sábado, 12 de abril de 2014

Marisa Monte - Depois (iTunes Live from São Paulo)

A Cura do Amor...

A revista Isto é dessa semana traz como matéria de capa "O amor pode ter cura", baseada em estudos da neurociência que propõem, entre outras medidas, o uso de remédios "para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria".
Quem nunca sofreu por amor? Desde o sofrimento causado pelos amores obsessivos, que levam os indivíduos a viverem a dor de uma relação a dois em que o desejo de uma experiência simbiótica impraticável dita o ritmo, até aquelas em que é o final do relacionamento, seja por traição ou mesmo quando acaba o sentimento do outro lado, todos já passaram por isso. E, realmente seria ótimo se houvesse uma pílula milagrosa que nos livrasse desse infortúnio.
Entretanto, a pergunta que não quer calar, bem colocada pela autora da matéria é: "seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite?". Para os defensores da ideia da chamada "biotecnologia antiamor" sim. Para Brian Earp, neurocientista da Universidade de Oxford, a neurociência apresenta um novo entendimento do amor, que é dividido em três fases ( Desejo sexual, Atração e Vínculo), com possibilidades de tratamento para qualquer uma das três fases.
Desejo sexual mais atração é igual a Paixão, que evoca pensamentos que em tudo se assemelham ao TOC, logo, drogas que são utilizadas para tratar desse transtorno também serviriam para atenuar os sintomas do amor obsessivo. De quebra, as estruturas cerebrais acionadas nessas duas fases (Desejo + Atração= Paixão) são as mesmas que compõem o "sistema de recompensas", algo semelhante ao que acontece nas dependências químicas e alcoolismo, já que ele é ativado pela sensação de prazer devido a liberação de dopamina; e, segundo Earp, existem teorias sobre a adição "que sugerem que qualquer substância, comportamento ou relacionamento que apresente potencial de recompensa pode desencadear dependência".
E o tratamento como seria? Antidepressivos para reduzir os pensamentos obsessivos e a euforia diante do ser amado; inibidores de testosterona, antiácidos, estatinas e até anti-hipertensivos para diminuir a excitação e o desejo, e Naltrexona (usada no tratamento do alcoolismo e dependência de opióides) para tratar a dependência.
E aí, vai um comprimido ou uma pilulazinha? Ou não seria melhor e mais maduro (excetuando os casos de amores patológicos, obsessões ou psicopatias) até sofrer sua dor dessa perda, viver seu luto, chorar um bocado e finalmente aceitar nossa limitação de que não se pode ter tudo? O outro não tem obrigação de nos amar da forma que nós gostaríamos de ser amados, se ele(a) preferiu outro caminho não foi nossa culpa, foi o desejo dele(a), isso pode doer muito, mas, a vida continua.
Lembrei de uma música cantada por Marisa Monte (vou postar o vídeo lá em cima), em que ela fala sobre o fim de um relacionamento com tanta maturidade ( "depois de aceitarmos os fatos, vou trocar seus retratos por o de outro alguém... Quero que você seja feliz, eu vou ser feliz também... depois") que faz a proposta dos neurocientistas ingleses parecer mais uma daquelas esquisitices de querer medicalizar a vida, como se não se pudesse sofrer, ficar tristes etc... Viva o pharmakon.