quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A sexualidade Infantil e a Separação dos Pais

 
 A Sexualidade Infantil


Desde 1905, com a publicação dos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, de Sigmund Freud, não é mais novidade se falar na existência de uma vida sexual na infância pautada por intensos desejos e vivenciada mais amplamente nas fantasias. Freud não queria dizer que a criança possui um desejo sexual igual ao dos adultos; longe disso. Ele insistia numa sexualidade que evoluía por fases (chamadas psicossexuais) e que culminariam no Complexo de Édipo, que exerceria uma função ordenadora da sexualidade adulta, responsável inclusive por nossa orientação sexual.
Desse modo, do nascimento até os dois anos a criança vive o clímax de suas experiências sexuais na estimulação da boca, lábios, língua e mucosa bucal, daí essa fase ser chamada de fase oral. Na medida em que vai crescendo essa primeira fase dá lugar a uma segunda (entre dois e três anos), chamada fase anal, porque o interesse da criança é centrado agora em suas atividades excretórias. E, finalmente, chega o momento da descoberta dos genitais (três a seis anos), em que o interesse da criança gira em torno do prazer proporcionado pela estimulação peniana ou clitoriana; Freud chamou a essa fase de “fálica”, pelo fato de a criança conhecer apenas um órgão genital, no caso o masculino, e também pelos aspectos simbólicos associados ao órgão.

É extremamente relevante sabermos que em todas essas fases o mais importante não são os acontecimentos – traumáticos ou não – ocorridos na infância, mas, sobretudo, são as fantasias desse período da vida que serão mais impactantes na formação da personalidade.

Na primeira fase, em que a boca se converte no centro do mundo para a criança, suas fantasias estão ligadas ao desejo de incorporação, de sucção e satisfação plena: seria algo como devorar o seio materno, na linguagem da psicanalista austríaca Melanie Klein, para se livrar da privação real.

Nas outras fases se dá o mesmo. Por exemplo: uma menina de 4 anos, em plena fase fálica e no auge do complexo edipiano, viverá intensas fantasias de sedução e de gratificação masturbatória dirigida ao genitor de sexo oposto. Some-se a isso a brutal erotização da infância promovida pela mídia (novelas e programas infantis em que as apresentadoras vestem-se e investem pesado num erotismo desnecessário); levará sem dúvidas a uma exacerbação do complexo de Édipo, fazendo com que tais fantasias rompam a barreira de um superego permissivo e ganhem expressões na linguagem das crianças, que podem interpretar criativamente (graças a sua limitação cognitiva) até os cuidados de higiene e/ou saúde dispensados pelos pais.

Assim sendo, é por demais comum ver meninas dizerem ser a “namoradinha do papai”, ou que a boneca que ganhou de presente ser filha de ambos, e isso é perfeitamente normal.

É claro que o escrito acima é apenas um resumo do resumo do que acontece em nosso desenvolvimento psicossexual. Para maior conhecimento sugerimos os livros “Psicanálise e Pediatria” de Françoise Dolto, “Noções básicas de psicanálise” de Charles Brenner, e para quem quiser ir mais fundo, as obras de Freud, de Karl Abraham e Melanie Klein.

 
A Separação dos pais


Num estudo belíssimo intitulado “Quando os pais se separam”, Françoise Dolto sentencia: com filhos menores de cinco anos é melhor não se separar se os pais conseguirem se aturar (conviverem pacificamente). Parece loucura, mas tem explicação. Até os cinco anos a criança está numa fase de pensamento definida por Jean Piaget como pré-operatória, ou seja, ela não vai entender o por quê; e, é muito provável que se ache culpada por isso, ainda mais se ela estiver na fase edipiana.

Agora imaginemos uma separação em clima hostil, em que a mãe fala mal do pai e/ou o pai fala mal da mãe... Como ficará a cabeça de uma criança que ainda crê em bicho-papão e papai Noel? E mais, como ficará a cabeça da criança tendo que tomar partido ao lado de um deles se um deles quiser usar algum artifício para prejudicar o outro?

E nós sabemos que na hora da raiva nosso senso crítico desaparece, interpretamos mal as coisas e poderemos até ver além daquilo que a realidade aponta. A criança, que ama os dois pais, sente-se dividida e perdida, e em suas fantasias deve agradar a ambos, só que isso se mostrará impossível no futuro, mas não na cabecinha de um pré-operacional que acredita cegamente que o super-homem voa, que dor se cura com beijinhos e que tem um monstro dentro do guarda-roupa.

Portanto, se a criança, a despeito de tudo, consegue manter uma boa relação com seus pais – livre das neuroses de ambos – crescerá com o firme propósito de não repetir os erros deles, mas sempre guardando uma secreta esperança: “de ter mamãe e papai me protegendo e me amando”, nas palavras de uma de minhas pequeninas pacientes.

(Pontuação do Prof. Antonio Lima na mesa redonda do II Encontro de Psicologia da Criança em Maceió, 08 de outubro de 2009)

 

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