sábado, 2 de fevereiro de 2013

Os Intelectuais - Paul Johnson (Parte 1: Rousseau)

A ideia central do livro é analisar a vida dos principais intelectuais que influenciaram a vida das pessoas comuns em seu tempo, tal qual os antigos escribas e sacerdotes das épocas antigas. Assim como acontecia na antiguidade, em que a autoridade de alguns iluminados ou credenciados pela ideologia dominante regiam a vida de homens e mulheres, o autor busca, na chamada era moderna e contemporânea  aqueles filósofos que tiveram maior penetração e influência, e funcionaram como formadores de opinião em seu tempo. O objetivo do autor é questionar quais as credenciais morais de tais autores para dar conselhos à humanidade.
Para cumprir seu objetivo ele analisa a vida de Roussseau, Shelley, Marx, Ibsen, Tolstoi, Brecht, Russell, Sartre e outros. Mostra, em seu relato, o lado mais humano de cada um deles, seus defeitos, suas limitações e até seu comportamentos mais desprezíveis e contraditórios em relação ao que pregavam.
Desse modo, Jean-Jacques Rousseau, que "alterou alguns dos pressupostos básicos do homem civilizado e mudou a configuração da estrutura do pensamento humano", nos campos da educação, da literatura e da psicologia, entre outros, nos aparece aqui como egocêntrico  paranoico, mentiroso,e completamente ingrato com todos os que os ajudaram. Para o autor, Rousseau era mentalmente doente, o que, segundo ele, pode ser comprovado em suas últimas obras: Diálogos comigo mesmo (1772) e os Devaneios de um caminhante solidário (1776).
Rousseau também lançou moda: "meu estilo descuidado habitual, com uma barba irregular", era sua forma (estudada) de se rebelar contra as normas sociais. Logo, usar trajes que pareciam extravagantes aos seus contemporâneos, sem relógio, espada, galões e roupas largas, seriam uma forma de chamar a atenção não só para sua pessoa, mas também para sua obra. Mais tarde foi imitado por outros jovens intelectuais, que viam nessa simplicidade uma forma de protestar e também ser diferente dos comuns mortais.
Ele teve inúmeras amantes. Foi sustentado por algumas, foi um tirano com outras, mas, como em todas as suas relações, tirou o máximo proveito delas: sua amantes duravam o tempo exato de sua utilidade para ele e sua causa. A única mulher que disse ter amado foi a Condessa d'Houdetot, cunhada de sua amante e benfeitora, a Mme d'Epinay.
Seu caso mais demorado foi com a lavadeira Therese Levasseur, com quem viveu 33 anos e teve 5 filhos, que foram dados para adoção, deixados numa trouxa na porta do "Hospital das Crianças Encontradas", onde só 14 em cada 100 crianças sobrevivia. A hipocrisia de Rousseau chegou ao clímax, quando ele justificou o abandono dos filhos afirmando que: "Sei muito bem que nenhum pai é mais afetuoso do que eu teria sido", mas "tremia diante da ideia de deixar meus filhos aos cuidados daquela família grosseira (referindo-se especificamente à mãe de sua esposa).
Johnson conclui o capítulo sobre Rousseau lembrando que os intelectuais podem ser "tão insensatos, ilógicos e supersticiosos quanto qualquer pessoa". E finaliza com a apreciação daquela que foi o único amor do pensador francês, a Condessa d'Houdetot: "Era um louco interessante". 

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