan, a Société Française de Psychanalyse, assim como membros da clássica Société Psychanalytique de Paris, que alegavam que Lacan conduzia sessões de psicanálise mais curtas.

Obra de Wimmicott em português:

A classificação das obras de Winnicottt (ano e letra) segue a estabelecida por Knud Hjulmand. Foi acrescentada também a classificação estabelecida por Harry Karnac (W!, W2 ...W21) e os respectivos livros na sua primeira edição, tanto em português quanto no original.


• 1958a: Da pediatria à psicanálise. Trad. de Jane Russo. Rio de Janeiro. Francisco Alves, 1978. Da pediatria à psicanálise. Trad. de Davy Litman Bogomoletz. Rio de Janeiro, Imago, 2000. W6 - Collected Papers: Through Paediatrics to Psycho-Analysis. London, Tavistock ,1958.

• 1964a: A criança e seu mundo. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1985. W7 - The Child, the Family, and the Outside World. Harmondsworth, Penguin Books, 1964.

• 1965a: A família e o desenvolvimento individual. Trad. de Marcelo Brandão Cipola. São Paulo, Martins Fontes, 1983. W8 – The Family and Individual Development. London, Tavistock Publications, 1965.

• 1965b: O ambiente e os processos de maturação. Trad. de Irineu Constantino Schuch Ortiz. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983. W9 - The Maturational Processes and the Facilitating Environment. London, Hogarth 1965.

• 1971a: O brincar e a realidade. Trad. de José Octávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro, Imago, 1975. W10 - Playing and Reality. London, Tavistock, 1971.

• 1971b: Consultas terapêuticas em psiquiatria Infantil. Trad. de Joseti Marques Xisto Cunha. Rio de Janeiro, Imago, 1984. W11 - Therapeutic Consultations in Child Psychiatry. London, Hogarth, 1971.

• 1977: The Piggle: o relato do tratamento psicanalítico de uma menina. Trad. de Else Pires Vieira e Rosa de Lima Martins. Rio de Janeiro, Imago, 1979. W12 - The Piggle. An Account of the Psycho-Analytic Treatment of a Little Girl. Ed. I.Ramzy. London, Hogarth 1977.

• 1984a: Privação e delinquência. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo, Martins Fontes, 1987. W13 – Deprivation and Delinquency. Eds. C.Winnicott/R.Shepherd/M.Davis. London, Tavistock, 1984.

• 1986a: Holding e interpretação. Trad. de Sónia Maria Tavares Monteiro de Barros. São Paulo, Martins Fontes, 1991. W15 - Holding and Interpretation. Fragment of an Analysis. London, Hogarth, 1986.

• 1986b: Tudo começa em casa. Trad. de Paulo Sandler. São Paulo, Martins Fontes, 1989. W14 - Home Is Where We Start From. Eds. C.Winnicott/R.Shepherd/M.Davis. Harmondsworth, Penguin 1986.

• 1987a: Os bebés e suas mães. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1988. W16 - Babies and their Mothers. Eds. C.Winnicott/R.Shepherd/M.Davis. Reading, Mass., Addison-Wesley, 1987.

• 1987b: O gesto espontâneo. Trad. de Luis Carlos Borges. São Paulo, Martins Fontes, 1990. W17 - The Spontaneous Gesture, Selected Letters. Ed. F.R.Rodman. Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1987.

• 1988: Natureza humana. Trad.de Davi Litman Bogomoletz. Rio de Janeiro, Imago, 1990. W18 - Human Nature. Eds. C.Bollas/M.Davis/R.Shepherd. London, Free Association, 1988.

• 1989a: Explorações psicanalíticas. Trad.de José Octávio de Aguiar Abreu. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. W19 - Psycho-Analytic Explorations. Eds C.Winnicott/R.Shepherd/M.Davis. Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1989.

• 1993a: Conversando sobre crianças [com os pais]. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo, Martins Fontes, 1993. W20 - Talking to Parents, eds. C.Winnicott/C.Bollas/M.Davis/R.Shepherd. Reading, Massachusetts, Addison-Wesley, 1993.

• 1996a: Pensando sobre crianças. Trad. de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. W21 - Thinking About Children, eds. R.Shepherd/J.Johns/H.T.Robinson. London, Karnac Books, 1996.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Daniel Paul Schreber - Memórias de um doente dos nervos.

Daniel Paul Schreber (25 de julho de 1842 - 14 de Abril de 1911) foi um juiz alemão que entraria para a história, não por suas realizações no campo jurídico, mas pela descrição detalhada da patologia que apresentava, diagnosticada na época como demência precoce. Ele descreveu a segunda fase de sua doença mental (1893-1902), fazendo também uma breve referência à primeira fase (1884-1885) em seu livro "Memórias de um doente dos Nervos ( em alemão Denkwürdigkeiten eines Nervenkranken). O livro se tornou um dos mais influentes na história da psicanálise, graças à análise feita por Freud. Não há um relato pessoal da terceira fase da doença (1907-1911), mas alguns detalhes sobre o assunto podem ser encontradas no Hospital Chart (em apêndice ao livro Lothane's). Durante sua doença foi tratado pelo Prof. Paul Flechsig (Leipzig University Clinic), o Dr. Pierson (Lindenhof) e Dr. Guido Weber (Royal Pública Asilo, Sonnenstein).
Daniel Paul Schreber provinha de uma família de burgueses protestantes, abastados e cultos, que já no século XVIII buscavam a celebridade através do trabalho intelectual. Muitos de seus antepassados deixaram obra escrita sobre Direito, Economia, Pedagogia e Ciências Naturais, onde são recorrentes as preocupações com a moralidade e o bem da humanidade. Os livros de seu bisavô tinham por lema a frase "Escrevemos para a posteridade". Seu pai, Daniel Gottlieb Moritz Schreber (1808-1861), era médico ortopedista e pedagogo, autor de cerca de vinte livros sobre ginástica, higiene e educação das crianças. Pregava uma doutrina educacional rígida e implacavelmente moralista, que objetivava exercer um controle completo sobre todos os aspectos da vida, desde os hábitos de alimentação até a vida espiritual do futuro cidadão. Acreditava que seu trabalho contribuiria para aperfeiçoar a obra de Deus e a sociedade humana.

Excertos da Obra
> Considerando que tomei a decisão de, em um futuro próximo, solicitar minha saída do sanatório para voltar a viver entre pessoas civilizadas e na comunhão do lar com minha esposa, torna-se necessário fornecer às pessoas que vão constituir meu círculo de relações ao menos uma noção aproximada de minhas concepções religiosas, para que elas possam, se não compreender plenamente as aparentes estranhezas de minha conduta, ter ao menos uma idéia da necessidade que me impõe tais estranhezas.
> Minha mente é tão clara quanto a de qualquer outra pessoa. (....) pretendo que me sejam reconhecidas duas capacidades: por um lado, um inquebrantável amor à verdade, e por outro um dom de observação fora do comum.
> Uma vez tive uma sensação que me perturbou da maneira mais estranha quando pensei nela depois em estado de vigília. Era a idéia de que deveria ser realmente belo ser uma mulher se submetendo ao coito. Essa idéia era tão alheia a todo o meu modo de sentir que, permito-me afirmar, em plena consciência eu a teria rejeitado com tal indignação que de fato, depois de tudo o que vivi nesse ínterim, não posso afastar a possibilidade de que ela me tenha sido inspirada por influência de forças exteriores.
> “Os homúnculos que se ocupavam de abrir e fechar os olhos ficavam em cima dos olhos, nos supercílios e de lá puxavam as pálpebras para cima e para baixo, a seu bel-prazer, servindo-se de fios muito finos, semelhantes a fios de teia de aranha. (...) Quando às vezes eu não queria permitir este levantar e abaixar de minhas pálpebras, e reagia contra isto, esta atitude provocava a indignação dos "homúnculos" (...) Quando às vezes eu tentava limpá-los de meus olhos com uma esponja, isto era considerado pelos raios como uma espécie de crime contra o poder milagroso de Deus”.

Freud e a Paranóia
“E o paranóico constrói de novo o mundo não mais esplêndido, é verdade, mas pelo menos de maneira a poder viver nele mais uma vez. Constrói com o trabalho de seu delírio, esta formação delirante que presumimos ser o produto patológico, é, na realidade uma tentativa de restabelecimento, um processo de reconstrução. Tal reconstrução após uma catástrofe é bem sucedida em maior ou menor grau, mas nunca inteiramente. Nas palavras de Schreber, houve uma grande mudança interna no mundo. Mas o indivíduo recapturou uma relação e freqüentemente uma relação muito intensa, com as pessoas e as coisas do mundo, ainda que esta seja agora hostil, onde anteriormente fora esperançosamente afetuosa.” (Freud, 1911)

Para saber mais
Freud, S. (1987). Edição Standard brasileira das Obras psicológicas completas de S. F. Rio de Janeiro: Imago. “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides)” (1911c).
Lacan, J. (1959/1998). “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Em Escritos (pp.537-590). Rio de Janeiro: J. Zahar.
Lacan, J. (1985) O seminário: livro 3: [as psicoses 1955-1956]. Rio de Janeiro: J. Zahar.
Mannoni, O. (1973). Chaves para o imaginário. Petrópolis: Vozes.
Melman, C. (2006) Retorno a Schreber. Porto Alegre: CMC Editora.
Niederland, W. G. (1981). O caso Schreber: um perfil psicanalítico de uma personalidade paranóide. Rio de Janeiro: Campus.
Santner, E. L. (1997). A Alemanha de Schreber. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Schreber, D. P. (2006). Memórias de um doente dos nervos. Tradução e introdução de Marilene Carone. 3.e.d São Paulo: Paz e Terra.
Na web: http://www6.ufrgs.br/psicopatologia/schreber/index.html

MELANIE KLEIN - A açougueira inspirada!


> 30 de março de 1882, nasceu em Viena Melanie née Reizes (1882-1960), futura Melanie Klein, psicanalista britânica de origem austríaca. Seu pai, Moritz Reizes, era um médico judeu polonês, originário de Lemberg, na Galícia, que se tornou clínico geral graças a uma ruptura com pais tradicionalistas. Sua mãe Libussa Klein, judia eslovaca brilhante e dominadora, dedica-se, por necessidades familiares ao comércio de plantas e répteis. Foi a quarta entre os filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreria em sua vida particular as intrusões de sua mãe, personalidade tirânica, possessiva e destruidora.
> A juventude de Melanie foi marcada por uma série de lutos.Tinha quatro anos quando sua irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de 8 anos; tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, morreu, deixando-a com a mãe; tinha 20 quando seu irmão Emmanuel, morreu esgotado pela doença, pelas drogas e pelo desespero.
> Melanie estudou de início arte e história na Universidade de Viena, porém as dificuldades econômicas que se seguiram à morte do pai parecem ter sido a causa de sua renúncia aos estudos de medicina, que ela decidira empreender com o objetivo de ser psiquiatra.
> Em 1903, casa-se com Arthur Klein, engenheiro químico de caráter sombrio, que ela conhecera dois anos antes, e, do qual se divorciaria em 1926.
> Em 1914 faz sua primeira leitura de um texto de Sigmund Freud, “Sobre os sonhos”, e dá início a sua análise com Sandor Ferenczi. Essa análise foi interrompida devido à guerra. Ela recomeça, em 1924, mas em Berlim, com K.Abraham, que morreria no ano seguinte. A análise é concluída em Londres, com S.Payne.
> Em 1920, ela participou em Haia do Congresso Internacional da IPA. Ali, encontrou Hermine von Hug-Hellmuth e principalmente, graças à recomendação de Ferenczi, Karl Abraham. Este acabava de fundar, com a ajuda de Max Eitingon, a famosa policlínica do Berliner Psychoanalytisches Institut (BPI), onde eram acolhidos muitos pacientes traumatizados pela guerra. Atraída pela personalidade de Abraham e pela vitalidade do grupo de analistas que o cercava, Melanie Klein se instalou, em 1921, na capital alemã. Um ano depois, tornou-se membro da Deutsche Psychoanalytische Gesellschaft (DPG) e, em setembro de 1922, assistiu ao VII Congresso da IPA, durante o qual participou das primeiras discussões sobre a questão da sexualidade feminina, depois da contestação das teses freudianas por Karen Horney.
> Em 17 de dezembro de 1924, Melanie foi a Viena para fazer uma comunicação sobre a psicanálise de crianças na Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV), e nessa ocasião confrontou-se diretamente com Anna Freud. O debate estava então aberto, e trataria do que “devia” ser a psicanálise de crianças: uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia (posição defendida por Anna Freud) ou a oportunidade de uma exploração psicanalítica do funcionamento psíquico desde o nascimento (como queria Melanie Klein)?
> Em setembro de 1927, durante o X Congresso Internacional em Innsbruck, o conflito se ampliou: Klein apresentou uma comunicação, “Os estádios precoces do conflito edipiano”, na qual expunha explicitamente suas discordâncias com Freud sobre a datação do complexo de Édipo, sobre seus elementos constitutivos e sobre o desenvolvimento psicossexual diferenciado dos meninos e das meninas. Em outubro de 1927, apoiada pela renovada confiança de Jones, Melanie foi eleita para a BPS.
> Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de quatro anos, filha de um dos seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se interessava pelos brinquedos. Para entrar em contato com ele, colocou dois trenzinhos lado a lado e designou o maior como “trem papai” e o menor como “trem Dick”. Dick fez o tem com o seu nome andar e disse a Melanie: “Corta!”. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino guardou então o brinquedo quebrado em uma gaveta, exclamando : “Acabou!”. A história desse caso se tornaria célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos filhos o amor que esperam deles.
> Em 1932, Melanie Klein publicou sua primeira obra síntese, “A psicanálise de crianças”, na qual expunha a estrutura de seus futuros desenvolvimentos teóricos, sobretudo o conceito de posição (posição esquizo-paranóide/posição depressiva), assim como sua concepção ampliada da pulsão de morte.
> Começam os conflitos com sua filha Melitta Schmideberg, casada com Walter Schmideberg, amigo da família Freud e de Ferenczi, que tornou-se analista. Sem perceber, Melanie repetiu com sua filha o comportamento que Libussa tivera com ela. Foi por ocasião de uma retomada da análise com Edward Glover que Melitta se afastou de Melanie.
> A partir de 1933, Melanie Klein, que sofria os ataques incessantes de Glover e de Melitta, via com terror a chegada a Londres dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo. Confidenciou a Donald Woods Winnicott que pressentia, na instalação desses refugiados que lhe eram na maioria hostis, a iminência de um “desastre”. Alguns meses depois da chegada dos Freud a Londres, as hostilidades irromperam efetivamente
> Nunca tendo se reconciliado com sua filha Melitta, deixando inacabada uma autobiografia parcelar e seletiva, Melanie Klein morreu de câncer do cólon em Londres, a 22 de setembro de 1960.
> Virginia Woolf deixou em seu “Diário” um retrato de Melanie Klein que permite entrever sua força, de outro modo silenciosa e invisível: ela era “uma mulher de caráter, com uma espécie de força meio oculta - como direi ?-, não uma astúcia, mas uma sutileza, alguma coisa trabalhando por baixo. Uma tração, uma torsão, como uma vaga sísmica: ameaçadora. Uma mulher encanecida e brusca, com grandes olhos claros e imaginativos”.
> Maiores informações na web: http://psicanalisekleiniana.vilabol.uol.com.br/

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Françoise Dolto

Françoise Dolto nasceu em 1908 na França, e destacou-se como pioneira no tratamento psicanalítico de crianças. Formada em medicina, especializou-se em pediatria, e após uma análise que teve a duração de três anos com René Laforgue, decidiu-se pela Psicanálise em 1939.
Como psicanalista foi a principal divulgadora da "ciência freudiana" nos meios populares da França através de programas de rádio.
Fez parte do grupo liderado por Lacan quando do rompimento com a IPA e participou da criação da Escola Freudiana de Paris.
Em 1979 criou a "Casa Verde", um espaço para promover o crescimento saudável de "crianças problemáticas" e suas famílias. Ela definia esse lugar como um "lugar de encontro entre as crianças e seus pais", extendendo-o para avós e babás. Sua forma original de abordar a criança ainda hoje exerce influência em todos os que trabalham com psicanálise de crianças em todo o mundo.
Morreu em 25 de agosto de 1988 em Paris.

Principais Obras:
Psicanálise e pediatria.
O Caso Dominique.
Dificuldade de viver.
A imagem inconsciente do corpo.
Seminários de Psicanálise de crianças.
Quando os pais se separam.
A sexualidade feminina.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Bernard Shawn

Viveu entre 1856 e 1950, foi dramaturgo e escritor, nascido na Irlanda, teve entre seus escritos mais famosos entre nós a peça "Pigmaleão". Não foi psicanalista, não era psicólogo, mas entendia da alma humana como poucos. Seus aforismos, tirados de seus romances e peças, mostram uma sabedoria que vem de sacadas fenomenais de seu vivido. Vamos a algumas delas:
1. Usamos os espelhos para ver o rosto, a arte para ver a alma.
2. A grandeza nada mais é que uma das sensações da pequenês.
3. O homem sensato se adapta ao mundo, o insensato insiste em adapatar o mundo a ele. Todo o progresso, depende, portanto, do homem insensato.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Maud Mannoni


Nasceu Magdalena von der Spoel, em Kortrijk, Bélgica, no dia 22 de outubro de 1923.
Passou a infância em Colombo, no Ceilão, onde seu pai era Cônsul Geral da Holanda. Sua experiência com vários idiomas (Francês, inglês, cingalês e holandês) a fez questionar acerca da possibilidade de reconstrução da linguagem perdida na infância.
Estudou criminologia em Bruxelas, e ao trabalhar em um hospital psiquiátrico com jovens psicóticos, interessou-se pela Psicanálise e fez sua primeira análise didática com o fundador da Associação Psicanalítica da Bélgica, Maurice Dugautiez.
Em 1948 vai a Paris e inicia seu trabalho em psicanálise da criança no Hospital Trousseau, ao lado de Françoise Dolto. Nesse mesmo ano se casa com Octave Mannoni, analisante de Lacan e ativista político que lutava contra o colonialismo imperialista francês.
Em 1950 conhece Jacques Lacan e inicia sua segunda análise didática, passando a fazer parte da École Freudienne de Paris (EFP).
Durante uma temporada na Inglaterra Maud integra em seu trabalho as contribuições de Melanie Klein e Donald Winnicott, além da antipsiquiatria de Ronald Laing.
Morre em 15 de março de 1998, em Paris, deixando valiosa contribuição à psicanálise da criança e a teoria e técnica psicanalítica.
Principais Obras:
A primeira entrevista em psicanálise.
O nomeável e o inominável.
A criança retardada e sua mãe.
Um saber que não se sabe.
O psiquiatra, seu louco e a Psicanálise.
O sintoma e o saber.