terça-feira, 30 de abril de 2013

Sobre a homossexualidade, rinocerontes e outros bichos.

Nos últimos meses os temas homossexualismo, PL 122 e Comissão de Direitos Humanos tem ocupado lugar significativo na mídia nacional, seja no rádio, nas TVs e na internet, trazendo para o centro da discussão os pastores Silas Malafaia e sua cruzada contra os abusos do Projeto de Lei 122/2006 e Marco Feliciano, que entrou de gaiato na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal, e sofre acirrada perseguição do caótico ativismo gay. Vou me meter nessa discussão pontuando duas colocações do filósofo Olavo de Carvalho no excelente artigo intitulado “Psicopatas e Psicólogos”, também comentarei um pedacinho do seu hilariante vídeo “Sindrome de Piu-piu”, e de resto, descreverei resumidamente os principais constructos psicanalíticos sobre a orientação sexual.

O termo “homossexual” é totalmente inadequado para descrever o que se passa no sujeito por ele designado. A questão principal não é a sexualidade, mas o desejo (atração, amor) pelo semelhante, que pode – e na maioria dos casos é assim – comportar elementos sexuais, mas não necessariamente. E o contrário também existe: sujeitos que fazem sexo com o semelhante sem ser por isso considerado como “homossexuais”, já que essa prática só se mantém na impossibilidade de contato com o sexo oposto; a isso Freud chamava de “homossexualismo situacional”, muito comum em prisões, conventos e internatos. Outros termos foram propostos e utilizados ao longo do tempo (Pederastia, Sodomitas, Invertidos, Afeminados etc.), mas, o que mais se aproxima de uma descrição fidedigna que leva em consideração os aspectos psicodinâmicos presentes no sujeito é o termo “Homoerotismo”. 

Dito isto, passemos a caracterizar essa orientação sexual homoerótica por aquilo que ela não é: 1) não é opção, pois se os sujeitos pudessem escolher, certamente escolheriam outra via menos dolorosa em termos psicossociais; 2) não é vício ou safadeza, no sentido de que os indivíduos são levados a essa prática sexual e ficam viciados ou controlados pela lascívia que tais práticas suscitariam; 3)não é uma doença, logo, não dá pra se curar disso, assim como não se pode transformar a orientação heterossexual em homossexual; e, 4)não é genética, pois, até o presente não se conseguiu provar a existência de genes, cromossomos ou mutações responsáveis pela determinação de uma orientação homoerótica.

Para a Psicanálise a orientação sexual dos seres humanos, diferentemente do que acontece com os animais – e é aí que vemos dificuldade em se postular causas determinadas geneticamente – se dá na “Fase Fálica” do desenvolvimento psicossexual, mais ou menos entre o terceiro e o quinto ano de vida, durante a resolução dos Complexos de Édipo e de Castração, em que o menino busca identificar-se com o Pai (que é suposto possuidor do Falo) abdicando do amor erótico e exclusivista que nutria por sua mãe, evitando a castração e inscrevendo-se de vez no mundo masculino do desejo pela mulher, sombra eterna da primeira amada. A menina por sua vez, ao identificar-se com sua mãe (que na lógica fálica seria castrada), elege como objeto de desejo a figura paterna (por ser o suposto possuidor do Falo) e espera dele a sonhada realização fálica. Vale lembrar aqui que quando me refiro a Pai e mãe estou designando lugares – ou funções – e não pessoas determinadas ou mesmo existentes, pois um pai, mesmo morto antes do nascimento do filho pode continuar a exercer sua função de Pai, e muitas vezes nós pudemos observar que uma avó é quem verdadeiramente assume a função materna.

O sujeito homoerótico seria aquele que no jogo amoroso edípico com sua mãe, não experimentou a interdição paterna, ficando dessa forma, presa do desejo fálico dela (mãe), que no caso é ele próprio (o filho). Essa ausência do Pai no desejo da mãe impede a identificação do menino com o Pai Simbólico (fálico) e o remete ao primitivo desejo de ser desejo do desejo da mãe, ou seja, de ser ele próprio o falo. Desejar aquilo que ela deseja é embarcar de vez no desejo narcísico por si mesmo (que é o desejo dela), e estender esse desejo somente àquilo que for semelhante, pois, Narciso acha feio o que não é espelho. Esta aí de forma bem resumida a dinâmica psíquica subjacente a toda orientação sexual. No caso das mulheres direi apenas umas poucas palavras, deixando o desenvolvimento para outro artigo, pois, para a Psicanálise não é possível uma orientação homoerótica para as mulheres, mesmo que haja sexo entre elas. Sendo mais claro e usando o termo que não gosto, ficaria assim: Não há homossexualismo feminino; aquelas que adotam essa prática estão atuando (acting out) numa estrutura Histérica ou ex-sistindo, como diria Lacan, num Complexo de Masculinidade.


O filosofo Olavo de Carvalho, de quem discordo em inúmeras questões, principalmente em política e religião, escreveu um belo artigo para o Diário do Comércio em dois de julho de 2012, “Psicólogos e Psicopatas” em que mostra, mesmo sem ser Psicólogo mais conhecimento da matéria que muitos que portam esse título, principalmente dos tontos (e ativistas gays) que ocupam cargos no Conselho Federal de Psicologia (CFP). Esses psicólogos cuja visão do comportamento humano é muito limitada, o que demonstra que não entendem de conceitos básicos da Psicologia, tais como: identificação, motivação, psicopatologia, condicionamento, mudança de atitude, mecanismos de defesa etc., necessitam que um Filósofo venha lembra-los que quando se trata da conduta homoerótica deve-se levar em consideração não uma, mas várias questões que estão além de um único comportamento ou prática sexual:


Resta, ademais, um fato incontornável: como toda e qualquer outra conduta sexual humana, o homossexualismo, em toda a diversidade das condutas que o termo encobre, nem sempre emana de um desejo sexual genuíno. Pode, em muitos casos, ser uma camuflagem, uma válvula de escape para conflitos emocionais de outra ordem, até mesmo alheios à vida sexual. É possível e obrigatório, nesse caso, falar de falso homossexualismo, de homossexualismo neurótico ou mesmo psicótico, para distingui-lo do homossexualismo normal, nascido de um autêntico e direto impulso erótico. [...] A proibição de dar tratamento psicológico a pacientes que sintam desconforto com a sua vida homossexual resulta num impedimento legal de distinguir entre esses dois tipos de conduta especificamente diferentes, entre o mero impulso sexual e a sintomatologia neurótica, equalizando, portanto, homossexualismo e doença.

Portanto, se a obrigação do Psicólogo Clínico é prestar o melhor atendimento ao seu alcance para aquele que o procura com um sofrimento ou dor psíquica onde está o problema em oferecer ajuda ao sujeito homoerótico que sofre por sua orientação sexual? Não se trata aqui de pregar ou propagandear a cura da homossexualidade, até porque não há cura. O psicólogo que oferecesse tal tratamento prometendo transformar gays em ex-gays deveria ter seu registro cassado por propaganda enganosa e não por homofobia, porque se ele tiver estudado um pouquinho apenas as principais teorias psicológicas sobre o tema saberia que essa missão é impossível. Logo, não há sentido na perseguição movida pelo CFP, ao pastor e psicólogo Silas Malafaia e a psicóloga cristã Marisa Lobo por expressarem suas convicções religiosas que não são toleradas – nem respeitadas – pelos ativistas gays dentro e fora do CFP que os acusam de homofóbicos; se eles apenas seguem o que está escrito na Bíblia – ver Levítico 18:22 – e professam essa crença porque então vocês não fazem um grande movimento antibíblico, com queima de Bíblias e tudo mais? Não tem coragem não é mesmo. Como denunciou Carvalho em seu artigo supracitado, essa associação entre o CFP e o ativismo gay em defesa do PL 122, não é só absurda, mas também perigosa, pois os torna: "Mais que imcopetentes e indignos de exercer a profissão de psicólogos (...) são mentes deformadas, perigosas, destrutivas, cuja presença nos altos postos é promessas segura de danos e sofrimento para toda população".

Nestes quase trinta anos de atividade clínica em meu consultório e em Unidades Básicas de Saúde, já atendi a dezenas de homossexuais (vou usar esse termo aqui) de diferentes faixas etárias, etnias e religiões. E o que vi foi o sofrimento de homens e mulheres, seres humanos a sofrer por um desejo que não escolheram para si e que em muitos casos é mais forte que o desejo de não senti-lo. Vi jovens, pré-adolescentes, meninos que sonhavam em ser “paquitas” da Xuxa, e vi o ódio dissimulado no rosto dos familiares, a vergonha dos irmãos. Vi senhores casados, com filhos, membros fieis de uma igreja, a sofrer por apenas sentir o desejo pelo corpo de outro homem, sem nunca ter tido qualquer tipo de contato homoerótico em sua vida. Vi homens gays, transgressores, pervertidos também. Vi homens jovens apaixonados por outros homens também jovens buscando viver seu amor sem (sic) “incomodar ou ser incomodado”. Vi também mulheres e homens histéricos, profundamente neuróticos, introvertidos e carentes, cuja necessidade imperiosa de afeto os levou a homossexualidade mesmo não sendo homoeróticos, e a psicoterapia propiciou que eles se comprometessem com seu real desejo e assumissem sua heterossexualidade. Assim como, favoreci com minha escuta àqueles sujeitos que sofriam com sua orientação sexual e aprenderam na psicoterapia ou na análise, a viver bem, “com esse estranho que me habita” como me disse certa vez um jovem.

Apesar de discordar da visão teológica dos pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia, pois, acredito que ambos são “mercadores da fé”, ou “pastores caça-níquel” – como Edir Macedo, Waldemiro Santiago, RR Soares e tantos outros – em um ponto eles estão corretos: a defesa da liberdade de expressão e da liberdade religiosa. É absurda a proposta dos ativistas gays em seu desejo – insano – de criminalizar posições doutrinárias de religiões, impondo às mesmas uma mordaça sob o pretexto de estar combatendo a homofobia. Até porque, nunca vi nenhum padre ou pastor perseguindo homossexuais ou realizando cruzadas de combate ao homossexualismo ou algo semelhante, pelo contrário, o que vemos na mídia é a afirmação enfadonha até, de que “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”, e mesmo que o religioso não concorde terá que defender essa tese para ser coerente com seu livro sagrado.

O pastor Malafaia fala demais, se mete em áreas que não são as suas em busca de argumentos que provem a anti-naturalidade das práticas homossexuais e acaba metendo os pés pelas mãos ao utilizar argumentos da biologia, da sociologia, da genética etc. Procurar argumentos em outras áreas para encontrar razões científicas que apoiem pontos de vista que são puramente religiosos, é, basicamente, não acreditar na justeza de seus próprios argumentos. Qual a necessidade de um religioso procurar apoio para sua crença em fundamentos científicos? Seria sua doutrina tão frágil assim que não se sustenta sozinha? É o que parece. Vai aqui um conselho aos religiosos: atenham-se ao seu credo, a sua teologia e a seus objetivos soteriológicos. Acreditam que o Homoerotismo é pecado? Ótimo, digam isso, avisem que o fogo do inferno aguarda os transgressores e ponto final. Essa é a crença e não há teoria científica que a embase.

Quanto ao pastor Feliciano desde que foi eleito para a presidência da CDHM virou a “vidraça” da vez. Famoso por proferir bobagens monumentais dos púlpitos de sua igreja e dos congressos evangélicos – ele disse que Deus castigou com a morte John Lennon, por ter dito que os Beatles eram mais populares que Cristo e o grupo “Mamonas Assassinas” por corromperem as crianças com suas letras cheia de palavrões – e por seu declarado etnocentrismo religioso, que demoniza qualquer prática religiosa que não seja de inspiração judaico-cristã, principalmente as de raízes africanas. Pra piorar – ou não – ele foi parar logo no reduto mais queridinho da esquerda esquizofrênica brasileira (PT e PC do B) que desde 1995 vinha se revezando na presidência da comissão. Marco Feliciano é oportunista, pastor caça-níquel, histriônico e paspalhão, mas, isso não o incapacita de presidir a CDHM, afinal de contas quatro dos ex-presidentes da comissão são do partido do mensalão, da vigarice e da desonestidade e uma ex-presidente, a deputada gaúcha Manuela D’Ávila, pertence a um partido que acha que o sanguinário paranoico Josef Stalin foi um exemplo de liderança. Seria Feliciano racista ou homofóbico? Claro que não, é só mais um pastor defendendo seu manual de instrução: a Bíblia. Seria ele preconceituoso? Certamente, como todo sujeito que defende um determinado credo doutrinário, seja religioso, político, filosófico etc.

Diante de todo esse rebuliço vale a pena prestar atenção ao que o Filósofo Olavo de Carvalho chama de “Síndrome de Piu-piu”. Para quem não sabe, trata-se de um desenho animado em que um canarinho amarelo é perseguido pelo gato Frajola, que está sempre à espreita, às vezes, na cara do pássaro, que olha para frente com cara de bobo e diz: eu acho que vi um gatinho! Ou seja, o monstro está na nossa frente e nós o ignoramos, apenas temos a leve sensação de que “vimos um gatinho”. Para ilustrar de forma dramática a passividade e displicência dessas pessoas que “não estão nem aí pra nada”, o filósofo diz que o sujeito está com uma “piroca de rinoceronte” enfiada em seu ânus e só sente uma vaga impressão de desconforto, dessa forma fica fácil para o ativismo intolerante – sejam eles gays ou não – impor sua vontade e criar mecanismos espúrios para cercear nossa liberdade de expressão. É bom estar atento, pois não se trata apenas de combate a homofobia, existem implicações de outra ordem nessa história.

Nenhum comentário: