quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A medicalização da vida: o perigo dos psicofármacos



O que está acontecendo para que se use tanto medicamento?
          Aumentou a quantidade ou a manifestação de quadros doentios?
          Temos mais medicamentos disponíveis, logo, porque não usá-los?
          Aumentou a compulsão da população pelos medicamentos?
          Os médicos sentem necessidade de prescreve-los?
          Existe algum interesse político ou financeiro por trás disso?

A onda do Bem-Estar (compra-se na farmácia)
          Crianças agitadas, “danadas”, “respondonas”, desligadas e/ou irrequietas
          Menopausa; disfunções sexuais do envelhecimento, perturbação disfórica pré-menstrual, depressão de inverno
          Luto, tristeza, dificuldade de falar em público, medo de avião etc. 
          Métrica dos sentimentos – uniformização. “ sentimentos como: tristeza, alegria e medo, passaram a ter uma medida tal, que se ultrapassarem certa métrica, considerada como a mesma para uma população, serão transformados de sentimentos legítimos em diagnósticos patológicos”.

Epidemia de Diagnósticos
       TDAH (F90.2 ou 314.01)
       TOD (F91.3 ou 313.81)
       T.de Luto Complexo Persistente
       T. do Jogo pela Internet

Uma indústria em expansão (a indústria farmacêutica é a segunda em faturamento no mundo, perdendo apenas para a indústria bélica).
       Entre 2004 à 2014: Consumo aumentou em 775%
       Entre 2009 à 2011: Aumentou 74,8% em crianças de 6 a 16 anos.
       2011 à Gasto de R$ 28,5 milhões em Ritalina pelas famílias brasileiras
       2009 à 2011: Consumo em SP aumentou 1.579,71%
       Vendas caem nos meses de férias, aumentam na “Volta as aulas”.
       Rivotril (clonazepan): 2004 (400 mil caixas) – 2013 (5,7 milhões de caixas).

O Mito do Desequilíbrio Químico do Cérebro e os Transtornos Mentais
       O diretor do Instituto de Saúde Mental americano (National Institute of Mental Health - NIMH), Thomas Insel, já declarou que "as noções iniciais de que transtornos mentais são desequilíbrios químicos estão começando a ficar antiquadas". Isso foi em 2011.
       O psiquiatra e pesquisador de Standford, David Burns, já havia revelado que mesmo tendo dedicado anos de sua carreira à pesquisa do metabolismo da serotonina no cérebro, ele nunca havia se deparado com "nenhuma evidência convincente de que algum transtorno psiquiátrico, incluindo depressão, seja ocasionado por uma deficiência de serotonina no cérebro".
       A certeza de que "produzem pouca serotonina" leva muitas pessoas a acreditar na cura milagrosa das drogas até no caso de depressão leve e moderada - em que esses medicamentos têm resultados comprovadamente iguais aos de placebos.
       O raciocínio é o seguinte: como alguns antidepressivos aumentam os níveis de serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. É como dizer que "as febres são caudas pela deficiência de aspirina…"

O DSM e a Indústria farmacêutica criam a Psiquiatria “científica”
          Emil Kraepellin (1890) – Demência precoce, PMD e Psicose Paranoica.
          S. Freud (1920) – Neuroses, Psicoses e Perversões.
          Século XIX: Morfina, ópio, anfetaminas e cocaína – Medicar para ser científica. Não há testes ou exames (sangue-imagem-urina)
          DSM – I (1952): 130 páginas para descrever 112 transtornos mentais.
          1954: Clorpromazina (Thorazine, Longactil, Amplictil) – Lobotomia química – reduzia os sintomas de psicoses e provocava discinesia tardia (movimentos repetitivos involuntários).
          1955: Miltown (Meprobamato) – Primeiro tranquilizante a ser “popularizado”, vendeu 200 milhões em 1960 e foi proibido em 1962.

E tem mais...
       1957: Marsillid (Proniazid) – para tratar a depressão. Desse modo, em três anos, tornaram-se disponíveis medicamentos para tratar aquelas que, na época, eram consideradas as três principais categorias de doença mental – ansiedade, psicose e depressão.
       1960: Valium (Diazepan) – “a pequena ajuda da mãe”. O Diazepam foi sintetizado pela primeira vez por Leo Sternbach, e foi pela primeira vez manufaturado por Hoffmann-La Roche. Tem sido um dos medicamentos mais receitados no mundo desde que foi lançado, em 1963. Nos Estados Unidos, foi a medicação mais comercializado entre os anos 1968 e 1982, com vendas que ultrapassaram os dois bilhões de comprimidos só em 1978.
       O DSM – II (1968): 145 transtornos mentais. O Dr. Schildkraut ajudou a estabelecer a base biológica para transtornos do humor, como a depressão e mostrou que o uso de medicamentos poderia fornecer uma maneira de abordar novas pesquisas em neurociência clínica. Só que não conseguiu provar cientificamente seus postulados.
       1972: O Experimento Rosenhan foi um famoso experimento sobre a validade do diagnóstico psiquiátrico realizado pelo psicólogo David Rosenhan. Os resultados foram publicados na revista Science com o título "On being sane in insane places" ("Sobre estar sadio em lugares insanos")

Mais ainda...
          O DSM – III (1980): Dr. Robert Spitzer . Anormalidade biológica no cérebro. Como se decide o que entra no DSM? Votação (preconceitos, tendências da moda, influência política etc).Surgiu o PROZAC (Fluoxetina) a droga da Alegria
          O DSM – IV (1994): 374 transtornos em 886 páginas. Triplicou o número de doenças, e, logo surgem: especialistas, novas drogas etc. D (diagnostic) S (source of) M (Money) – Diagnóstico como fonte de dinheiro.
          O DSM – V (2011): Criou novos pacientes para novos psiquiatras e novos clientes para as indústrias farmacêuticas.
          Crianças e Idosos: Nos EUA diagnosticaram uma criança de dois anos como bipolar.
          Piada: Transtorno do condutor, de dependência de internet, de problemas relacionais com     o parceiro

Se os diagnósticos são decididos por votação, como a APA leva as pessoas a acreditar neles?
          MARKETING: o T. de Ansiedade Social foi “trabalhado” por uma agência de publicidade paga pelo laboratório Smithkline Beecham para vender o Paxil (Paroxetina).
          Objetivo do marketing: convencer pessoas saudáveis que o que estão apresentando é uma DOENÇA e que existe uma MEDICAÇÃO para isso.
          O  diagnóstico de Transtorno Bipolar pediátrico foi financiado por 25 empresas. O Dr. Joseph Bierderman recebeu 700 mil dólares para assinar as “pesquisas” que atestavam essa condição.
          Criar uma nova doença para uma necessidade do MERCADO não preenchida: Distúrbio de compra compulsiva por exemplo.

Uma pegadinha pra inglês ver...
       O British Medical Journal (BMJ) publicou na edição de 1º de abril de 2006 um artigo que falava sobre a descoberta de uma nova doença psíquica, a “Desordem de Deficiência Motivacional” - MoDed, caracterizada por letargia e indisposição para trabalhar.
       Antes que eles desmentissem a notícia milhares de pessoas telefonaram para a redação do jornal e para consultórios psiquiátricos para atestar que sofriam desse problema e para saber se poderiam entrar no programa de seguridade social.
       O nome verdadeiro da doença: Preguiça mesmo.

Algumas curiosidades sobre os psicofármacos
       Os testes são feitos e patrocinados pelos Laboratórios – Conflito de interesse.
       População testada ≠ população que vai usar.
       Manipulação de resultados em todos os níveis da pesquisa.
       Para a aprovação do remédio são necessários 2 estudos positivos, mesmo que hajam 1000 dizendo o contrário.
       O placebo tem se mostrado mais eficaz que a droga na maioria dos casos.
       Efeitos colaterais são escondidos por trás de eufemismos.
       As pessoas que julgam ou aprovam são financiadas pelos Laboratórios.
       As drogas não são prescritas para Curar, mas para GERIR.
       50% dos escritos publicados em revistas científicas são feitos por “Escritores Fantasmas” contratados pelos Laboratórios.
       Efeitos colaterais: entorpecimento das emoções, demência, tremores, contrações, danos a órgãos internos, palpitações, ansiedade, insônia, alucinações, visão desfocada, boca seca, problemas sexuais, ganho de peso, diabetes, cardiopatias, acatisia, suicídio, cefaleia, náusea, comportamento violento e bizarro, habituação.

Com a palavra os Psiquiatras...
       Dr. David Shaffer: Todo diagnóstico se baseia em opinião pessoal. Vence quem grita mais alto. DSM-III
       Dr. Allen Frances: Não há definição para distúrbio mental. É tudo besteira... Não se pode definir isso. O psiquiatra tem que achar uma doença, e, logo, um remédio. É isso que se espera dele. DSM-IV
       Dra. Anna Law: O DSM é uma farsa. Os diagnósticos são teóricos, não são baseados em medidas científicas. Dá pra acreditar em “distúrbio mental não especificado”? “DSM para bebês e crianças”? “Pessoas ajustadas em risco de contrair doença mental”?
       Dr. Thomas Szasz: TDAH não é doença. Escapomania (doenças de escravos fujões) também não. Nenhum comportamento pode ser chamado de doença. Dar drogas psiquiátricas para crianças é o mesmo que dar Veneno.
       No DSM-III abandona-se a teorização de inspiração psicanalítica para a biologização, afinal, médicos devem fazer medicina.
       Dr. Fred A. Baughman Jr.: Receitar e receitar, é para isso que serve o DSM.

E um Psicólogo...
·         Dr. Jeffrey Shaler: O DSM é uma obra de ficção. É necessária UMA pessoa para que uma doença real exista. Mas são necessárias DUAS para que haja uma doença mental.
Doença Física: coisa que o sujeito tem. São doenças em qualquer lugar do Planeta.
Doença Mental: coisas que o sujeito faz. A Cultura importa.