quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Martin Seligman - A Psicologia Positiva

Martin E. P. Seligman (1942) é psicólogo e professor da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Quando era professor de psicopatologia, começou a questionar sobre essa enorme tendência da ciência psicológica em por a ênfase dos seus estudos nos aspectos doentios, na psicopatologia em suas múltiplas faces, desconsiderando os aspectos positivos do comportamento e desenvolvimento do indivíduo. A partir da década de 1990 seus questionamentos começaram a dar origem a uma nova corrente em Psicologia, intitulada Psicologia Positiva. 
As pesquisas e a consequente divulgação dessa nova abordagem ganhou impulso quando Seligman ocupou a presidência da American Psychological Association (APA), em 1997, e a partir daí seus estudos começaram a ser divulgados em todas as partes do mundo.
O movimento batizado de Psicologia Positiva surgiu oficialmente nos Estados Unidos, em 1997/1998, a partir da iniciativa de Seligman que, com outros pesquisadores, começou a desenvolver pesquisas quantitativas visando à promoção de uma mudança no foco atual da Psicologia. Suas obras principais são: Felicidade Autêntica; Florescer; Aprenda a ser Otimista; e O que pode Mudar.
Na edição da revista Veja de 10 de março de 2004, Martin Seligman foi o entrevistado da páginas amarelas, chamado de Doutor da Felicidade pela mídia e criticado pela simplicidade de seus conceitos pelos acadêmicos, Seligman foi entrevistado para explicar os temas básicos de seu então mais recente livro (Felicidade Autêntica), considerado best seller. Abaixo um trecho da entrevista que pode ser vista completa em veja.abril.com.br/100304/entrevista.html

Veja – É possível medir o grau de felicidade de uma pessoa?
Seligman –
Sim, se estivermos falando de prazeres como sexo, chocolate e compras. Nesses casos, cada um sabe o que o faz mais feliz. Mas já fica mais difícil medir o grau da felicidade existencial, por assim dizer. O que dá para perceber é que há características comuns às pessoas que consideramos felizes. Elas são, por exemplo, mais queridas pelos outros. Também tendem a ser mais tolerantes e criativas. As pessoas felizes têm em comum, ainda, hábitos de vida mais saudáveis, pressão arterial mais baixa e sistema imunológico mais ativo que as infelizes.

Veja – Por que o senhor resolveu enfocar a felicidade, e não a infelicidade, como fazem quase todos os psicólogos?
Seligman –
A psicologia convencional nasceu para tentar entender o que torna alguém neurótico, deprimido, ansioso, de mal com o mundo. Durante mais de duas décadas dediquei-me a esse tipo de estudo. Mas, depois de anos nessa toada, achei melhor procurar compreender o que faz alguém feliz. Inclusive para indicar alguns caminhos para os infelizes. Descobri que homens e mulheres satisfeitos têm uma vida social mais rica e produtiva. Os muito felizes passam o mínimo de tempo sozinhos e mantêm ótimos relacionamentos. Cultivam mais as amizades e permanecem casados por mais tempo.

Veja – Os mais felizes vivem mais?
Seligman –
O estudo mais notável feito até hoje sobre felicidade e longevidade analisou o cotidiano de 180 freiras. Todas tinham a mesma dieta, leve e balanceada, e estavam livres, é claro, de drogas, álcool e cigarro. Como também convém a freiras, elas não eram suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis. Pois bem, mesmo assim, foi constatada uma diferença sensível de longevidade entre as mais e as menos alegres. Entre as primeiras, 90% ultrapassaram os 80 anos. Do outro grupo, apenas 34% chegaram a essa idade.

Veja – Dinheiro traz felicidade?
Seligman –
É evidente que uma situação financeira confortável ajuda. Mas é um erro pensar que, quanto mais dinheiro, mais satisfação. Especialmente se, para consegui-lo, se sacrificam outros aspectos. Trabalhar seis fins de semana seguidos para conseguir um salário maior, à custa de menos lazer e menos tempo com os filhos, não faz ninguém mais feliz. Uma pesquisa baseada na lista elaborada pela revista Forbes das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos constatou que, na média, elas não são mais felizes que as de classe média. A riqueza tem uma correlação surpreendentemente baixa com o nível de felicidade. Os ricos são, em geral, só um pouco mais felizes que os pobres. Nos Estados Unidos, enquanto a renda aumentou 16% nos últimos trinta anos, o número de indivíduos que se consideram muito felizes caiu de 36% para 29%.

Veja – Mas existem estudos que associam a felicidade ao poder de compra.
Seligman –
É verdade que países muito pobres, como Bangladesh, por exemplo, têm, na média, menos pessoas felizes que países como os Estados Unidos. Uma pesquisa realizada recentemente abordou um universo de mais de 1 000 pessoas em quarenta países. Os responsáveis cruzaram o nível de satisfação pessoal com o poder de compra correspondente a cada lugar. O resultado trouxe obviedades e surpresas. Numa escala de 10 pontos, a nação de pessoas mais felizes e satisfeitas é a Suíça. Os Estados Unidos estão em sexto lugar. Já o Brasil aparece num surpreendente décimo lugar, à frente da Itália, um país rico, onde as pessoas têm um poder de compra quase quatro vezes maior. Isso significa que os brasileiros têm particularidades que contrariam a crença de que felicidade está necessariamente associada a mais dinheiro.

Veja – Há pessoas que costumam dizer "eu não sou feliz, eu estou feliz". Isso faz sentido?
Seligman –
Esse é o tipo de consideração que vale para quem pauta a vida pela quantidade de prazer imediato que consegue ter. É uma vida baseada exclusivamente no humor – e o humor tem altos e baixos. Uma felicidade mais plena sobrevive a esse tipo de montanha-russa.

Veja – É inegável, contudo, que existe a felicidade momentânea.
Seligman –
Sim, e ela pode ser aumentada por meio de artifícios como um chocolate, um bom filme, uma roupa nova, flores ou uma boa massagem. Mas não é preciso ser um estudioso do assunto para verificar que coisas boas e realizações importantes incrementam a felicidade apenas temporariamente. Acredita-se que em menos de três meses eventos importantes como uma promoção perdem o impacto. O grande desafio é manter o nível constante de felicidade. A psicologia tenta estabelecer se cada um de nós tem um limite próprio para a felicidade – um limite herdado geneticamente e para o qual invariavelmente voltamos, por obra de um termostato interno. Você me perguntou sobre a relação entre felicidade e dinheiro. Pois bem, um estudo feito com ganhadores de gordos prêmios de loteria revelou que, passada a euforia causada pela entrada de uma grande soma de dólares, todos retornaram a seu nível básico de felicidade. A boa notícia é que mesmo depois de um evento muito triste esse termostato também nos tira da infelicidade e nos leva de volta ao patamar anterior.

 

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