terça-feira, 30 de abril de 2013

Sobre a homossexualidade, rinocerontes e outros bichos.

Nos últimos meses os temas homossexualismo, PL 122 e Comissão de Direitos Humanos tem ocupado lugar significativo na mídia nacional, seja no rádio, nas TVs e na internet, trazendo para o centro da discussão os pastores Silas Malafaia e sua cruzada contra os abusos do Projeto de Lei 122/2006 e Marco Feliciano, que entrou de gaiato na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal, e sofre acirrada perseguição do caótico ativismo gay. Vou me meter nessa discussão pontuando duas colocações do filósofo Olavo de Carvalho no excelente artigo intitulado “Psicopatas e Psicólogos”, também comentarei um pedacinho do seu hilariante vídeo “Sindrome de Piu-piu”, e de resto, descreverei resumidamente os principais constructos psicanalíticos sobre a orientação sexual.

O termo “homossexual” é totalmente inadequado para descrever o que se passa no sujeito por ele designado. A questão principal não é a sexualidade, mas o desejo (atração, amor) pelo semelhante, que pode – e na maioria dos casos é assim – comportar elementos sexuais, mas não necessariamente. E o contrário também existe: sujeitos que fazem sexo com o semelhante sem ser por isso considerado como “homossexuais”, já que essa prática só se mantém na impossibilidade de contato com o sexo oposto; a isso Freud chamava de “homossexualismo situacional”, muito comum em prisões, conventos e internatos. Outros termos foram propostos e utilizados ao longo do tempo (Pederastia, Sodomitas, Invertidos, Afeminados etc.), mas, o que mais se aproxima de uma descrição fidedigna que leva em consideração os aspectos psicodinâmicos presentes no sujeito é o termo “Homoerotismo”. 

Dito isto, passemos a caracterizar essa orientação sexual homoerótica por aquilo que ela não é: 1) não é opção, pois se os sujeitos pudessem escolher, certamente escolheriam outra via menos dolorosa em termos psicossociais; 2) não é vício ou safadeza, no sentido de que os indivíduos são levados a essa prática sexual e ficam viciados ou controlados pela lascívia que tais práticas suscitariam; 3)não é uma doença, logo, não dá pra se curar disso, assim como não se pode transformar a orientação heterossexual em homossexual; e, 4)não é genética, pois, até o presente não se conseguiu provar a existência de genes, cromossomos ou mutações responsáveis pela determinação de uma orientação homoerótica.

Para a Psicanálise a orientação sexual dos seres humanos, diferentemente do que acontece com os animais – e é aí que vemos dificuldade em se postular causas determinadas geneticamente – se dá na “Fase Fálica” do desenvolvimento psicossexual, mais ou menos entre o terceiro e o quinto ano de vida, durante a resolução dos Complexos de Édipo e de Castração, em que o menino busca identificar-se com o Pai (que é suposto possuidor do Falo) abdicando do amor erótico e exclusivista que nutria por sua mãe, evitando a castração e inscrevendo-se de vez no mundo masculino do desejo pela mulher, sombra eterna da primeira amada. A menina por sua vez, ao identificar-se com sua mãe (que na lógica fálica seria castrada), elege como objeto de desejo a figura paterna (por ser o suposto possuidor do Falo) e espera dele a sonhada realização fálica. Vale lembrar aqui que quando me refiro a Pai e mãe estou designando lugares – ou funções – e não pessoas determinadas ou mesmo existentes, pois um pai, mesmo morto antes do nascimento do filho pode continuar a exercer sua função de Pai, e muitas vezes nós pudemos observar que uma avó é quem verdadeiramente assume a função materna.

O sujeito homoerótico seria aquele que no jogo amoroso edípico com sua mãe, não experimentou a interdição paterna, ficando dessa forma, presa do desejo fálico dela (mãe), que no caso é ele próprio (o filho). Essa ausência do Pai no desejo da mãe impede a identificação do menino com o Pai Simbólico (fálico) e o remete ao primitivo desejo de ser desejo do desejo da mãe, ou seja, de ser ele próprio o falo. Desejar aquilo que ela deseja é embarcar de vez no desejo narcísico por si mesmo (que é o desejo dela), e estender esse desejo somente àquilo que for semelhante, pois, Narciso acha feio o que não é espelho. Esta aí de forma bem resumida a dinâmica psíquica subjacente a toda orientação sexual. No caso das mulheres direi apenas umas poucas palavras, deixando o desenvolvimento para outro artigo, pois, para a Psicanálise não é possível uma orientação homoerótica para as mulheres, mesmo que haja sexo entre elas. Sendo mais claro e usando o termo que não gosto, ficaria assim: Não há homossexualismo feminino; aquelas que adotam essa prática estão atuando (acting out) numa estrutura Histérica ou ex-sistindo, como diria Lacan, num Complexo de Masculinidade.


O filosofo Olavo de Carvalho, de quem discordo em inúmeras questões, principalmente em política e religião, escreveu um belo artigo para o Diário do Comércio em dois de julho de 2012, “Psicólogos e Psicopatas” em que mostra, mesmo sem ser Psicólogo mais conhecimento da matéria que muitos que portam esse título, principalmente dos tontos (e ativistas gays) que ocupam cargos no Conselho Federal de Psicologia (CFP). Esses psicólogos cuja visão do comportamento humano é muito limitada, o que demonstra que não entendem de conceitos básicos da Psicologia, tais como: identificação, motivação, psicopatologia, condicionamento, mudança de atitude, mecanismos de defesa etc., necessitam que um Filósofo venha lembra-los que quando se trata da conduta homoerótica deve-se levar em consideração não uma, mas várias questões que estão além de um único comportamento ou prática sexual:


Resta, ademais, um fato incontornável: como toda e qualquer outra conduta sexual humana, o homossexualismo, em toda a diversidade das condutas que o termo encobre, nem sempre emana de um desejo sexual genuíno. Pode, em muitos casos, ser uma camuflagem, uma válvula de escape para conflitos emocionais de outra ordem, até mesmo alheios à vida sexual. É possível e obrigatório, nesse caso, falar de falso homossexualismo, de homossexualismo neurótico ou mesmo psicótico, para distingui-lo do homossexualismo normal, nascido de um autêntico e direto impulso erótico. [...] A proibição de dar tratamento psicológico a pacientes que sintam desconforto com a sua vida homossexual resulta num impedimento legal de distinguir entre esses dois tipos de conduta especificamente diferentes, entre o mero impulso sexual e a sintomatologia neurótica, equalizando, portanto, homossexualismo e doença.

Portanto, se a obrigação do Psicólogo Clínico é prestar o melhor atendimento ao seu alcance para aquele que o procura com um sofrimento ou dor psíquica onde está o problema em oferecer ajuda ao sujeito homoerótico que sofre por sua orientação sexual? Não se trata aqui de pregar ou propagandear a cura da homossexualidade, até porque não há cura. O psicólogo que oferecesse tal tratamento prometendo transformar gays em ex-gays deveria ter seu registro cassado por propaganda enganosa e não por homofobia, porque se ele tiver estudado um pouquinho apenas as principais teorias psicológicas sobre o tema saberia que essa missão é impossível. Logo, não há sentido na perseguição movida pelo CFP, ao pastor e psicólogo Silas Malafaia e a psicóloga cristã Marisa Lobo por expressarem suas convicções religiosas que não são toleradas – nem respeitadas – pelos ativistas gays dentro e fora do CFP que os acusam de homofóbicos; se eles apenas seguem o que está escrito na Bíblia – ver Levítico 18:22 – e professam essa crença porque então vocês não fazem um grande movimento antibíblico, com queima de Bíblias e tudo mais? Não tem coragem não é mesmo. Como denunciou Carvalho em seu artigo supracitado, essa associação entre o CFP e o ativismo gay em defesa do PL 122, não é só absurda, mas também perigosa, pois os torna: "Mais que imcopetentes e indignos de exercer a profissão de psicólogos (...) são mentes deformadas, perigosas, destrutivas, cuja presença nos altos postos é promessas segura de danos e sofrimento para toda população".

Nestes quase trinta anos de atividade clínica em meu consultório e em Unidades Básicas de Saúde, já atendi a dezenas de homossexuais (vou usar esse termo aqui) de diferentes faixas etárias, etnias e religiões. E o que vi foi o sofrimento de homens e mulheres, seres humanos a sofrer por um desejo que não escolheram para si e que em muitos casos é mais forte que o desejo de não senti-lo. Vi jovens, pré-adolescentes, meninos que sonhavam em ser “paquitas” da Xuxa, e vi o ódio dissimulado no rosto dos familiares, a vergonha dos irmãos. Vi senhores casados, com filhos, membros fieis de uma igreja, a sofrer por apenas sentir o desejo pelo corpo de outro homem, sem nunca ter tido qualquer tipo de contato homoerótico em sua vida. Vi homens gays, transgressores, pervertidos também. Vi homens jovens apaixonados por outros homens também jovens buscando viver seu amor sem (sic) “incomodar ou ser incomodado”. Vi também mulheres e homens histéricos, profundamente neuróticos, introvertidos e carentes, cuja necessidade imperiosa de afeto os levou a homossexualidade mesmo não sendo homoeróticos, e a psicoterapia propiciou que eles se comprometessem com seu real desejo e assumissem sua heterossexualidade. Assim como, favoreci com minha escuta àqueles sujeitos que sofriam com sua orientação sexual e aprenderam na psicoterapia ou na análise, a viver bem, “com esse estranho que me habita” como me disse certa vez um jovem.

Apesar de discordar da visão teológica dos pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia, pois, acredito que ambos são “mercadores da fé”, ou “pastores caça-níquel” – como Edir Macedo, Waldemiro Santiago, RR Soares e tantos outros – em um ponto eles estão corretos: a defesa da liberdade de expressão e da liberdade religiosa. É absurda a proposta dos ativistas gays em seu desejo – insano – de criminalizar posições doutrinárias de religiões, impondo às mesmas uma mordaça sob o pretexto de estar combatendo a homofobia. Até porque, nunca vi nenhum padre ou pastor perseguindo homossexuais ou realizando cruzadas de combate ao homossexualismo ou algo semelhante, pelo contrário, o que vemos na mídia é a afirmação enfadonha até, de que “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”, e mesmo que o religioso não concorde terá que defender essa tese para ser coerente com seu livro sagrado.

O pastor Malafaia fala demais, se mete em áreas que não são as suas em busca de argumentos que provem a anti-naturalidade das práticas homossexuais e acaba metendo os pés pelas mãos ao utilizar argumentos da biologia, da sociologia, da genética etc. Procurar argumentos em outras áreas para encontrar razões científicas que apoiem pontos de vista que são puramente religiosos, é, basicamente, não acreditar na justeza de seus próprios argumentos. Qual a necessidade de um religioso procurar apoio para sua crença em fundamentos científicos? Seria sua doutrina tão frágil assim que não se sustenta sozinha? É o que parece. Vai aqui um conselho aos religiosos: atenham-se ao seu credo, a sua teologia e a seus objetivos soteriológicos. Acreditam que o Homoerotismo é pecado? Ótimo, digam isso, avisem que o fogo do inferno aguarda os transgressores e ponto final. Essa é a crença e não há teoria científica que a embase.

Quanto ao pastor Feliciano desde que foi eleito para a presidência da CDHM virou a “vidraça” da vez. Famoso por proferir bobagens monumentais dos púlpitos de sua igreja e dos congressos evangélicos – ele disse que Deus castigou com a morte John Lennon, por ter dito que os Beatles eram mais populares que Cristo e o grupo “Mamonas Assassinas” por corromperem as crianças com suas letras cheia de palavrões – e por seu declarado etnocentrismo religioso, que demoniza qualquer prática religiosa que não seja de inspiração judaico-cristã, principalmente as de raízes africanas. Pra piorar – ou não – ele foi parar logo no reduto mais queridinho da esquerda esquizofrênica brasileira (PT e PC do B) que desde 1995 vinha se revezando na presidência da comissão. Marco Feliciano é oportunista, pastor caça-níquel, histriônico e paspalhão, mas, isso não o incapacita de presidir a CDHM, afinal de contas quatro dos ex-presidentes da comissão são do partido do mensalão, da vigarice e da desonestidade e uma ex-presidente, a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, pertence a um partido que acha que o sanguinário paranoico Josef Stalin foi um exemplo de liderança. Seria Feliciano racista ou homofóbico? Claro que não, é só mais um pastor defendendo seu manual de instrução: a Bíblia. Seria ele preconceituoso? Certamente, como todo sujeito que defende um determinado credo doutrinário, seja religioso, político, filosófico etc.

Diante de todo esse rebuliço vale a pena prestar atenção ao que o Filósofo Olavo de Carvalho chama de “Síndrome de Piu-piu”. Para quem não sabe, trata-se de um desenho animado em que um canarinho amarelo é perseguido pelo gato Frajola, que está sempre à espreita, às vezes, na cara do pássaro, que olha para frente com cara de bobo e diz: eu acho que vi um gatinho! Ou seja, o monstro está na nossa frente e nós o ignoramos, apenas temos a leve sensação de que “vimos um gatinho”. Para ilustrar de forma dramática a passividade e displicência dessas pessoas que “não estão nem aí pra nada”, o filósofo diz que o sujeito está com uma “piroca de rinoceronte” enfiada em seu ânus e só sente uma vaga impressão de desconforto, dessa forma fica fácil para o ativismo intolerante – sejam eles gays ou não – impor sua vontade e criar mecanismos espúrios para cercear nossa liberdade de expressão. É bom estar atento, pois não se trata apenas de combate a homofobia, existem implicações de outra ordem nessa história.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Drogadicção: Texto 1.


Aspectos Psicodinâmicos da Drogadicção

Antonio Carlos F. Lima
UNCISAL, Maceió, AL, Brasil

O reconhecer que o sofrimento tem uma função importante na existência humana não vai nos levar ao masoquismo, mas à coragem necessária a não se dissolver no imediato apaziguamento indiscriminado dos nossos desejos. (Wilson de Lyra Chebabi, in: Drogadicção: individuo, família e sociedade.)

Comecemos por definir a droga como qualquer substância capaz de alterar ou modificar o funcionamento do organismo (física e/ou psiquicamente), afetando as funções corporais, o humor, o comportamento, as sensações e a percepção. As drogas podem ser naturais ou sintéticas, legais ou ilegais, e são geralmente classificadas em três categorias: 1) depressivas: diminuem a atividade neural provocando desinibição, sedação e nos casos mais graves o coma (álcool, opiáceos, benzodiazepinas); 2) estimulantes: possuem efeito excitante acelerando as ações normais do cérebro (nicotina, cafeína, cocaína, anfetaminas); e, 3) alucinógenas: desorganizam as atividades cerebrais (maconha, ecstasy, LSD, cogumelos).
O uso – e abuso – de drogas é tão antigo quanto a história dos seres humanos sobre a terra. Álcool, maconha e ópio eram conhecidos pelos persas, mesopotâmicos, indianos e chineses a pelo menos quatro mil anos. Gregos, romanos e hebreus foram consumidores vorazes de vinho, os primeiros até possuíam deuses específicos (Dionísio e Baco) e cultuavam com banquetes em que a embriagues ditava a regra. A folha da coca era mascada pelos antigos habitantes da América do Sul bem antes da chegada dos espanhóis, e na Ásia, a seita dos “hashishim” distribuía maconha e haxixe nas iniciações para que os guerreiros experimentassem as recompensas da “outra vida”.  Historiadores começam a admitir que a imagem da bruxa a voar sentada em uma vassoura seria derivada de uma prática das feiticeiras da Idade Média de espalhar uma mistura de beladona, meimendro negro e mandrágora na pele e região genital (para ser mais bem absorvida) com uma vassourinha, e um dos efeitos desse preparado era a sensação de voar. No século XV Cristovam Colombo descobre o tabaco, usado pelos nativos das ilhas do Caribe, no século XVI Jean Nicot envia sementes para a Europa fazendo com que nos dois séculos seguintes o uso de tabaco evoluísse da aspiração de rape ao cachimbo e daí ao uso dos charutos e cigarros. Nos séculos seguintes novas drogas são descobertas, tais como a cocaína, a heroína, as anfetaminas e a morfina, que após terem se mostrado perigosas ao consumo livre, tem seu uso restringido à prática medica. No entanto, o critério para que uma droga seja legalizada ou considerada ilegal não parece ter nada a ver com o risco que seu consumo traz à saúde pública; de acordo com pesquisas recentes realizadas na Europa e Estados Unidos o uso de drogas legais como o álcool e tabaco, causam mais danos à saúde pública do que as drogas ilegais.
Devido ao grande numero de problemas de saúde causados ou associados ao uso e abuso de drogas, houve uma mobilização maior por parte dos poderes constituídos levando a criação de politicas públicas de combate às drogas, de prevenção, de tratamento e reinserção social, e de redução dos danos sociais e à saúde do dependente químico. Os principais problemas decorrentes do uso de drogas são: 1) relacionados ao consumo intenso e crônico, que além de causarem inúmeras doenças (do fígado, coração etc.) muitas vezes levam o individuo a morte; 2) relacionados ao modo de consumo, que no caso das drogas injetáveis transformam-se em uma via para a entrada de elementos patogênicos na corrente sanguínea, provocando entre outros males a hepatite e a AIDS; 3) relacionado ao modo de viver do usuário de drogas, que ao negligenciar cuidados básicos com sua higiene, alimentação etc., gera diferentes tipos de problemas para a saúde; 4) relacionados a comportamentos de risco, que vão desde a promiscuidade sexual, passando pela prostituição e envolvimento com a criminalidade, chegando até a provocação de acidentes; 5) relacionado ao uso simultâneo de diferentes drogas, que potencializa os danos causados ao organismo e em particular ao cérebro, concorrendo de forma decisiva para as “overdoses”; e 6) relacionado à capacidade de desenvolver dependência, que ocorre com grande frequência e é responsável direta pela deterioração física e psíquica do dependente químico.
Não resta duvidas de que os maiores problemas enfrentados pelos profissionais que lidam com a dependência química são o baixo índice de adesão ao tratamento, de recuperação e de reinserção na sociedade dos indivíduos que procuram ou são enviados para tratamentos especializados. As recaídas são fenômenos tão frequentes que já constam como problemática esperada durante o tratamento, o que nos leva a supor que não existe tratamento medicamentoso, psicoterápico, sócio-terápico  ou espiritualista – ou mesmo uma combinação entre eles – que possa garantir com certeza a recuperação e reinserção do sujeito ao convívio social sem uso de drogas.
O problema é antigo, mas nunca esteve tão em evidência como nessa primeira década do século XXI. Além de figurar diariamente nos telejornais, seja em reportagens de cunho policialesco em que o tema principal é o combate ao tráfico de drogas, ou em reportagens cujo interesse é a saúde pública, o tema da drogadicção já ocupa espaço considerável nos canais de TV a cabo em “Reality Shows” como Drogas S/A, Intervenção e Dr. Drew: celebrity rehab. Essa superexposição midiática tem um lado positivo, ao aumentar a conscientização da população, leva-a a se mobilizar e cobrar das autoridades constituídas que busquem soluções para esse mal endêmico que se espalha por todo país. Ao fazermos uma pequena avaliação histórica da relação estabelecida entre a postura da sociedade evidenciada pelos meios de comunicação com relação ao uso de drogas, veremos que há uma evolução que vai do ponto de vista repressivo-policial das décadas 1960-70, para quem o uso de substancias psicoativas estava ligado à malandragem das favelas e aos hippies e “outros vagabundos”, até a concepção atual que compreende a droga como um problema social e de saúde pública, ainda que elidindo o fato de que essa mesma sociedade que combate o uso e abuso de drogas ao mesmo tempo propicia seu recrudescimento.
No Brasil e no mundo, a dependência química vem sendo cada vez mais tratada como problema de saúde pública. Temos observado a multiplicação das politicas de enfrentamento – tanto no setor privado quanto no setor público – com a criação de clínicas particulares de reabilitação, seja de caráter médico-psicológico ou religioso-assistencial, e de centros especializados para atenção aos dependentes químicos nas Unidades de Saúde municipais e estaduais vinculadas ao SUS. Entretanto, malgrado todas as medidas de enfrentamento e combate ao uso de drogas efetuado pelos Caps-AD, Consultórios de Rua, Clínicas de Reabilitação, Casas de Acolhimento e Comunidades Terapêuticas não tem sido suficientes para evitar o crescimento galopante do uso de drogas (licitas e ilícitas) em nosso país. Mesmo com as medidas mais radicais (porque não dizer desesperadas?) tomadas pelo poder público, como o internamento compulsório de dependentes químicos e a desarticulação das chamadas “crackolândias” – que apenas mudam de endereço – o problema não se resolve. Isso nos leva a formular uma questão: porque é tão difícil tratar eficazmente a drogadicção?
Tentaremos responder a essa pergunta utilizando como referencial teórico a Psicanálise, pois, acreditamos que a dinâmica própria do “sistema inconsciente” do sujeito desempenha papel crucial no processo que vai do uso recreativo a dependência (física e psicológica). Desse modo, compreendemos a dependência química e – mais especificamente – o dependente como produto (e ator) de uma prática alienada, “assim como também resultam fatalmente alienadas a técnica e a teoria terapêuticas que, devido às suas limitações ideológicas, devolvem passivamente o ex-adicto a uma sociedade que fomenta a adicção em todas as suas formas” (KALINA,1976,p.18).
O pai da psicanálise não escreveu nenhum texto que tratasse especificamente do uso de drogas ou da dependência química. Seus comentários sobre o tema – principalmente ligados ao alcoolismo – podem ser encontrado em alguns textos do período “pré-psicanalítico” como: “Tratamento psíquico (ou mental)” de 1890; em duas cartas ao amigo Fliess, em 1897;e  “A sexualidade na etiologia das neuroses” de 1898.  Já no período psicanalítico os principais textos que fazem referência à drogadicção são: “O chiste e sua relação com o inconsciente”, “O humor (1927)”, “Dostoievski e o parricídio (1928)” e “O mal-estar na civilização (1930)”. O porquê de Freud não ter dedicado uma obra especial a esse tema continuará sendo desconhecido para nós, embora alguns críticos afirmem que por ele ter sido usuário de cocaína (e ter abandonado a droga sem dificuldades) e viciado em tabaco, não percebia a importância das adicções enquanto patologia que merecesse uma dedicação exclusiva. O que importa é que não há um lugar delimitado ou definido para o toxicômano nas estruturas psicopatológicas clássicas da psicanálise (Neurose, Psicose e Perversão), ou seja, isso sugere que o fármaco-dependente pode transitar livremente em qualquer uma dessas estruturas sem que seu sintoma seja característica do vínculo a uma delas. Desse modo um neurótico, um psicótico ou um perverso podem fazer (ou não) um uso problemático da droga.
No primeiro texto em que Freud alude a drogadicção, a carta a Fliess de 22 de dezembro de 1897, aponta a masturbação como sendo o protótipo das toxicomanias: “[...] Comecei a compreender que a masturbação é o grande hábito, o ‘vício primário’ e que é somente como sucedâneo e substituto dela que outros vícios – álcool, morfina, tabaco, etc. – adquirem existência” (FREUD, 1950/1997, p. 367). Em outra carta para Fliess, Freud enfatiza a diferença entre o hábito e o vício lembrando que nem todo usuário desenvolverá um vício: “Nem todos que tem oportunidade de tomar morfina, cocaína, hidrato de cloral, e assim por diante, por algum tempo, adquirem dessa forma ‘um vício’” (FREUD, 1898/1989, p.230-231).
Em um exame psicodinâmico do problema, podemos isolar três elementos constituintes desse dinamismo psicossocial em constante inter-relação: o sujeito (drogadicto, fármaco-dependente, toxicômano, dependente químico etc.), o objeto droga (tabaco, álcool, maconha etc.) e o meio (família, grupos, sociedade). A ênfase aqui recairá sobre o sujeito sem, no entanto imaginá-lo dissociado dos outros dois elementos, pois,  constatamos que o comportamento do dependente químico é um movimento incessante de tentar reconciliar o irreconciliável: resolver o conflito entre o Princípio de Prazer e o Princípio de Realidade a partir da anulação do segundo devido a seus efeitos potencialmente dolorosos. Algo semelhante ao “Pharmakon” no sentido apontado por Jacques Derrida em “A farmácia de Platão”, uma poção “mágica” que curaria todos os males. Elimina-se – ainda que temporariamente, daí a necessidade de repetição – a realidade dolorosa com o uso continuado da poção mágica que manterá (enquanto magia houver) o usuário no reino encantado do Princípio do Prazer.
O grande problema do “pharmakon” de nossos dias é a rapidez da duração de seus efeitos miraculosos. Sua ação é limitada pelo tempo, não cura essa insatisfação (com o mundo e consigo mesmo), apenas apazigua por um lapso de tempo esse “mal estar na civilização”. Em um texto homônimo de 1930, Freud sustenta que o meio mais eficaz de evitar o sofrimento e ter prazer imediato é a intoxicação: “não creio que alguém compreenda inteiramente o seu mecanismo; é fato, porem, que existem substâncias estranhas, as quais, quando presentes no sangue ou nos tecidos, provocam em nós, diretamente, sensações prazerosas, alterando, também, tanto as condições que dirigem nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes de receber impulsos desagradáveis. Os dois efeitos não só ocorrem de modo simultâneo, como parecem estar íntima e mutuamente ligados. No entanto, é possível que haja substâncias na química de nossos próprios corpos que apresentem efeitos semelhantes, pois conhecemos pelo menos um estado patológico, a mania, no qual uma condição semelhante à intoxicação surge sem administração de qualquer droga intoxicante (FREUD, 1930/1974)”.
Contudo, só existe uma maneira de se livrar desse “mal estar” da existência humana que é justamente deixar de existir; ou seja, morrer. Para MELMAN (2003) “drogar-se é experimentar uma espécie de morte. Ou, melhor, os drogados são mortos vivos, ou vivo mortos”. Enquanto estamos vivos seremos sempre seres desejantes, e se há desejo há possibilidade de sofrimento e insatisfação, até porque “se não há desconforto, não há desejo (MELMAN,2003,59)”. Portanto, como seres inseridos na economia do desejo, traremos sempre inscrito em nossos corpos e mentes um “comprovante da falta” (MASOTTA, 1987), um lugar de desconforto que Pharmakon nenhum poderá apaziguar, daí o comportamento compulsivo do dependente químico que vai necessitar sempre de mais uma dose para manter-se nesse lugar fora do Princípio de Realidade, fora da existência, e quem sabe um dia, cessar todo sofrimento em uma “overdose”.
Freud, nas curtas linhas que dedicou ao exame do “alcoolismo e toxicomania” no texto de 1904, “O chiste e sua relação com o inconsciente”, e também nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” de 1905, associa a drogadicção à fase oral do desenvolvimento psicossexual. No texto de 1905, em um subitem sobre o autoerotismo ele escreve: “Não é toda criança que suga desta maneira. Pode-se presumir que as crianças que assim agem são aquelas nas quais existe uma intensificação constitucional da importância erógena da região labial. Se esta importância persistir, estas mesmas crianças, quando crescem, tornar-se-ão epicuros do beijo, inclinar-se-ão ao beijo pervertido ou, se do sexo masculino, terão poderoso motivo para beber e fumar (FREUD, 1905/1972, p. 187)”. Karl Abraham destaca a compulsão oral nas toxicomanias – e mais precisamente no alcoolismo – como um dos elementos mais importantes do comportamento adictivo. Um psicanalista que dedicou atenção especial ao tema foi Sandor Rado; para ele a base de toda toxicomania estava assentada naquilo que chamava de “depressão tensa” fruto da incapacidade do sujeito de tolerar o sofrimento. Desse modo, a droga faria cessar o sofrimento e a depressão gerando euforia e estimulação, fazendo com que o frágil ego desse individuo reencontrasse nesses momentos mágicos a satisfação narcísica perdida, e isso remete o sujeito a primitiva fase oral, modelo e medida de toda forma de gratificação e satisfação posteriores.  Rado chamava de “orgasmo farmacológico” a esse movimento de busca do drogadicto e afirmava que era uma reprodução do orgasmo alimentar experimentado pela criança pequena em que está envolvida uma forte excitação que decorre de uma antecipação do prazer “que põe em movimento o processo de gratificação”.
O psicanalista britânico Edward Glover entendia a toxicomania como uma defesa contra as reações psicóticas típicas dos estados regressivos. Para ele, além de a drogadicção possuir semelhanças com a psicose maníaco-depressiva, funcionaria também – na fase depressiva – como medida protetora contra o suicídio. Outros psicanalistas partidários da teorização que prioriza os elementos “maníaco-depressivos” presentes na toxicomania foram Simmel (1930), Bergler (1935), Weijl (1944), Meerloo (1952) e Rosenfeld (1964), que entre outras coisas apontava a fraqueza do ego do dependente químico e sua incapacidade para suportar a depressão como responsáveis pela busca do objeto droga que o manteria numa dimensão maníaca geradora de identificações idealizadas com o “objeto ideal” e onipotente. Para ele, a droga além de “simbolizar” o objeto ideal é também um meio para acabar de forma radical com todo e qualquer objeto (e situação) frustrador e/ou persecutório.
Para a chamada “Escola Inglesa” de inspiração Kleiniana o foco foi colocado sobre a dificuldade do drogadicto em elaborar a “posição depressiva” numa tentativa de evitar a dor, a depressão e a ansiedade persecutória. Entretanto, o que pareceria ser uma medida salvadora a primeira vista, coloca o sujeito numa situação perigosa de desintegração total de seu ego, ou seja, a psicose. Nesse mesmo caminho, mas sem recorrer aos mecanismos primitivos da mente do bebê – como fazem os kleinianos – está o psicanalista argentino David Liberman. Ele observa no comportamento do adicto, principalmente no fenômeno da intolerância a espera e na impossibilidade de relacionar passado e presente, traços de uma conduta nitidamente psicopática. Assim como o psicopata, o drogadicto também não suporta perdas e o objeto droga surge como eliminador da ansiedade da espera e da angústia da frustração, e como tampão dos buracos de seu ego frágil e em contato (perigoso) com o núcleo psicótico que nos é comum.
Jacques Lacan (1973) definiu as toxicomanias como um rompimento com o gozo fálico, que seria ligado ao registro Simbólico em que imperam a Lei e a Castração. Isso significa que ao romper com a instância da Lei, da regulação da satisfação do desejo (que causa angustia), o sujeito teria acesso ao “gozo pleno”, e se colocaria no mundo como um ser não castrado, livre da castração e de sua concomitante angústia, em suma, um ser fora da realidade, psicótico talvez? Uma das contribuições mais importantes formuladas pelos teóricos de inspiração lacaniana foi a de insistir na singularidade do uso que o sujeito faz do objeto droga, que poderá ou não leva-lo a toxicomania. Cada sujeito responde a um apelo que lhe é particular: o individuo pode usar a droga como forma de transgressão para convocar a Lei do Pai; pode também usá-la – como é muito comum na adolescência – como instrumento que lhe confira uma identidade e laços sociais fora do grupo familiar; pode até usá-la para morrer. O que vai definir sua posição no contexto da drogadicção e apontar pistas para a possibilidade de “cura”, é justamente o tipo de vínculo que esse individuo em particular vai estabelecer com esse objeto (a droga) em seu meio social, cultural etc.
Para a psicanálise, e aqui concordam freudianos, kleinianos e lacanianos, o elemento central a ser levado em consideração na análise e na tentativa de achar soluções para a problemática da drogadicção é o indivíduo, o sujeito, “e, portanto, os critérios considerados capazes de diferenciar os tipos de usuários e as formas de uso existentes não são os mesmos utilizados pela psiquiatria ou pela psicopatologia, mas dizem respeito à modalidade de gozo experimentada e suportada por cada sujeito que escolhe a via da intoxicação (RIBEIRO, 2011, p.636)”. E outro ponto de concordância entre os psicanalistas diz respeito à definição de toxicomania, que não é definida nem pelo tipo de droga utilizada, nem pela frequência com que o sujeito a utiliza, mas pelo “lugar que ela [a droga] ocupa na subjetividade do paciente (NOGUEIRA, 2006)”.
Pelo que podemos deduzir de tudo que foi discutido nesse breve artigo sobre os aspectos psicodinâmicos da drogadicção, o problema se apresenta em três facetas – o sujeito, a droga e o meio – e só levando-se em consideração a inter-relação complexa entre elas é que se pode dar alguma resposta satisfatória a questão da dependência química. Só com a ultrapassagem das limitações impostas pela hipocrisia da sociedade, que ao legitimar certas práticas e demonizar outras, não faz mais que afirmar o caráter perverso de seu vinculo ao sistema de produção, tornando praticamente impossível recuperar o sujeito mantendo o meio e mudando o objeto droga.



Referências Bibliográficas:

FREUD, Sigmund. O chiste e sua relação com o inconsciente. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 8). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. Extratos dos socumentos dirigidos a Fliess (1950 [1892-1899]): carta 55. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 1). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. Extratos dos socumentos dirigidos a Fliess (1950 [1892-1899]): carta 79. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 1). Rio de Janeiro, Imago, 1976.

______.  Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 7). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. O humor (1927). (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 21). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. Dostoievski e o parricídio (1928). (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 21). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. A sexualidade na etiologia das neuroses. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 3). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. O mal-estar na civilização. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 21). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
______. Tratamento Psíquico (ou mental). (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 7). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
GÓMEZ, César Pereio. Drogas. Série: aprendendo a viver. São Paulo, Ciranda Cultural, 2008.
KALINA, Eduardo e SANTIAGO Kovadloff. Drogadicção: individuo, família e sociedade, 4ª ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves Editora, 1980.
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RIBEIRO, Cynara Teixeira. Usuário ou toxicômano? Um estudo psicanalítico sobre duas formas possíveis de relação com as drogas na contemporaneidade. Revista Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v.11, n.2, p. 633-647, 2011. ISSN 1808-4281.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Marco Feliciano: O doente e sua doença!

Já faz algum tempo que o deputado pastor Feliciano vem ocupando cada vez mais espaço na mídia, pra ser exato, desde que assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara apesar de sua postura preconceituosa.
Ele deve estar muito feliz com essa super exposição, pois, é notadamente exibicionista, um exemplar do caráter histérico masculino, basta ver os cultos de sua igreja no youtube. Ele pula, requebra, faz caras e bocas, grita e esperneia num verdadeiro espetáculo de histeria (pessoal e coletiva).
Já vimos muitas análises a respeito do comportamento dele, mas nenhuma tão contundente e tão verdadeira quanto a que foi expressa pelo comentarista político Bob Fernandes (clique no link abaixo). Depois de comentar algumas das idiotices proferidas pelo deputado, Fernandes o aconselha a procurar ajuda, pois, só uma pessoa muito doente (da cabeça e da alma) se expressaria da forma que ele vem se expressando, e o que é pior: em nome de Deus.
Podemos incluir nessa categoria toda uma outra grande leva de doentes, que acham que falam em nome de Deus: Silas Malafaia, Waldomiro Santiago, Edir Macedo, RR Soares e tantos outros.
Deus nos livre dessa gente podre de mentes doentias!
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=slRFIh-i6PY