Antônio Cícero foi um poeta renomado, ensaísta e filósofo brasileiro, nascido em 1945 no Rio de Janeiro, e morto recentemente no dia 23 do corrente, em Zurique na Suíça.
Irmão da cantora Marina Lima, ele também contribuiu intensamente para a música popular brasileira, escrevendo letras marcantes para artistas como sua irmã Marina Lima, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso. Formado em Filosofia, Cícero é reconhecido pela sua exploração de temas profundos como a natureza do tempo, a transitoriedade da vida e a essência das relações humanas.Em seus versos, transita por temas existenciais com uma linguagem clara e precisa, com influências da filosofia. Abaixo, uma de suas poesias mais conhecidas, entre as não musicadas. (Foto do Jornal da Band)
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
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