Nos últimos meses os temas
homossexualismo, PL 122 e Comissão de Direitos Humanos tem ocupado lugar
significativo na mídia nacional, seja no rádio, nas TVs e na internet, trazendo
para o centro da discussão os pastores Silas Malafaia e sua cruzada contra os
abusos do Projeto de Lei 122/2006 e Marco Feliciano, que entrou de gaiato na
presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara
Federal, e sofre acirrada perseguição do caótico ativismo gay. Vou me meter
nessa discussão pontuando duas colocações do filósofo Olavo de Carvalho no
excelente artigo intitulado “Psicopatas e Psicólogos”, também comentarei um pedacinho
do seu hilariante vídeo “Sindrome de Piu-piu”, e de resto, descreverei
resumidamente os principais constructos psicanalíticos sobre a orientação
sexual.
O termo “homossexual” é
totalmente inadequado para descrever o que se passa no sujeito por ele
designado. A questão principal não é a sexualidade, mas o desejo (atração,
amor) pelo semelhante, que pode – e na maioria dos casos é assim – comportar
elementos sexuais, mas não necessariamente. E o contrário também existe:
sujeitos que fazem sexo com o semelhante sem ser por isso considerado como “homossexuais”,
já que essa prática só se mantém na impossibilidade de contato com o sexo
oposto; a isso Freud chamava de “homossexualismo situacional”, muito comum em
prisões, conventos e internatos. Outros termos foram propostos e utilizados ao
longo do tempo (Pederastia, Sodomitas, Invertidos, Afeminados etc.), mas, o que
mais se aproxima de uma descrição fidedigna que leva em consideração os
aspectos psicodinâmicos presentes no sujeito é o termo “Homoerotismo”.
Dito isto, passemos a
caracterizar essa orientação sexual homoerótica por aquilo que ela não é: 1)
não é opção, pois se os sujeitos pudessem escolher, certamente escolheriam
outra via menos dolorosa em termos psicossociais; 2) não é vício ou safadeza,
no sentido de que os indivíduos são levados a essa prática sexual e ficam
viciados ou controlados pela lascívia que tais práticas suscitariam; 3)não é
uma doença, logo, não dá pra se curar disso, assim como não se pode transformar
a orientação heterossexual em homossexual; e, 4)não é genética, pois, até o
presente não se conseguiu provar a existência de genes, cromossomos ou mutações
responsáveis pela determinação de uma orientação homoerótica.
Para a Psicanálise a orientação
sexual dos seres humanos, diferentemente do que acontece com os animais – e é
aí que vemos dificuldade em se postular causas determinadas geneticamente – se
dá na “Fase Fálica” do desenvolvimento psicossexual, mais ou menos entre o
terceiro e o quinto ano de vida, durante a resolução dos Complexos de Édipo e
de Castração, em que o menino busca identificar-se com o Pai (que é suposto
possuidor do Falo) abdicando do amor erótico e exclusivista que nutria por sua
mãe, evitando a castração e inscrevendo-se de vez no mundo masculino do desejo
pela mulher, sombra eterna da primeira amada. A menina por sua vez, ao
identificar-se com sua mãe (que na lógica fálica seria castrada), elege como
objeto de desejo a figura paterna (por ser o suposto possuidor do Falo) e
espera dele a sonhada realização fálica. Vale lembrar aqui que quando me refiro
a Pai e mãe estou designando lugares – ou funções – e não pessoas determinadas
ou mesmo existentes, pois um pai, mesmo morto antes do nascimento do filho pode
continuar a exercer sua função de Pai, e muitas vezes nós pudemos observar que
uma avó é quem verdadeiramente assume a função materna.
O sujeito homoerótico seria
aquele que no jogo amoroso edípico com sua mãe, não experimentou a interdição
paterna, ficando dessa forma, presa do desejo fálico dela (mãe), que no caso é
ele próprio (o filho). Essa ausência do Pai no desejo da mãe impede a
identificação do menino com o Pai Simbólico (fálico) e o remete ao primitivo
desejo de ser desejo do desejo da mãe, ou seja, de ser ele próprio o falo.
Desejar aquilo que ela deseja é embarcar de vez no desejo narcísico por si
mesmo (que é o desejo dela), e estender esse desejo somente àquilo que for
semelhante, pois, Narciso acha feio o que não é espelho. Esta aí de forma bem
resumida a dinâmica psíquica subjacente a toda orientação sexual. No caso das
mulheres direi apenas umas poucas palavras, deixando o desenvolvimento para
outro artigo, pois, para a Psicanálise não é possível uma orientação
homoerótica para as mulheres, mesmo que haja sexo entre elas. Sendo mais claro
e usando o termo que não gosto, ficaria assim: Não há homossexualismo feminino;
aquelas que adotam essa prática estão atuando (acting out) numa estrutura
Histérica ou ex-sistindo, como diria Lacan, num Complexo de Masculinidade.
O filosofo Olavo de Carvalho, de
quem discordo em inúmeras questões, principalmente em política e religião,
escreveu um belo artigo para o Diário do Comércio em dois de julho de 2012,
“Psicólogos e Psicopatas” em que mostra, mesmo sem ser Psicólogo mais conhecimento
da matéria que muitos que portam esse título, principalmente dos tontos (e
ativistas gays) que ocupam cargos no Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Esses psicólogos cuja visão do comportamento humano é muito limitada, o que demonstra
que não entendem de conceitos básicos da Psicologia, tais como: identificação,
motivação, psicopatologia, condicionamento, mudança de atitude, mecanismos de
defesa etc., necessitam que um Filósofo venha lembra-los que quando se trata da
conduta homoerótica deve-se levar em consideração não uma, mas várias questões
que estão além de um único comportamento ou prática sexual:
Resta, ademais, um fato
incontornável: como toda e
qualquer outra conduta sexual humana, o homossexualismo, em toda a
diversidade das condutas que o termo encobre, nem sempre emana de um desejo
sexual genuíno. Pode, em muitos casos, ser uma camuflagem, uma válvula de
escape para conflitos emocionais de outra ordem, até mesmo alheios à vida
sexual. É possível e obrigatório, nesse caso, falar de falso homossexualismo,
de homossexualismo neurótico ou mesmo psicótico, para distingui-lo do
homossexualismo normal, nascido de um autêntico e direto impulso erótico. [...]
A proibição de dar tratamento psicológico a pacientes que sintam desconforto
com a sua vida homossexual resulta num impedimento legal de distinguir entre
esses dois tipos de conduta especificamente diferentes, entre o mero impulso
sexual e a sintomatologia neurótica, equalizando, portanto, homossexualismo e
doença.
Portanto, se a obrigação do Psicólogo Clínico é prestar o melhor
atendimento ao seu alcance para aquele que o procura com um sofrimento ou dor psíquica
onde está o problema em oferecer ajuda ao sujeito homoerótico que sofre por sua
orientação sexual? Não se trata aqui de pregar ou propagandear a cura da
homossexualidade, até porque não há cura. O psicólogo que oferecesse tal
tratamento prometendo transformar gays em ex-gays deveria ter seu registro
cassado por propaganda enganosa e não por homofobia, porque se ele tiver
estudado um pouquinho apenas as principais teorias psicológicas sobre o tema
saberia que essa missão é impossível. Logo, não há sentido na perseguição
movida pelo CFP, ao pastor e psicólogo Silas Malafaia e a psicóloga cristã
Marisa Lobo por expressarem suas convicções religiosas que não são toleradas –
nem respeitadas – pelos ativistas gays dentro e fora do CFP que os acusam de
homofóbicos; se eles apenas seguem o que está escrito na Bíblia – ver Levítico
18:22 – e professam essa crença porque então vocês não fazem um grande
movimento antibíblico, com queima de Bíblias e tudo mais? Não tem coragem não é
mesmo. Como denunciou Carvalho em seu artigo supracitado, essa associação entre
o CFP e o ativismo gay em defesa do PL 122, não é só absurda, mas também
perigosa, pois os torna: "Mais que imcopetentes e indignos de exercer a profissão de psicólogos (...) são mentes deformadas, perigosas, destrutivas, cuja presença nos altos postos é promessas segura de danos e sofrimento para toda população".
Nestes quase trinta anos de atividade clínica em meu consultório e
em Unidades Básicas de Saúde, já atendi a dezenas de homossexuais (vou usar
esse termo aqui) de diferentes faixas etárias, etnias e religiões. E o que vi
foi o sofrimento de homens e mulheres, seres humanos a sofrer por um desejo que
não escolheram para si e que em muitos casos é mais forte que o desejo de não
senti-lo. Vi jovens, pré-adolescentes, meninos que sonhavam em ser “paquitas”
da Xuxa, e vi o ódio dissimulado no rosto dos familiares, a vergonha dos
irmãos. Vi senhores casados, com filhos, membros fieis de uma igreja, a sofrer
por apenas sentir o desejo pelo corpo de outro homem, sem nunca ter tido
qualquer tipo de contato homoerótico em sua vida. Vi homens gays, transgressores,
pervertidos também. Vi homens jovens apaixonados por outros homens também
jovens buscando viver seu amor sem (sic) “incomodar ou ser incomodado”. Vi
também mulheres e homens histéricos, profundamente neuróticos, introvertidos e
carentes, cuja necessidade imperiosa de afeto os levou a homossexualidade mesmo
não sendo homoeróticos, e a psicoterapia propiciou que eles se comprometessem
com seu real desejo e assumissem sua heterossexualidade. Assim como, favoreci
com minha escuta àqueles sujeitos que sofriam com sua orientação sexual e
aprenderam na psicoterapia ou na análise, a viver bem, “com esse estranho que
me habita” como me disse certa vez um jovem.
Apesar de discordar da visão teológica dos pastores Marco
Feliciano e Silas Malafaia, pois, acredito que ambos são “mercadores da fé”, ou
“pastores caça-níquel” – como Edir Macedo, Waldemiro Santiago, RR Soares e
tantos outros – em um ponto eles estão corretos: a defesa da liberdade de
expressão e da liberdade religiosa. É absurda a proposta dos ativistas gays em
seu desejo – insano – de criminalizar posições doutrinárias de religiões,
impondo às mesmas uma mordaça sob o pretexto de estar combatendo a homofobia.
Até porque, nunca vi nenhum padre ou pastor perseguindo homossexuais ou realizando
cruzadas de combate ao homossexualismo ou algo semelhante, pelo contrário, o
que vemos na mídia é a afirmação enfadonha até, de que “Deus ama o pecador, mas
odeia o pecado”, e mesmo que o religioso não concorde terá que defender essa
tese para ser coerente com seu livro sagrado.
O pastor Malafaia fala demais, se mete em áreas que não são as
suas em busca de argumentos que provem a anti-naturalidade das práticas
homossexuais e acaba metendo os pés pelas mãos ao utilizar argumentos da
biologia, da sociologia, da genética etc. Procurar argumentos em outras áreas
para encontrar razões científicas que apoiem pontos de vista que são puramente
religiosos, é, basicamente, não acreditar na justeza de seus próprios
argumentos. Qual a necessidade de um religioso procurar apoio para sua crença
em fundamentos científicos? Seria sua doutrina tão frágil assim que não se
sustenta sozinha? É o que parece. Vai aqui um conselho aos religiosos:
atenham-se ao seu credo, a sua teologia e a seus objetivos soteriológicos.
Acreditam que o Homoerotismo é pecado? Ótimo, digam isso, avisem que o fogo do
inferno aguarda os transgressores e ponto final. Essa é a crença e não há
teoria científica que a embase.
Quanto ao pastor Feliciano desde que foi eleito para a presidência
da CDHM virou a “vidraça” da vez. Famoso por proferir bobagens monumentais dos
púlpitos de sua igreja e dos congressos evangélicos – ele disse que Deus
castigou com a morte John Lennon, por ter dito que os Beatles eram mais
populares que Cristo e o grupo “Mamonas Assassinas” por corromperem as crianças
com suas letras cheia de palavrões – e por seu declarado etnocentrismo
religioso, que demoniza qualquer prática religiosa que não seja de inspiração judaico-cristã,
principalmente as de raízes africanas. Pra piorar – ou não – ele foi parar logo
no reduto mais queridinho da esquerda esquizofrênica brasileira (PT e PC do B) que
desde 1995 vinha se revezando na presidência da comissão. Marco Feliciano é
oportunista, pastor caça-níquel, histriônico e paspalhão, mas, isso não o
incapacita de presidir a CDHM, afinal de contas quatro dos ex-presidentes da
comissão são do partido do mensalão, da vigarice e da desonestidade e uma
ex-presidente, a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, pertence a um partido que
acha que o sanguinário paranoico Josef Stalin foi um exemplo de liderança.
Seria Feliciano racista ou homofóbico? Claro que não, é só mais um pastor
defendendo seu manual de instrução: a Bíblia. Seria ele preconceituoso? Certamente, como todo sujeito que defende um determinado credo doutrinário, seja religioso, político, filosófico etc.
Diante de todo esse rebuliço vale a pena prestar atenção ao que o
Filósofo Olavo de Carvalho chama de “Síndrome de Piu-piu”. Para quem não sabe,
trata-se de um desenho animado em que um canarinho amarelo é perseguido pelo
gato Frajola, que está sempre à espreita, às vezes, na cara do pássaro, que
olha para frente com cara de bobo e diz: eu acho que vi um gatinho! Ou seja, o
monstro está na nossa frente e nós o ignoramos, apenas temos a leve sensação de
que “vimos um gatinho”. Para ilustrar de forma dramática a passividade e
displicência dessas pessoas que “não estão nem aí pra nada”, o filósofo diz que
o sujeito está com uma “piroca de rinoceronte” enfiada em seu ânus e só sente
uma vaga impressão de desconforto, dessa forma fica fácil para o ativismo
intolerante – sejam eles gays ou não – impor sua vontade e criar mecanismos
espúrios para cercear nossa liberdade de expressão. É bom estar atento, pois
não se trata apenas de combate a homofobia, existem implicações de outra ordem
nessa história.
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