sábado, 30 de abril de 2011

LEDO IVO - A queimada!


Lêdo Ivo nasceu em Maceió, em 1924 e após uma estada de pouco mais que um ano no Recife (das mais importantes para sua formação literária), muda-se para o Rio de Janeiro (1943) onde vive até hoje.


Poesia: Ode e elegia, Acontecimento do soneto, Ode ao crepúsculo, Cântico, Linguagem, Um brasileiro em Paris, Magias, Estação central, Finisterra, O soldado raso, A noite misteriosa.

Romance: As alianças, O caminho sem aventura, O sobrinho do general e Ninho de cobras.

Ensaios: O universo poético de Raul Pompéia, Poesia observada, Ladrão de flor, Teoria e celebração e Ética da aventura.

Crônicas: A cidade e os dias e a autobiografia Confissões de um poeta. Tradução: Uma temporada no inferno e Iluminações, de Rimbaud.

Sobre a importância da formação cultural do poeta (entrevista dada a Cláudio Aguiar, Jornal de Poesia):

“De modo que eu tive uma formação cultural muito importante, o que me leva a pensar que a formação poética é mais um efeito da cultura do que só da sensibilidade. Só a cultura literária permite a expressão daquilo que o escritor gostaria de dizer. Daí que não levo em boa conta as pessoas que privilegiam apenas a instintividade ou até a ignorância. Eu acho que é da tradição da literatura ocidental reconhecer os poetas como pessoas cultas”.

A Queimada

Queime tudo o que puder:

as cartas de amor

as contas telefônicas

o rol de roupas sujas

as escrituras e certidões

as inconfidências dos confrades ressentidos

a confissão interrompida

o poema erótico que ratifica a impotência

e anuncia a arteriosclerose

os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados

nenhuma herança de papel.

Seja como os lobos: more num covil

e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.

Diga sempre não à escória eletrônica.

Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,

as variantes e os fragmentos

que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.

Não confie a ninguém o seu segredo.

A verdade não pode ser dita.

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