quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Pálido Ponto Azul: Carl Sagan
"Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que nós conhecemos". Carl Sagan (1934-1996)
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Quem são elas?
Nos últimos dias postei dois videos da neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel e hoje postei um da filósofa americana Ayn Rand sem sequer apresentá-las; então, corrigindo essa pequena falha segue abaixo uma mini biografia das duas.
Suzana Herculano-Houzel é Bióloga, professora universitária (UFRJ) e autora de inúmeros trabalhos na área de neurociência. Descobri garimpando no youtube que ela tem (ou tinha) um quadro no programa Fantástico da rede globo (que não assisto), o que combina muito bem com seu jeito didático de passar temas complexos numa linguagem acessível. Maiores informações no site dela: www.suzanaherculanohouzel.com .
Ayn Rand (1905-1982) foi escritora, dramaturga e roteirista, nascida na Rússia e radicada nos EUA, desenvolveu um sistema filosófico chamado de "Objetivismo" em que defende o individualismo filosófico, o liberalismo econômico e o egoísmo racional. Suas principais obras são: A Nascente e A Revolta de Atlas.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Paulo Leminsk
Bem no fundo
No fundo, no fundo,bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
O mal está em todos nós - Philip Zimbardo
Em entrevista à revista Veja (Ed.2335 de 21 de agosto de
2013), o psicólogo americano Philip Zimbardo retoma o tema da maldade humana e
suas raízes. Famoso na década de 1970 por seu experimento em parceria com Stanley Milgram na Universidade
Stanford, em que chega a conclusão de que o mal “repousa dentro das pessoas” e
que apenas 10% das pessoas permanecem imunes àquelas situações que poderiam
levá-las a agir de forma má; ou seja, todos nós – a depender das circunstâncias
– podemos cometer atos atrozes e de intensa maldade. Em sua pesquisa Zimbardo
também observou que militares nazistas, guardas de campos de concentração,
torturadores de regimes ditatoriais não são uma espécie de “monstros” especiais
que se destacam da multidão; são, antes, pessoas comuns, sem desvios de
personalidade e “em geral, indivíduos normais, com vida comum, até assumirem a
função” e conclui afirmando que qualquer um pode ser treinado para se tornar
torturador.
A entrevistadora pergunta se existem pessoas que são
mais propensas a praticar o mal, e o psicólogo é categórico ao afirmar que sim,
que além do grupo dos psicopatas (que representam 1% da população), pessoas que
sofreram alguma espécie de violência brutal em qualquer momento de sua história,
têm uma tendência maior a praticar tais atos no futuro. Do mesmo modo, também existem pessoas mais
resistentes a prática da maldade, como exemplo temos os indivíduos altamente
críticos que não se submetem a sistemas que consideram injustos e se rebelam
contra todo tipo de tirania. Para Zimbardo, “a melhor vacina contra a prática
do mal é o exercício permanente da autocrítica”.
Para saber mais
leia o livro O Efeito Lúcifer (Ed. Record) de Philip Zimbardo, e veja também a pesquisa de Alexander
Haslam e Stephen Reicher, da Escola de Psicologia da Universidade de
Queensland, na Austrália que contesta o experimento de Zimbardo e Milgram (Contesting the "Nature" Of
Conformity: What Milgram and Zimbardo's Studies Really Show). Os psicólogos australianos discordam de Zimbardo e MIlgram quando eles sentenciam
que “a obediência aos desmandos de autoridades mostrava que os seres humanos
normais tendiam a se conformar com a tirania”, e propõem, por sua vez, que essa obediência se
deve ao fato de a pessoa se identificar com a autoridade e acreditar estar
fazendo a coisa certa. Com certeza são duas boas leituras para nos fazer
entender um pouco mais dessa porção de maldade que habita em todos nós.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Martin Seligman - A Psicologia Positiva
Martin E. P. Seligman (1942) é psicólogo e professor da Universidade
da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Quando era professor de psicopatologia, começou a questionar sobre essa enorme tendência da ciência psicológica em por a ênfase dos seus estudos nos aspectos doentios, na psicopatologia em suas múltiplas faces, desconsiderando
os aspectos positivos do comportamento e desenvolvimento do indivíduo. A partir da década de
1990 seus questionamentos começaram a dar origem a uma nova
corrente em Psicologia, intitulada Psicologia Positiva.
As pesquisas e a consequente divulgação dessa nova abordagem ganhou impulso
quando Seligman ocupou a presidência da American Psychological Association
(APA), em 1997, e a partir daí seus estudos começaram a ser divulgados em todas as partes
do mundo.
O
movimento batizado de Psicologia Positiva surgiu oficialmente nos
Estados Unidos, em 1997/1998, a partir da iniciativa de Seligman que,
com outros pesquisadores, começou a desenvolver pesquisas
quantitativas visando à promoção de uma mudança no foco atual da
Psicologia. Suas obras principais são: Felicidade Autêntica; Florescer; Aprenda a ser Otimista; e O que pode Mudar.
Na edição da revista Veja de 10 de março de 2004, Martin Seligman foi o entrevistado da páginas amarelas, chamado de Doutor da Felicidade pela mídia e criticado pela simplicidade de seus conceitos pelos acadêmicos, Seligman foi entrevistado para explicar os temas básicos de seu então mais recente livro (Felicidade Autêntica), considerado best seller. Abaixo um trecho da entrevista que pode ser vista completa em veja.abril.com.br/100304/entrevista.html
Seligman – Sim, se estivermos falando de prazeres como sexo, chocolate e compras. Nesses casos, cada um sabe o que o faz mais feliz. Mas já fica mais difícil medir o grau da felicidade existencial, por assim dizer. O que dá para perceber é que há características comuns às pessoas que consideramos felizes. Elas são, por exemplo, mais queridas pelos outros. Também tendem a ser mais tolerantes e criativas. As pessoas felizes têm em comum, ainda, hábitos de vida mais saudáveis, pressão arterial mais baixa e sistema imunológico mais ativo que as infelizes.
Veja – Por que o senhor resolveu enfocar a felicidade, e não a infelicidade, como fazem quase todos os psicólogos?
Seligman – A psicologia convencional nasceu para tentar entender o que torna alguém neurótico, deprimido, ansioso, de mal com o mundo. Durante mais de duas décadas dediquei-me a esse tipo de estudo. Mas, depois de anos nessa toada, achei melhor procurar compreender o que faz alguém feliz. Inclusive para indicar alguns caminhos para os infelizes. Descobri que homens e mulheres satisfeitos têm uma vida social mais rica e produtiva. Os muito felizes passam o mínimo de tempo sozinhos e mantêm ótimos relacionamentos. Cultivam mais as amizades e permanecem casados por mais tempo.
Veja – Os mais felizes vivem mais?
Seligman – O estudo mais notável feito até hoje sobre felicidade e longevidade analisou o cotidiano de 180 freiras. Todas tinham a mesma dieta, leve e balanceada, e estavam livres, é claro, de drogas, álcool e cigarro. Como também convém a freiras, elas não eram suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis. Pois bem, mesmo assim, foi constatada uma diferença sensível de longevidade entre as mais e as menos alegres. Entre as primeiras, 90% ultrapassaram os 80 anos. Do outro grupo, apenas 34% chegaram a essa idade.
Veja – Dinheiro traz felicidade?
Seligman – É evidente que uma situação financeira confortável ajuda. Mas é um erro pensar que, quanto mais dinheiro, mais satisfação. Especialmente se, para consegui-lo, se sacrificam outros aspectos. Trabalhar seis fins de semana seguidos para conseguir um salário maior, à custa de menos lazer e menos tempo com os filhos, não faz ninguém mais feliz. Uma pesquisa baseada na lista elaborada pela revista Forbes das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos constatou que, na média, elas não são mais felizes que as de classe média. A riqueza tem uma correlação surpreendentemente baixa com o nível de felicidade. Os ricos são, em geral, só um pouco mais felizes que os pobres. Nos Estados Unidos, enquanto a renda aumentou 16% nos últimos trinta anos, o número de indivíduos que se consideram muito felizes caiu de 36% para 29%.
Veja – Mas existem estudos que associam a felicidade ao poder de compra.
Seligman – É verdade que países muito pobres, como Bangladesh, por exemplo, têm, na média, menos pessoas felizes que países como os Estados Unidos. Uma pesquisa realizada recentemente abordou um universo de mais de 1 000 pessoas em quarenta países. Os responsáveis cruzaram o nível de satisfação pessoal com o poder de compra correspondente a cada lugar. O resultado trouxe obviedades e surpresas. Numa escala de 10 pontos, a nação de pessoas mais felizes e satisfeitas é a Suíça. Os Estados Unidos estão em sexto lugar. Já o Brasil aparece num surpreendente décimo lugar, à frente da Itália, um país rico, onde as pessoas têm um poder de compra quase quatro vezes maior. Isso significa que os brasileiros têm particularidades que contrariam a crença de que felicidade está necessariamente associada a mais dinheiro.
Veja – Há pessoas que costumam dizer "eu não sou feliz, eu estou feliz". Isso faz sentido?
Seligman – Esse é o tipo de consideração que vale para quem pauta a vida pela quantidade de prazer imediato que consegue ter. É uma vida baseada exclusivamente no humor – e o humor tem altos e baixos. Uma felicidade mais plena sobrevive a esse tipo de montanha-russa.
Veja – É inegável, contudo, que existe a felicidade momentânea.
Seligman – Sim, e ela pode ser aumentada por meio de artifícios como um chocolate, um bom filme, uma roupa nova, flores ou uma boa massagem. Mas não é preciso ser um estudioso do assunto para verificar que coisas boas e realizações importantes incrementam a felicidade apenas temporariamente. Acredita-se que em menos de três meses eventos importantes como uma promoção perdem o impacto. O grande desafio é manter o nível constante de felicidade. A psicologia tenta estabelecer se cada um de nós tem um limite próprio para a felicidade – um limite herdado geneticamente e para o qual invariavelmente voltamos, por obra de um termostato interno. Você me perguntou sobre a relação entre felicidade e dinheiro. Pois bem, um estudo feito com ganhadores de gordos prêmios de loteria revelou que, passada a euforia causada pela entrada de uma grande soma de dólares, todos retornaram a seu nível básico de felicidade. A boa notícia é que mesmo depois de um evento muito triste esse termostato também nos tira da infelicidade e nos leva de volta ao patamar anterior.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Infanticídio Indígena no Brasil
Não se trata de nenhum tipo de extermínio de crianças promovido por conquistadores estrangeiros, ou grileiros do Amazonas, ou mesmo por fazendeiros gananciosos tentando mais uma vez roubar terras pertencentes aos grupos indígenas. É bem pior!
Trata-se de costumes, de tradições de determinados grupos de índios (das 200 etnias existentes no Brasil, 20 pelo menos praticam o infanticídio), que, no afã de aplacar a ira dos deuses ou espíritos, sacrificam barbaramente crianças da própria tribo, que por apresentarem algum tipo de deficiência física ou mental, ou mesmo ser gêmeo ou filho de mãe solteira pagam com sua vida pelo absurdo de uma concepção supersticiosa da existência.
Tal barbaridade conta com o apoio do Governo Federal, em nome da preservação da cultura dos povos indígenas, como se assassinato fosse "cultura", coisa que só cabe na cabeça de antropólogos imbecis e outros defensores de baboseiras supersticiosas.
Um exemplo marcante e bem documentado foi o caso da indiazinha Hakani (veja documentário no youtube), que fora enterrada viva para evitar que os espíritos da tempestade voltassem a atacar a aldeia! Cultura? Não, superstição e erro que devem ser combatidos.
Aqui ao lado estão Muwaji Suruwahá e sua filha Iganani que teve paralisia cerbral e, logo, deveria ser sacrificada (fora condenada a morte por envenenamento) para não trazer má sorte para a tribo. Graças à coragem de sua mãe, que enfrentou a religiosidade estúpida e imbecilizante de sua tribo, e que em sua luta, inspirou a criação da Lei Muwaji (que tramita na Câmara, outro reduto de idiotas) que visa combater as práticas "tradicionais" que atentam contra a vida, Iganani está a salvo do obscurantismo supersticioso que tanto mal causou no passado (com todas as religiões que faziam sacrifícios humanos para agradar seus deuses e passando pela Inquisição católica, por exemplo) e que hoje, século 21, causa muitos ainda. Isso mostra que a estupidez ainda anda a solta e que sempre haverá defensores dessas práticas, enquanto aqueles que se indignam com os fatos permanecerem calados.
Trata-se de costumes, de tradições de determinados grupos de índios (das 200 etnias existentes no Brasil, 20 pelo menos praticam o infanticídio), que, no afã de aplacar a ira dos deuses ou espíritos, sacrificam barbaramente crianças da própria tribo, que por apresentarem algum tipo de deficiência física ou mental, ou mesmo ser gêmeo ou filho de mãe solteira pagam com sua vida pelo absurdo de uma concepção supersticiosa da existência.
Tal barbaridade conta com o apoio do Governo Federal, em nome da preservação da cultura dos povos indígenas, como se assassinato fosse "cultura", coisa que só cabe na cabeça de antropólogos imbecis e outros defensores de baboseiras supersticiosas.
Um exemplo marcante e bem documentado foi o caso da indiazinha Hakani (veja documentário no youtube), que fora enterrada viva para evitar que os espíritos da tempestade voltassem a atacar a aldeia! Cultura? Não, superstição e erro que devem ser combatidos.
Aqui ao lado estão Muwaji Suruwahá e sua filha Iganani que teve paralisia cerbral e, logo, deveria ser sacrificada (fora condenada a morte por envenenamento) para não trazer má sorte para a tribo. Graças à coragem de sua mãe, que enfrentou a religiosidade estúpida e imbecilizante de sua tribo, e que em sua luta, inspirou a criação da Lei Muwaji (que tramita na Câmara, outro reduto de idiotas) que visa combater as práticas "tradicionais" que atentam contra a vida, Iganani está a salvo do obscurantismo supersticioso que tanto mal causou no passado (com todas as religiões que faziam sacrifícios humanos para agradar seus deuses e passando pela Inquisição católica, por exemplo) e que hoje, século 21, causa muitos ainda. Isso mostra que a estupidez ainda anda a solta e que sempre haverá defensores dessas práticas, enquanto aqueles que se indignam com os fatos permanecerem calados.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Sobre o castigo corporal na educação de crianças.
"castiga teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo" (Provérbios)
Já defendi a punição física sob a forma de "palmadinhas na bunda" na educação de crianças por achar que elas não trariam nenhum tipo de dano catastrófico para a personalidade da criança e até ajudaria a colocar de forma mais enfática aqueles limites que são essenciais para a construção de uma personalidade saudável. Como pai, apliquei esse tipo de castigo apenas duas vezes, uma em cada filho, e por um tipo de "má criação" semelhante nos dois casos - desrespeito e desafio a minha autoridade de pai. Nas duas vezes me senti muito mal depois do ocorrido. Achei no fundo um ato covarde: um adulto (quase um gigante para uma criança de 5 e 6 anos) a dominar pela força, imobilizar no colo e mandar chineladas na bunda de um pequenino com cara de apavorado. De tanto reviver essa cena, fui tomando consciência de que a palmada ou chinelada não é educativa no sentido que esperávamos que fosse.
Os que defendem esse tipo de castigo argumentam, principalmente, que foram educados dessa forma e estão na atualidade muito bem, chegando até a agradecer aos seus pais por terem lhe castigado. Meditei sobre isso também, já que, eu também sou fruto dessa "educação" violenta: levei muitas surras de chinela, cinturão e porrada com as mãos também, tanto de meu pai quanto de minha mãe. O que aprendi com isso? Não lembro de ter aprendido nada, pois não parei de brigar com meus irmãos até chegar a adolescência, não passei a gostar de comer verduras ou frutas, e se aprendi algo foi a certeza - naquela época - de que meu pai não gostava de mim, essa foi a única conclusão a que cheguei em minhas análises juvenis. E até hoje tenho certeza que não lucrei nada dessa educação pela violência.
Gostaria de analisar alguns motivos pelos quais não defendo mais o castigo físico como medida educacional. Em primeiro lugar, porque a motivação para a aplicação do castigo é decorrente de uma emoção negativa: a raiva. Quando os pais partem para o uso da violência física só o fazem por estarem tomados pela raiva, pela ira e muitas vezes pelo ódio por aquilo que a criança fez ou pela própria existência da criança enquanto sujeito provocador dessa fúria. Os pais que reagem agressivamente às demandas do filho sofrem aquilo que nós psicólogos chamamos de "sequestro emocional", uma suspensão abrupta da razão, que nos deixa cegos e surdos a quaisquer apelos racionais, e nos leva a agir (ou reagir) inteiramente tomados pela carga emocional do momento; e sob o domínio da emoção, ficamos completamente irracionais, e a irracionalidade mora na ante-sala das decisões estúpidas.
Em segundo lugar, está mais do que provado pela Psicologia Behaviorista que o reforçamento é mil vezes mais eficaz que a punição para a aquisição ou manutenção daqueles comportamentos desejados pelo pai-mãe-educador. Então, se temos a ferramenta mais eficaz a nossa disposição por que não utilizá-la? Além disso existem outras formas de castigo que possuem a vantagem de não confundir mais ainda a cabeça da criança, ao ensiná-la que a violência é um meio legítimo de conseguir as coisas; pois, ao bater na criança é essa a mensagem que se está passando, lembrando que ela o (a) tem como modelo e aprende tudo isso com você pai-mãe. E mais: não se combate a violência (de crianças briguentas ou agressivas) com mais violência, isso é um completo contra senso.
Nosso terceiro motivo se refere ao desconhecimento dos pais acerca da vida mental das crianças, de suas capacidades cognitivas e de seu desenvolvimento emocional. Seria muito bom se todos os pais tivessem acesso a esse tipo de conhecimento, mas, o fato de não tê-lo não justifica sua permanência na ignorância. Hoje em dia a mídia (televisão, rádio, revistas e internet) aborda temas ligados à educação de crianças em suas programações, existem livros e mais livros versando sobre a Psicologia Infantil, e o acesso aos serviços de orientação psicológica foi grandemente facilitado pela inclusão dos psicólogos na rede de atenção básica a saúde ligado ao SUS. Logo, quem deseja se informar sobre como lidar melhor com seus filhos não tem mais desculpas, a informação é acessível nas grandes cidades. E quais as vantagens desse conhecimento? Compreender que por trás dos choros, birras, negativismos, medos, dificuldades alimentares e condutas agressivas, esconde-se carência afetiva, insegurança, sentimentos de culpa, necessidade de autoafirmação, presunção cognitiva, imitação etc. O conhecimento leva à compreensão de que o comportamento reprovável apresentado pela criança, é antes de tudo uma expressão das dificuldades dela e não uma afronta deliberada a autoridade parental.
Tem ainda um grupo de pessoas que afirmam usarem o castigo físico porque a Bíblia assim ensina. Esses são duplamente hipócritas. Primeiro porque se esquivam da responsabilidade pelo seu ato, que é justificado como ordem divina; e segundo porque quem assim procede, tão preocupado em cumprir a Bíblia se esquece de seguir outros conselhos bíblicos, tais como guardar o dia de sábado, não se alimentar de crustáceos ou mesmo tocar em mulher menstruada. A justificativa pela Bíblia é totalmente falha, e é geralmente dada por pessoas que desconhecem seu conteúdo e apegam-se a detalhes ouvidos ao acaso nos sermões de suas igrejas. Se vai seguir o escrito no livro de Provérbios (Pv.19.18, 22.15, 23.13-14), só para citar alguns poucos versículos em que se insiste no uso da "vara" para a correção da "má índole" das crianças, aproveite para seguir também o que preconiza o Deuteronômio (Dt. 22.20-21) quando sua filha lhe relatar que perdeu a virgindade antes do casamento. É realmente um absurdo tomar como código moral ou educacional os costumes de um povo tribal da Era do Bronze, promovido a mensagem inerrante de um deus todo-poderoso.
Desse modo, concluímos que a educação pela violência é injustificada, ineficaz e prejudicial ao desenvolvimento da personalidade da criança. Se não causa nenhuma catástrofe psicológica da dimensão de uma psicose, ainda assim é capaz de produzir seres humanos inseguros, medrosos, com baixa apreciação de si mesmo e aptos a reagir com violência para a consecução de seus objetivos. O mais grave de tudo, é que por trás dessa pseudo-medida educativa escondem-se os mais sórdidos desejos sádicos de adultos perturbados que usam seus filhos para a gratificação de seus impulsos pervertidos e patológicos. E depois de uma sessão de espancamento, alguns desses sádicos ainda tem a cara de pau de dizer: "eu fiz isso para o seu bem"... Só sendo louco para acreditar numa mentira dessa.
Já defendi a punição física sob a forma de "palmadinhas na bunda" na educação de crianças por achar que elas não trariam nenhum tipo de dano catastrófico para a personalidade da criança e até ajudaria a colocar de forma mais enfática aqueles limites que são essenciais para a construção de uma personalidade saudável. Como pai, apliquei esse tipo de castigo apenas duas vezes, uma em cada filho, e por um tipo de "má criação" semelhante nos dois casos - desrespeito e desafio a minha autoridade de pai. Nas duas vezes me senti muito mal depois do ocorrido. Achei no fundo um ato covarde: um adulto (quase um gigante para uma criança de 5 e 6 anos) a dominar pela força, imobilizar no colo e mandar chineladas na bunda de um pequenino com cara de apavorado. De tanto reviver essa cena, fui tomando consciência de que a palmada ou chinelada não é educativa no sentido que esperávamos que fosse.
Os que defendem esse tipo de castigo argumentam, principalmente, que foram educados dessa forma e estão na atualidade muito bem, chegando até a agradecer aos seus pais por terem lhe castigado. Meditei sobre isso também, já que, eu também sou fruto dessa "educação" violenta: levei muitas surras de chinela, cinturão e porrada com as mãos também, tanto de meu pai quanto de minha mãe. O que aprendi com isso? Não lembro de ter aprendido nada, pois não parei de brigar com meus irmãos até chegar a adolescência, não passei a gostar de comer verduras ou frutas, e se aprendi algo foi a certeza - naquela época - de que meu pai não gostava de mim, essa foi a única conclusão a que cheguei em minhas análises juvenis. E até hoje tenho certeza que não lucrei nada dessa educação pela violência.
Gostaria de analisar alguns motivos pelos quais não defendo mais o castigo físico como medida educacional. Em primeiro lugar, porque a motivação para a aplicação do castigo é decorrente de uma emoção negativa: a raiva. Quando os pais partem para o uso da violência física só o fazem por estarem tomados pela raiva, pela ira e muitas vezes pelo ódio por aquilo que a criança fez ou pela própria existência da criança enquanto sujeito provocador dessa fúria. Os pais que reagem agressivamente às demandas do filho sofrem aquilo que nós psicólogos chamamos de "sequestro emocional", uma suspensão abrupta da razão, que nos deixa cegos e surdos a quaisquer apelos racionais, e nos leva a agir (ou reagir) inteiramente tomados pela carga emocional do momento; e sob o domínio da emoção, ficamos completamente irracionais, e a irracionalidade mora na ante-sala das decisões estúpidas.
Em segundo lugar, está mais do que provado pela Psicologia Behaviorista que o reforçamento é mil vezes mais eficaz que a punição para a aquisição ou manutenção daqueles comportamentos desejados pelo pai-mãe-educador. Então, se temos a ferramenta mais eficaz a nossa disposição por que não utilizá-la? Além disso existem outras formas de castigo que possuem a vantagem de não confundir mais ainda a cabeça da criança, ao ensiná-la que a violência é um meio legítimo de conseguir as coisas; pois, ao bater na criança é essa a mensagem que se está passando, lembrando que ela o (a) tem como modelo e aprende tudo isso com você pai-mãe. E mais: não se combate a violência (de crianças briguentas ou agressivas) com mais violência, isso é um completo contra senso.
Nosso terceiro motivo se refere ao desconhecimento dos pais acerca da vida mental das crianças, de suas capacidades cognitivas e de seu desenvolvimento emocional. Seria muito bom se todos os pais tivessem acesso a esse tipo de conhecimento, mas, o fato de não tê-lo não justifica sua permanência na ignorância. Hoje em dia a mídia (televisão, rádio, revistas e internet) aborda temas ligados à educação de crianças em suas programações, existem livros e mais livros versando sobre a Psicologia Infantil, e o acesso aos serviços de orientação psicológica foi grandemente facilitado pela inclusão dos psicólogos na rede de atenção básica a saúde ligado ao SUS. Logo, quem deseja se informar sobre como lidar melhor com seus filhos não tem mais desculpas, a informação é acessível nas grandes cidades. E quais as vantagens desse conhecimento? Compreender que por trás dos choros, birras, negativismos, medos, dificuldades alimentares e condutas agressivas, esconde-se carência afetiva, insegurança, sentimentos de culpa, necessidade de autoafirmação, presunção cognitiva, imitação etc. O conhecimento leva à compreensão de que o comportamento reprovável apresentado pela criança, é antes de tudo uma expressão das dificuldades dela e não uma afronta deliberada a autoridade parental.
Tem ainda um grupo de pessoas que afirmam usarem o castigo físico porque a Bíblia assim ensina. Esses são duplamente hipócritas. Primeiro porque se esquivam da responsabilidade pelo seu ato, que é justificado como ordem divina; e segundo porque quem assim procede, tão preocupado em cumprir a Bíblia se esquece de seguir outros conselhos bíblicos, tais como guardar o dia de sábado, não se alimentar de crustáceos ou mesmo tocar em mulher menstruada. A justificativa pela Bíblia é totalmente falha, e é geralmente dada por pessoas que desconhecem seu conteúdo e apegam-se a detalhes ouvidos ao acaso nos sermões de suas igrejas. Se vai seguir o escrito no livro de Provérbios (Pv.19.18, 22.15, 23.13-14), só para citar alguns poucos versículos em que se insiste no uso da "vara" para a correção da "má índole" das crianças, aproveite para seguir também o que preconiza o Deuteronômio (Dt. 22.20-21) quando sua filha lhe relatar que perdeu a virgindade antes do casamento. É realmente um absurdo tomar como código moral ou educacional os costumes de um povo tribal da Era do Bronze, promovido a mensagem inerrante de um deus todo-poderoso.
Desse modo, concluímos que a educação pela violência é injustificada, ineficaz e prejudicial ao desenvolvimento da personalidade da criança. Se não causa nenhuma catástrofe psicológica da dimensão de uma psicose, ainda assim é capaz de produzir seres humanos inseguros, medrosos, com baixa apreciação de si mesmo e aptos a reagir com violência para a consecução de seus objetivos. O mais grave de tudo, é que por trás dessa pseudo-medida educativa escondem-se os mais sórdidos desejos sádicos de adultos perturbados que usam seus filhos para a gratificação de seus impulsos pervertidos e patológicos. E depois de uma sessão de espancamento, alguns desses sádicos ainda tem a cara de pau de dizer: "eu fiz isso para o seu bem"... Só sendo louco para acreditar numa mentira dessa.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
A sexualidade Infantil e a Separação dos Pais
Desde 1905, com a publicação dos “Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade”, de Sigmund Freud, não é mais novidade se falar na
existência de uma vida sexual na infância pautada por intensos desejos e
vivenciada mais amplamente nas fantasias. Freud não queria dizer que a criança
possui um desejo sexual igual ao dos adultos; longe disso. Ele insistia numa
sexualidade que evoluía por fases (chamadas psicossexuais) e que culminariam no
Complexo de Édipo, que exerceria uma função ordenadora da sexualidade adulta,
responsável inclusive por nossa orientação sexual.
Desse modo, do nascimento até os dois anos a criança vive o
clímax de suas experiências sexuais na estimulação da boca, lábios, língua e
mucosa bucal, daí essa fase ser chamada de fase oral. Na medida em que vai
crescendo essa primeira fase dá lugar a uma segunda (entre dois e três anos),
chamada fase anal, porque o interesse da criança é centrado agora em suas
atividades excretórias. E, finalmente, chega o momento da descoberta dos
genitais (três a seis anos), em que o interesse da criança gira em torno do
prazer proporcionado pela estimulação peniana ou clitoriana; Freud chamou a
essa fase de “fálica”, pelo fato de a criança conhecer apenas um órgão genital,
no caso o masculino, e também pelos aspectos simbólicos associados ao órgão.
É extremamente relevante sabermos que em todas essas fases o
mais importante não são os acontecimentos – traumáticos ou não – ocorridos na infância, mas, sobretudo, são as fantasias desse período da vida que serão
mais impactantes na formação da personalidade.
Na primeira fase, em que a boca se converte no centro do
mundo para a criança, suas fantasias estão ligadas ao desejo de incorporação,
de sucção e satisfação plena: seria algo como devorar o seio materno, na
linguagem da psicanalista austríaca Melanie Klein, para se livrar da privação
real.
Nas outras fases se dá o mesmo. Por exemplo: uma menina de 4
anos, em plena fase fálica e no auge do complexo edipiano, viverá intensas
fantasias de sedução e de gratificação masturbatória dirigida ao genitor de
sexo oposto. Some-se a isso a brutal erotização da infância promovida pela
mídia (novelas e programas infantis em que as apresentadoras vestem-se e
investem pesado num erotismo desnecessário); levará sem dúvidas a uma exacerbação
do complexo de Édipo, fazendo com que tais fantasias rompam a barreira de um
superego permissivo e ganhem expressões na linguagem das crianças, que podem
interpretar criativamente (graças a sua limitação cognitiva) até os cuidados de
higiene e/ou saúde dispensados pelos pais.
Assim sendo, é por demais comum ver meninas dizerem ser a
“namoradinha do papai”, ou que a boneca que ganhou de presente ser filha de
ambos, e isso é perfeitamente normal.
É claro que o escrito acima é apenas um resumo do resumo do
que acontece em nosso desenvolvimento psicossexual. Para maior conhecimento
sugerimos os livros “Psicanálise e Pediatria” de Françoise Dolto, “Noções
básicas de psicanálise” de Charles Brenner, e para quem quiser ir mais fundo,
as obras de Freud, de Karl Abraham e Melanie Klein.
A Separação dos pais
Num estudo belíssimo intitulado “Quando os pais se separam”,
Françoise Dolto sentencia: com filhos menores de cinco anos é melhor não se
separar se os pais conseguirem se aturar (conviverem pacificamente). Parece
loucura, mas tem explicação. Até os cinco anos a criança está numa fase de
pensamento definida por Jean Piaget como pré-operatória, ou seja, ela não vai
entender o por quê; e, é muito provável que se ache culpada por isso, ainda
mais se ela estiver na fase edipiana.
Agora imaginemos uma separação em clima hostil, em que a mãe
fala mal do pai e/ou o pai fala mal da mãe... Como ficará a cabeça de uma
criança que ainda crê em bicho-papão e papai Noel? E mais, como ficará a cabeça
da criança tendo que tomar partido ao lado de um deles se um deles quiser usar
algum artifício para prejudicar o outro?
E nós sabemos que na hora da raiva nosso senso crítico
desaparece, interpretamos mal as coisas e poderemos até ver além daquilo que a
realidade aponta. A criança, que ama os dois pais, sente-se dividida e perdida,
e em suas fantasias deve agradar a ambos, só que isso se mostrará impossível no
futuro, mas não na cabecinha de um pré-operacional que acredita cegamente que o
super-homem voa, que dor se cura com beijinhos e que tem um monstro dentro do
guarda-roupa.
Portanto, se a criança, a despeito de tudo, consegue manter
uma boa relação com seus pais – livre das neuroses de ambos – crescerá com o
firme propósito de não repetir os erros deles, mas sempre guardando uma secreta
esperança: “de ter mamãe e papai me protegendo e me amando”, nas palavras de
uma de minhas pequeninas pacientes.
(Pontuação do Prof. Antonio Lima na mesa redonda do II
Encontro de Psicologia da Criança em Maceió, 08 de outubro de 2009)
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Links para vídeo aulas no Youtube
Oi pessoal, abaixo encontram-se os links para algumas vídeo aulas (na verdade micro-aulas) sobre alguns assuntos abordados em minhas disciplinas na Universidade:
Postagens:
Aula 1: http://youtu.be/kYYOPkgv3e4
O que é Psicologia? Uma introdução à ciência do comportamento. São apenas 10 minutos em que tentamos conceituar e caracterizar a Psicologia como ciência.
aula 2: http://youtu.be/7_D9ltiXxBl
Uma introdução à Psicanálise 1. Aqui nós exploramos a criação da Psicanálise, sua pré-história, os experimentos com a histeria e a influência de Charcot e Breuer na invenção da Psicanálise.
aula 3: http://youtu.be/UJhj24bBH1U
Sobre o Homoerotismo - parte 1. Uma explicação psicanalítica sobre a homossexualidade, tratando basicamente da inadequação do termo "Homossexualismo" para dar conta do que ocorre no sujeito cuja orientação sexual é homoerótica.
aula 4: http://youtu.be/AaMM1m3qNHE
Homoerotismo - parte 2. Aqui destacamos o papel do Complexo de Édipo na estruturação da orientação sexual.
aula 5: http://youtu.be/r7fU-sAeAKY
Sobre o homoerotismo - parte 3. Nesta aula analisamos a repercussão do Projeto de Lei 122, da chamada "cura gay", da postura de alguns representantes da mídia religiosa, do Conselho Federal de Psicologia e do filósofo Olavo de Carvalho sobre o tema.
aula 6: http://youtu.be/BAlqYH_VK_l
Uma introdução à Psicanálise - parte 2. Nesta aula nós voltamos a história da Psicanálise, explanando as primeiras dissidências ao pensamento freudiano, no caso, a Psicologia Individual de Adler e a Psicologia Analítica de Jung.
terça-feira, 25 de junho de 2013
CURA GAY? Isso não existe!
A falta de informação, ou o que é bem pior a má informação que é promovida pela mídia brasileira (Revistas, jornais e TV) sobre o que se convencionou chamar de "Cura Gay" tem tomado proporções que saem da pura alienação para adentrar na esfera do delírio puro e simples.
Apregoou-se nos meios de comunicação que a Comissão de direitos humanos presidida por Marco Feliciano (a vidraça da vez já a um bom tempo) havia aprovado um projeto que permitia que psicólogos promovessem a cura da homossexualidade, e alguns jornalistas chegaram a afirmar que o projeto visava reverter a homossexualidade, transformar gays em heterossexuais, como se isso fosse possível (já escrevi sobre isso no artigo "Sobre a homossexualidade, rinocerontes e outros bichos).
Mais uma vez, como Psicólogo, é meu dever alertar as pessoas sobre esse erro: Não há CURA GAY, porque homossexualismo NÃO É DOENÇA. Entretanto o psicólogo pode e deve atender a qualquer ser humano que lhe procure e por qualquer motivo, até mesmo o gay que se sente angustiado por sua orientação sexual, sabendo é claro que não vai curá-lo de sua orientação.
Outra coisa: o PDC 234/2011 é de autoria do Deputado João Campos e é fruto de uma reivindicação de psicólogos que se sentiram atingidos por algumas resoluções burras e autoritárias do Conselho Federal de Psicologia, a saber a Resolução nº 1/1999 em seu artigo 3 §único e 4, e incide apenas sobre esses artigos retirando-os, dado seu caráter anti-constitucional, violador da liberdade de expressão e do exercício pleno da profissão, e ponto final.
E, caso queira saber mais detalhes, clique no link abaixo e veja as explicações do Pr. Marco Feliciano (eu também não simpatizo com ele, mas a verdade tem que ser dita) desmentindo a mídia safada e burra de nosso país.
NÃO EXISTE CURA GAY: http://youtu.be/LcCIBBNeczc
terça-feira, 30 de abril de 2013
Sobre a homossexualidade, rinocerontes e outros bichos.
Nos últimos meses os temas
homossexualismo, PL 122 e Comissão de Direitos Humanos tem ocupado lugar
significativo na mídia nacional, seja no rádio, nas TVs e na internet, trazendo
para o centro da discussão os pastores Silas Malafaia e sua cruzada contra os
abusos do Projeto de Lei 122/2006 e Marco Feliciano, que entrou de gaiato na
presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara
Federal, e sofre acirrada perseguição do caótico ativismo gay. Vou me meter
nessa discussão pontuando duas colocações do filósofo Olavo de Carvalho no
excelente artigo intitulado “Psicopatas e Psicólogos”, também comentarei um pedacinho
do seu hilariante vídeo “Sindrome de Piu-piu”, e de resto, descreverei
resumidamente os principais constructos psicanalíticos sobre a orientação
sexual.
O termo “homossexual” é
totalmente inadequado para descrever o que se passa no sujeito por ele
designado. A questão principal não é a sexualidade, mas o desejo (atração,
amor) pelo semelhante, que pode – e na maioria dos casos é assim – comportar
elementos sexuais, mas não necessariamente. E o contrário também existe:
sujeitos que fazem sexo com o semelhante sem ser por isso considerado como “homossexuais”,
já que essa prática só se mantém na impossibilidade de contato com o sexo
oposto; a isso Freud chamava de “homossexualismo situacional”, muito comum em
prisões, conventos e internatos. Outros termos foram propostos e utilizados ao
longo do tempo (Pederastia, Sodomitas, Invertidos, Afeminados etc.), mas, o que
mais se aproxima de uma descrição fidedigna que leva em consideração os
aspectos psicodinâmicos presentes no sujeito é o termo “Homoerotismo”.
Dito isto, passemos a
caracterizar essa orientação sexual homoerótica por aquilo que ela não é: 1)
não é opção, pois se os sujeitos pudessem escolher, certamente escolheriam
outra via menos dolorosa em termos psicossociais; 2) não é vício ou safadeza,
no sentido de que os indivíduos são levados a essa prática sexual e ficam
viciados ou controlados pela lascívia que tais práticas suscitariam; 3)não é
uma doença, logo, não dá pra se curar disso, assim como não se pode transformar
a orientação heterossexual em homossexual; e, 4)não é genética, pois, até o
presente não se conseguiu provar a existência de genes, cromossomos ou mutações
responsáveis pela determinação de uma orientação homoerótica.
Para a Psicanálise a orientação
sexual dos seres humanos, diferentemente do que acontece com os animais – e é
aí que vemos dificuldade em se postular causas determinadas geneticamente – se
dá na “Fase Fálica” do desenvolvimento psicossexual, mais ou menos entre o
terceiro e o quinto ano de vida, durante a resolução dos Complexos de Édipo e
de Castração, em que o menino busca identificar-se com o Pai (que é suposto
possuidor do Falo) abdicando do amor erótico e exclusivista que nutria por sua
mãe, evitando a castração e inscrevendo-se de vez no mundo masculino do desejo
pela mulher, sombra eterna da primeira amada. A menina por sua vez, ao
identificar-se com sua mãe (que na lógica fálica seria castrada), elege como
objeto de desejo a figura paterna (por ser o suposto possuidor do Falo) e
espera dele a sonhada realização fálica. Vale lembrar aqui que quando me refiro
a Pai e mãe estou designando lugares – ou funções – e não pessoas determinadas
ou mesmo existentes, pois um pai, mesmo morto antes do nascimento do filho pode
continuar a exercer sua função de Pai, e muitas vezes nós pudemos observar que
uma avó é quem verdadeiramente assume a função materna.
O sujeito homoerótico seria
aquele que no jogo amoroso edípico com sua mãe, não experimentou a interdição
paterna, ficando dessa forma, presa do desejo fálico dela (mãe), que no caso é
ele próprio (o filho). Essa ausência do Pai no desejo da mãe impede a
identificação do menino com o Pai Simbólico (fálico) e o remete ao primitivo
desejo de ser desejo do desejo da mãe, ou seja, de ser ele próprio o falo.
Desejar aquilo que ela deseja é embarcar de vez no desejo narcísico por si
mesmo (que é o desejo dela), e estender esse desejo somente àquilo que for
semelhante, pois, Narciso acha feio o que não é espelho. Esta aí de forma bem
resumida a dinâmica psíquica subjacente a toda orientação sexual. No caso das
mulheres direi apenas umas poucas palavras, deixando o desenvolvimento para
outro artigo, pois, para a Psicanálise não é possível uma orientação
homoerótica para as mulheres, mesmo que haja sexo entre elas. Sendo mais claro
e usando o termo que não gosto, ficaria assim: Não há homossexualismo feminino;
aquelas que adotam essa prática estão atuando (acting out) numa estrutura
Histérica ou ex-sistindo, como diria Lacan, num Complexo de Masculinidade.
O filosofo Olavo de Carvalho, de
quem discordo em inúmeras questões, principalmente em política e religião,
escreveu um belo artigo para o Diário do Comércio em dois de julho de 2012,
“Psicólogos e Psicopatas” em que mostra, mesmo sem ser Psicólogo mais conhecimento
da matéria que muitos que portam esse título, principalmente dos tontos (e
ativistas gays) que ocupam cargos no Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Esses psicólogos cuja visão do comportamento humano é muito limitada, o que demonstra
que não entendem de conceitos básicos da Psicologia, tais como: identificação,
motivação, psicopatologia, condicionamento, mudança de atitude, mecanismos de
defesa etc., necessitam que um Filósofo venha lembra-los que quando se trata da
conduta homoerótica deve-se levar em consideração não uma, mas várias questões
que estão além de um único comportamento ou prática sexual:
Resta, ademais, um fato
incontornável: como toda e
qualquer outra conduta sexual humana, o homossexualismo, em toda a
diversidade das condutas que o termo encobre, nem sempre emana de um desejo
sexual genuíno. Pode, em muitos casos, ser uma camuflagem, uma válvula de
escape para conflitos emocionais de outra ordem, até mesmo alheios à vida
sexual. É possível e obrigatório, nesse caso, falar de falso homossexualismo,
de homossexualismo neurótico ou mesmo psicótico, para distingui-lo do
homossexualismo normal, nascido de um autêntico e direto impulso erótico. [...]
A proibição de dar tratamento psicológico a pacientes que sintam desconforto
com a sua vida homossexual resulta num impedimento legal de distinguir entre
esses dois tipos de conduta especificamente diferentes, entre o mero impulso
sexual e a sintomatologia neurótica, equalizando, portanto, homossexualismo e
doença.
Portanto, se a obrigação do Psicólogo Clínico é prestar o melhor
atendimento ao seu alcance para aquele que o procura com um sofrimento ou dor psíquica
onde está o problema em oferecer ajuda ao sujeito homoerótico que sofre por sua
orientação sexual? Não se trata aqui de pregar ou propagandear a cura da
homossexualidade, até porque não há cura. O psicólogo que oferecesse tal
tratamento prometendo transformar gays em ex-gays deveria ter seu registro
cassado por propaganda enganosa e não por homofobia, porque se ele tiver
estudado um pouquinho apenas as principais teorias psicológicas sobre o tema
saberia que essa missão é impossível. Logo, não há sentido na perseguição
movida pelo CFP, ao pastor e psicólogo Silas Malafaia e a psicóloga cristã
Marisa Lobo por expressarem suas convicções religiosas que não são toleradas –
nem respeitadas – pelos ativistas gays dentro e fora do CFP que os acusam de
homofóbicos; se eles apenas seguem o que está escrito na Bíblia – ver Levítico
18:22 – e professam essa crença porque então vocês não fazem um grande
movimento antibíblico, com queima de Bíblias e tudo mais? Não tem coragem não é
mesmo. Como denunciou Carvalho em seu artigo supracitado, essa associação entre
o CFP e o ativismo gay em defesa do PL 122, não é só absurda, mas também
perigosa, pois os torna: "Mais que imcopetentes e indignos de exercer a profissão de psicólogos (...) são mentes deformadas, perigosas, destrutivas, cuja presença nos altos postos é promessas segura de danos e sofrimento para toda população".
Nestes quase trinta anos de atividade clínica em meu consultório e
em Unidades Básicas de Saúde, já atendi a dezenas de homossexuais (vou usar
esse termo aqui) de diferentes faixas etárias, etnias e religiões. E o que vi
foi o sofrimento de homens e mulheres, seres humanos a sofrer por um desejo que
não escolheram para si e que em muitos casos é mais forte que o desejo de não
senti-lo. Vi jovens, pré-adolescentes, meninos que sonhavam em ser “paquitas”
da Xuxa, e vi o ódio dissimulado no rosto dos familiares, a vergonha dos
irmãos. Vi senhores casados, com filhos, membros fieis de uma igreja, a sofrer
por apenas sentir o desejo pelo corpo de outro homem, sem nunca ter tido
qualquer tipo de contato homoerótico em sua vida. Vi homens gays, transgressores,
pervertidos também. Vi homens jovens apaixonados por outros homens também
jovens buscando viver seu amor sem (sic) “incomodar ou ser incomodado”. Vi
também mulheres e homens histéricos, profundamente neuróticos, introvertidos e
carentes, cuja necessidade imperiosa de afeto os levou a homossexualidade mesmo
não sendo homoeróticos, e a psicoterapia propiciou que eles se comprometessem
com seu real desejo e assumissem sua heterossexualidade. Assim como, favoreci
com minha escuta àqueles sujeitos que sofriam com sua orientação sexual e
aprenderam na psicoterapia ou na análise, a viver bem, “com esse estranho que
me habita” como me disse certa vez um jovem.
Apesar de discordar da visão teológica dos pastores Marco
Feliciano e Silas Malafaia, pois, acredito que ambos são “mercadores da fé”, ou
“pastores caça-níquel” – como Edir Macedo, Waldemiro Santiago, RR Soares e
tantos outros – em um ponto eles estão corretos: a defesa da liberdade de
expressão e da liberdade religiosa. É absurda a proposta dos ativistas gays em
seu desejo – insano – de criminalizar posições doutrinárias de religiões,
impondo às mesmas uma mordaça sob o pretexto de estar combatendo a homofobia.
Até porque, nunca vi nenhum padre ou pastor perseguindo homossexuais ou realizando
cruzadas de combate ao homossexualismo ou algo semelhante, pelo contrário, o
que vemos na mídia é a afirmação enfadonha até, de que “Deus ama o pecador, mas
odeia o pecado”, e mesmo que o religioso não concorde terá que defender essa
tese para ser coerente com seu livro sagrado.
O pastor Malafaia fala demais, se mete em áreas que não são as
suas em busca de argumentos que provem a anti-naturalidade das práticas
homossexuais e acaba metendo os pés pelas mãos ao utilizar argumentos da
biologia, da sociologia, da genética etc. Procurar argumentos em outras áreas
para encontrar razões científicas que apoiem pontos de vista que são puramente
religiosos, é, basicamente, não acreditar na justeza de seus próprios
argumentos. Qual a necessidade de um religioso procurar apoio para sua crença
em fundamentos científicos? Seria sua doutrina tão frágil assim que não se
sustenta sozinha? É o que parece. Vai aqui um conselho aos religiosos:
atenham-se ao seu credo, a sua teologia e a seus objetivos soteriológicos.
Acreditam que o Homoerotismo é pecado? Ótimo, digam isso, avisem que o fogo do
inferno aguarda os transgressores e ponto final. Essa é a crença e não há
teoria científica que a embase.
Quanto ao pastor Feliciano desde que foi eleito para a presidência
da CDHM virou a “vidraça” da vez. Famoso por proferir bobagens monumentais dos
púlpitos de sua igreja e dos congressos evangélicos – ele disse que Deus
castigou com a morte John Lennon, por ter dito que os Beatles eram mais
populares que Cristo e o grupo “Mamonas Assassinas” por corromperem as crianças
com suas letras cheia de palavrões – e por seu declarado etnocentrismo
religioso, que demoniza qualquer prática religiosa que não seja de inspiração judaico-cristã,
principalmente as de raízes africanas. Pra piorar – ou não – ele foi parar logo
no reduto mais queridinho da esquerda esquizofrênica brasileira (PT e PC do B) que
desde 1995 vinha se revezando na presidência da comissão. Marco Feliciano é
oportunista, pastor caça-níquel, histriônico e paspalhão, mas, isso não o
incapacita de presidir a CDHM, afinal de contas quatro dos ex-presidentes da
comissão são do partido do mensalão, da vigarice e da desonestidade e uma
ex-presidente, a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, pertence a um partido que
acha que o sanguinário paranoico Josef Stalin foi um exemplo de liderança.
Seria Feliciano racista ou homofóbico? Claro que não, é só mais um pastor
defendendo seu manual de instrução: a Bíblia. Seria ele preconceituoso? Certamente, como todo sujeito que defende um determinado credo doutrinário, seja religioso, político, filosófico etc.
Diante de todo esse rebuliço vale a pena prestar atenção ao que o
Filósofo Olavo de Carvalho chama de “Síndrome de Piu-piu”. Para quem não sabe,
trata-se de um desenho animado em que um canarinho amarelo é perseguido pelo
gato Frajola, que está sempre à espreita, às vezes, na cara do pássaro, que
olha para frente com cara de bobo e diz: eu acho que vi um gatinho! Ou seja, o
monstro está na nossa frente e nós o ignoramos, apenas temos a leve sensação de
que “vimos um gatinho”. Para ilustrar de forma dramática a passividade e
displicência dessas pessoas que “não estão nem aí pra nada”, o filósofo diz que
o sujeito está com uma “piroca de rinoceronte” enfiada em seu ânus e só sente
uma vaga impressão de desconforto, dessa forma fica fácil para o ativismo
intolerante – sejam eles gays ou não – impor sua vontade e criar mecanismos
espúrios para cercear nossa liberdade de expressão. É bom estar atento, pois
não se trata apenas de combate a homofobia, existem implicações de outra ordem
nessa história.
terça-feira, 16 de abril de 2013
Drogadicção: Texto 1.
Aspectos Psicodinâmicos
da Drogadicção
Antonio Carlos F. Lima
UNCISAL, Maceió, AL,
Brasil
O reconhecer que o sofrimento tem uma
função importante na existência humana não vai nos levar ao masoquismo, mas à
coragem necessária a não se dissolver no imediato apaziguamento indiscriminado
dos nossos desejos. (Wilson de Lyra Chebabi, in: Drogadicção: individuo,
família e sociedade.)
Comecemos por definir a droga
como qualquer substância capaz de alterar ou modificar o funcionamento do
organismo (física e/ou psiquicamente), afetando as funções corporais, o humor,
o comportamento, as sensações e a percepção. As drogas podem ser naturais ou
sintéticas, legais ou ilegais, e são geralmente classificadas em três
categorias: 1) depressivas: diminuem a atividade neural provocando desinibição,
sedação e nos casos mais graves o coma (álcool, opiáceos, benzodiazepinas); 2)
estimulantes: possuem efeito excitante acelerando as ações normais do cérebro
(nicotina, cafeína, cocaína, anfetaminas); e, 3) alucinógenas: desorganizam as
atividades cerebrais (maconha, ecstasy, LSD, cogumelos).
O uso – e abuso – de drogas é tão
antigo quanto a história dos seres humanos sobre a terra. Álcool, maconha e
ópio eram conhecidos pelos persas, mesopotâmicos, indianos e chineses a pelo
menos quatro mil anos. Gregos, romanos e hebreus foram consumidores vorazes de
vinho, os primeiros até possuíam deuses específicos (Dionísio e Baco) e
cultuavam com banquetes em que a embriagues ditava a regra. A folha da coca era
mascada pelos antigos habitantes da América do Sul bem antes da chegada dos
espanhóis, e na Ásia, a seita dos “hashishim” distribuía maconha e haxixe nas
iniciações para que os guerreiros experimentassem as recompensas da “outra
vida”. Historiadores começam a admitir
que a imagem da bruxa a voar sentada em uma vassoura seria derivada de uma
prática das feiticeiras da Idade Média de espalhar uma mistura de beladona,
meimendro negro e mandrágora na pele e região genital (para ser mais bem
absorvida) com uma vassourinha, e um dos efeitos desse preparado era a sensação
de voar. No século XV Cristovam Colombo descobre o tabaco, usado pelos nativos
das ilhas do Caribe, no século XVI Jean Nicot envia sementes para a Europa
fazendo com que nos dois séculos seguintes o uso de tabaco evoluísse da
aspiração de rape ao cachimbo e daí ao uso dos charutos e cigarros. Nos séculos
seguintes novas drogas são descobertas, tais como a cocaína, a heroína, as
anfetaminas e a morfina, que após terem se mostrado perigosas ao consumo livre,
tem seu uso restringido à prática medica. No entanto, o critério para que uma
droga seja legalizada ou considerada ilegal não parece ter nada a ver com o
risco que seu consumo traz à saúde pública; de acordo com pesquisas recentes
realizadas na Europa e Estados Unidos o uso de drogas legais como o álcool e
tabaco, causam mais danos à saúde pública do que as drogas ilegais.
Devido ao grande numero de
problemas de saúde causados ou associados ao uso e abuso de drogas, houve uma
mobilização maior por parte dos poderes constituídos levando a criação de
politicas públicas de combate às drogas, de prevenção, de tratamento e
reinserção social, e de redução dos danos sociais e à saúde do dependente
químico. Os principais problemas decorrentes do uso de drogas são: 1)
relacionados ao consumo intenso e crônico, que além de causarem inúmeras
doenças (do fígado, coração etc.) muitas vezes levam o individuo a morte; 2)
relacionados ao modo de consumo, que no caso das drogas injetáveis
transformam-se em uma via para a entrada de elementos patogênicos na corrente
sanguínea, provocando entre outros males a hepatite e a AIDS; 3) relacionado ao
modo de viver do usuário de drogas, que ao negligenciar cuidados básicos com
sua higiene, alimentação etc., gera diferentes tipos de problemas para a saúde;
4) relacionados a comportamentos de risco, que vão desde a promiscuidade
sexual, passando pela prostituição e envolvimento com a criminalidade, chegando
até a provocação de acidentes; 5) relacionado ao uso simultâneo de diferentes
drogas, que potencializa os danos causados ao organismo e em particular ao
cérebro, concorrendo de forma decisiva para as “overdoses”; e 6) relacionado à
capacidade de desenvolver dependência, que ocorre com grande frequência e é
responsável direta pela deterioração física e psíquica do dependente químico.
Não resta duvidas de que os maiores
problemas enfrentados pelos profissionais que lidam com a dependência química
são o baixo índice de adesão ao tratamento, de recuperação e de reinserção na
sociedade dos indivíduos que procuram ou são enviados para tratamentos
especializados. As recaídas são fenômenos tão frequentes que já constam como
problemática esperada durante o tratamento, o que nos leva a supor que não
existe tratamento medicamentoso, psicoterápico, sócio-terápico ou espiritualista – ou mesmo uma combinação
entre eles – que possa garantir com certeza a recuperação e reinserção do
sujeito ao convívio social sem uso de drogas.
O problema é antigo, mas nunca
esteve tão em evidência como nessa primeira década do século XXI. Além de
figurar diariamente nos telejornais, seja em reportagens de cunho policialesco em
que o tema principal é o combate ao tráfico de drogas, ou em reportagens cujo
interesse é a saúde pública, o tema da drogadicção já ocupa espaço considerável
nos canais de TV a cabo em “Reality Shows” como Drogas S/A, Intervenção e Dr.
Drew: celebrity rehab. Essa superexposição midiática tem um lado positivo, ao
aumentar a conscientização da população, leva-a a se mobilizar e cobrar das
autoridades constituídas que busquem soluções para esse mal endêmico que se
espalha por todo país. Ao fazermos uma pequena avaliação histórica da relação
estabelecida entre a postura da sociedade evidenciada pelos meios de
comunicação com relação ao uso de drogas, veremos que há uma evolução que vai
do ponto de vista repressivo-policial das décadas 1960-70, para quem o uso de
substancias psicoativas estava ligado à malandragem das favelas e aos hippies e
“outros vagabundos”, até a concepção atual que compreende a droga como um
problema social e de saúde pública, ainda que elidindo o fato de que essa mesma
sociedade que combate o uso e abuso de drogas ao mesmo tempo propicia seu
recrudescimento.
No Brasil e no mundo, a
dependência química vem sendo cada vez mais tratada como problema de saúde
pública. Temos observado a multiplicação das politicas de enfrentamento – tanto
no setor privado quanto no setor público – com a criação de clínicas particulares
de reabilitação, seja de caráter médico-psicológico ou religioso-assistencial,
e de centros especializados para atenção aos dependentes químicos nas Unidades
de Saúde municipais e estaduais vinculadas ao SUS. Entretanto, malgrado todas
as medidas de enfrentamento e combate ao uso de drogas efetuado pelos Caps-AD,
Consultórios de Rua, Clínicas de Reabilitação, Casas de Acolhimento e
Comunidades Terapêuticas não tem sido suficientes para evitar o crescimento
galopante do uso de drogas (licitas e ilícitas) em nosso país. Mesmo com as
medidas mais radicais (porque não dizer desesperadas?) tomadas pelo poder
público, como o internamento compulsório de dependentes químicos e a
desarticulação das chamadas “crackolândias” – que apenas mudam de endereço – o
problema não se resolve. Isso nos leva a formular uma questão: porque é tão
difícil tratar eficazmente a drogadicção?
Tentaremos responder a essa
pergunta utilizando como referencial teórico a Psicanálise, pois, acreditamos
que a dinâmica própria do “sistema inconsciente” do sujeito desempenha papel
crucial no processo que vai do uso recreativo a dependência (física e
psicológica). Desse modo, compreendemos a dependência química e – mais
especificamente – o dependente como produto (e ator) de uma prática alienada, “assim como também resultam fatalmente
alienadas a técnica e a teoria terapêuticas que, devido às suas limitações
ideológicas, devolvem passivamente o ex-adicto a uma sociedade que fomenta a
adicção em todas as suas formas” (KALINA,1976,p.18).
O pai da psicanálise não escreveu
nenhum texto que tratasse especificamente do uso de drogas ou da dependência
química. Seus comentários sobre o tema – principalmente ligados ao alcoolismo –
podem ser encontrado em alguns textos do período “pré-psicanalítico” como:
“Tratamento psíquico (ou mental)” de 1890; em duas cartas ao amigo Fliess, em
1897;e “A sexualidade na etiologia das
neuroses” de 1898. Já no período
psicanalítico os principais textos que fazem referência à drogadicção são: “O
chiste e sua relação com o inconsciente”, “O humor (1927)”, “Dostoievski e o
parricídio (1928)” e “O mal-estar na civilização (1930)”. O porquê de Freud não
ter dedicado uma obra especial a esse tema continuará sendo desconhecido para
nós, embora alguns críticos afirmem que por ele ter sido usuário de cocaína (e
ter abandonado a droga sem dificuldades) e viciado em tabaco, não percebia a
importância das adicções enquanto patologia que merecesse uma dedicação
exclusiva. O que importa é que não há um lugar delimitado ou definido para o toxicômano
nas estruturas psicopatológicas clássicas da psicanálise (Neurose, Psicose e
Perversão), ou seja, isso sugere que o fármaco-dependente pode transitar
livremente em qualquer uma dessas estruturas sem que seu sintoma seja
característica do vínculo a uma delas. Desse modo um neurótico, um psicótico ou
um perverso podem fazer (ou não) um uso problemático da droga.
No primeiro texto em que Freud
alude a drogadicção, a carta a Fliess de 22 de dezembro de 1897, aponta a
masturbação como sendo o protótipo das toxicomanias: “[...] Comecei a compreender que a masturbação é o grande hábito, o
‘vício primário’ e que é somente como sucedâneo e substituto dela que outros
vícios – álcool, morfina, tabaco, etc. – adquirem existência” (FREUD,
1950/1997, p. 367). Em outra carta para Fliess, Freud enfatiza a diferença
entre o hábito e o vício lembrando que nem todo usuário desenvolverá um vício: “Nem todos que tem oportunidade de tomar
morfina, cocaína, hidrato de cloral, e assim por diante, por algum tempo,
adquirem dessa forma ‘um vício’” (FREUD, 1898/1989, p.230-231).
Em um exame psicodinâmico do
problema, podemos isolar três elementos constituintes desse dinamismo
psicossocial em constante inter-relação: o sujeito (drogadicto,
fármaco-dependente, toxicômano, dependente químico etc.), o objeto droga
(tabaco, álcool, maconha etc.) e o meio (família, grupos, sociedade). A ênfase
aqui recairá sobre o sujeito sem, no entanto imaginá-lo dissociado dos outros
dois elementos, pois, constatamos que o
comportamento do dependente químico é um movimento incessante de tentar reconciliar
o irreconciliável: resolver o conflito entre o Princípio de Prazer e o
Princípio de Realidade a partir da anulação do segundo devido a seus efeitos
potencialmente dolorosos. Algo semelhante ao “Pharmakon” no sentido apontado
por Jacques Derrida em “A farmácia de Platão”, uma poção “mágica” que curaria
todos os males. Elimina-se – ainda que temporariamente, daí a necessidade de
repetição – a realidade dolorosa com o uso continuado da poção mágica que
manterá (enquanto magia houver) o usuário no reino encantado do Princípio do
Prazer.
O grande problema do “pharmakon”
de nossos dias é a rapidez da duração de seus efeitos miraculosos. Sua ação é limitada
pelo tempo, não cura essa insatisfação (com o mundo e consigo mesmo), apenas
apazigua por um lapso de tempo esse “mal estar na civilização”. Em um texto
homônimo de 1930, Freud sustenta que o meio mais eficaz de evitar o sofrimento
e ter prazer imediato é a intoxicação: “não
creio que alguém compreenda inteiramente o seu mecanismo; é fato, porem, que
existem substâncias estranhas, as quais, quando presentes no sangue ou nos
tecidos, provocam em nós, diretamente, sensações prazerosas, alterando, também,
tanto as condições que dirigem nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes
de receber impulsos desagradáveis. Os dois efeitos não só ocorrem de modo
simultâneo, como parecem estar íntima e mutuamente ligados. No entanto, é possível
que haja substâncias na química de nossos próprios corpos que apresentem
efeitos semelhantes, pois conhecemos pelo menos um estado patológico, a mania,
no qual uma condição semelhante à intoxicação surge sem administração de qualquer
droga intoxicante (FREUD, 1930/1974)”.
Contudo, só existe uma maneira de
se livrar desse “mal estar” da existência humana que é justamente deixar de
existir; ou seja, morrer. Para MELMAN (2003) “drogar-se é experimentar uma espécie de morte. Ou, melhor, os drogados
são mortos vivos, ou vivo mortos”. Enquanto estamos vivos seremos sempre
seres desejantes, e se há desejo há possibilidade de sofrimento e insatisfação,
até porque “se não há desconforto, não há
desejo (MELMAN,2003,59)”. Portanto, como seres inseridos na economia do
desejo, traremos sempre inscrito em nossos corpos e mentes um “comprovante da
falta” (MASOTTA, 1987), um lugar de desconforto que Pharmakon nenhum poderá
apaziguar, daí o comportamento compulsivo do dependente químico que vai
necessitar sempre de mais uma dose para manter-se nesse lugar fora do Princípio
de Realidade, fora da existência, e quem sabe um dia, cessar todo sofrimento em
uma “overdose”.
Freud, nas curtas linhas que
dedicou ao exame do “alcoolismo e toxicomania” no texto de 1904, “O chiste e
sua relação com o inconsciente”, e também nos “Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade” de 1905, associa a drogadicção à fase oral do desenvolvimento
psicossexual. No texto de 1905, em um subitem sobre o autoerotismo ele escreve: “Não é toda criança que suga desta
maneira. Pode-se presumir que as crianças que assim agem são aquelas nas quais
existe uma intensificação constitucional da importância erógena da região
labial. Se esta importância persistir, estas mesmas crianças, quando crescem,
tornar-se-ão epicuros do beijo, inclinar-se-ão ao beijo pervertido ou, se do
sexo masculino, terão poderoso motivo para beber e fumar (FREUD, 1905/1972, p.
187)”. Karl Abraham destaca a compulsão oral nas toxicomanias – e mais
precisamente no alcoolismo – como um dos elementos mais importantes do
comportamento adictivo. Um psicanalista que dedicou atenção especial ao tema
foi Sandor Rado; para ele a base de toda toxicomania estava assentada naquilo
que chamava de “depressão tensa” fruto da incapacidade do sujeito de tolerar o
sofrimento. Desse modo, a droga faria cessar o sofrimento e a depressão gerando
euforia e estimulação, fazendo com que o frágil ego desse individuo
reencontrasse nesses momentos mágicos a satisfação narcísica perdida, e isso
remete o sujeito a primitiva fase oral, modelo e medida de toda forma de
gratificação e satisfação posteriores. Rado
chamava de “orgasmo farmacológico” a esse movimento de busca do drogadicto e
afirmava que era uma reprodução do orgasmo alimentar experimentado pela criança
pequena em que está envolvida uma forte excitação que decorre de uma
antecipação do prazer “que põe em movimento o processo de gratificação”.
O psicanalista britânico Edward
Glover entendia a toxicomania como uma defesa contra as reações psicóticas
típicas dos estados regressivos. Para ele, além de a drogadicção possuir
semelhanças com a psicose maníaco-depressiva, funcionaria também – na fase
depressiva – como medida protetora contra o suicídio. Outros psicanalistas
partidários da teorização que prioriza os elementos “maníaco-depressivos”
presentes na toxicomania foram Simmel (1930), Bergler (1935), Weijl (1944),
Meerloo (1952) e Rosenfeld (1964), que entre outras coisas apontava a fraqueza
do ego do dependente químico e sua incapacidade para suportar a depressão como
responsáveis pela busca do objeto droga que o manteria numa dimensão maníaca
geradora de identificações idealizadas com o “objeto ideal” e onipotente. Para
ele, a droga além de “simbolizar” o objeto ideal é também um meio para acabar de
forma radical com todo e qualquer objeto (e situação) frustrador e/ou
persecutório.
Para a chamada “Escola Inglesa”
de inspiração Kleiniana o foco foi colocado sobre a dificuldade do drogadicto
em elaborar a “posição depressiva” numa tentativa de evitar a dor, a depressão
e a ansiedade persecutória. Entretanto, o que pareceria ser uma medida
salvadora a primeira vista, coloca o sujeito numa situação perigosa de
desintegração total de seu ego, ou seja, a psicose. Nesse mesmo caminho, mas
sem recorrer aos mecanismos primitivos da mente do bebê – como fazem os
kleinianos – está o psicanalista argentino David Liberman. Ele observa no
comportamento do adicto, principalmente no fenômeno da intolerância a espera e
na impossibilidade de relacionar passado e presente, traços de uma conduta
nitidamente psicopática. Assim como o psicopata, o drogadicto também não
suporta perdas e o objeto droga surge como eliminador da ansiedade da espera e
da angústia da frustração, e como tampão dos buracos de seu ego frágil e em contato
(perigoso) com o núcleo psicótico que nos é comum.
Jacques Lacan (1973) definiu as
toxicomanias como um rompimento com o gozo fálico, que seria ligado ao registro
Simbólico em que imperam a Lei e a Castração. Isso significa que ao romper com
a instância da Lei, da regulação da satisfação do desejo (que causa angustia),
o sujeito teria acesso ao “gozo pleno”, e se colocaria no mundo como um ser não
castrado, livre da castração e de sua concomitante angústia, em suma, um ser
fora da realidade, psicótico talvez? Uma das contribuições mais importantes
formuladas pelos teóricos de inspiração lacaniana foi a de insistir na
singularidade do uso que o sujeito faz do objeto droga, que poderá ou não
leva-lo a toxicomania. Cada sujeito responde a um apelo que lhe é particular: o
individuo pode usar a droga como forma de transgressão para convocar a Lei do
Pai; pode também usá-la – como é muito comum na adolescência – como instrumento
que lhe confira uma identidade e laços sociais fora do grupo familiar; pode até
usá-la para morrer. O que vai definir sua posição no contexto da drogadicção e
apontar pistas para a possibilidade de “cura”, é justamente o tipo de vínculo
que esse individuo em particular vai estabelecer com esse objeto (a droga) em
seu meio social, cultural etc.
Para a psicanálise, e aqui
concordam freudianos, kleinianos e lacanianos, o elemento central a ser levado
em consideração na análise e na tentativa de achar soluções para a problemática
da drogadicção é o indivíduo, o sujeito, “e,
portanto, os critérios considerados capazes de diferenciar os tipos de usuários
e as formas de uso existentes não são os mesmos utilizados pela psiquiatria ou
pela psicopatologia, mas dizem respeito à modalidade de gozo experimentada e
suportada por cada sujeito que escolhe a via da intoxicação (RIBEIRO, 2011,
p.636)”. E outro ponto de concordância entre os psicanalistas diz respeito à
definição de toxicomania, que não é definida nem pelo tipo de droga utilizada,
nem pela frequência com que o sujeito a utiliza, mas pelo “lugar que ela [a
droga] ocupa na subjetividade do paciente (NOGUEIRA, 2006)”.
Pelo que podemos deduzir de tudo
que foi discutido nesse breve artigo sobre os aspectos psicodinâmicos da
drogadicção, o problema se apresenta em três facetas – o sujeito, a droga e o
meio – e só levando-se em consideração a inter-relação complexa entre elas é
que se pode dar alguma resposta satisfatória a questão da dependência química.
Só com a ultrapassagem das limitações impostas pela hipocrisia da sociedade,
que ao legitimar certas práticas e demonizar outras, não faz mais que afirmar o
caráter perverso de seu vinculo ao sistema de produção, tornando praticamente
impossível recuperar o sujeito mantendo o meio e mudando o objeto droga.
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dirigidos a Fliess (1950 [1892-1899]): carta 79. (Edição Standard Brasileira
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de Sigmund Freud, vol. 3). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
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civilização. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, vol. 21). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
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RIBEIRO, Cynara Teixeira. Usuário
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