sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O que é Neurose?

Hoje em dia quase não ouvimos mais falar em NEUROSE. A terminologia proposta pela Associação Psiquiátrica Americana (que influencia os manuais diagnósticos mundo afora) nos empurrou goela abaixo um vocabulário técnico baseado na sintomatologia, que diluiu em transtornos, síndromes e fobias, aquilo que desde Freud se agrupava como sendo a boa(!?) e velha Neurose.
Certamente você já ouviu falar em Transtorno de Ansiedade (com ou sem depressão, generalizada, paroxística etc); ou Transtorno Fóbico (ansioso, social, com ou sem agorafobia etc); ou o clássico Transtorno Obsessivo-compulsivo (com ou sem fobia, depressão etc); ou quem sabe nos Transtornos Conversivos ou Dissociativos (com somatização, epileptiformes, de transe e possessão etc); e, tem ainda os Transtornos Alimentares (anorexia, bulimia etc). E as Síndromes (de pânico, das pernas inquietas etc)?
E o que dizer das dezenas de Fobias (acro, zoo, claustro, tanato, social, agora etc)? E tem também os distúrbios da sexualidade (perversões, disfunções eréteis, orgásticas etc)o que dizer deles?
Pois bem, tirando as perversões, o resto é tudo Neurose. Seja histérica (conversiva ou dissociativa), seja Angústia (ansiedade ou pânico), seja Fobia (qualquer uma delas) ou seja Obsessão-compulsão ( o tal do TOC), é sempre a mesma patologia: Neurose. E proponho uma nova-velha conceituação - pois já foi proposta por outros estudiosos com outras palavras e outro rigor teórico.
Neurose é uma doença que impede o sujeito de sentir prazer na vida cotidiana e normal e executar atividades, desde nas coisas mais simples, como sair de casa para ir trabalhar ou entrar num elevador, até nas mais complexas, como se relacionar com outras pessoas, falar em público e gozar do prazer do sexo.
Em minha experiência clínica tenho acompanhado pessoas que sofrem por não conseguir sair de casa para ir ao trabalho com medo de serem assaltados, ou de morrer ou desmaiar no ônibus; tenho visto gente que pensa em se matar por sentir tanta angústia e medo de que alguma desgraça ocorra com seus familiares; tenho ouvido os medos daqueles que imaginam que seus entes queridos serão acometidos de doenças terminais e se angustiam antevendo os momentos finais de seus filhos, pais e cônjuges; tenho acompanhado as angústias daqueles que não conseguem dirigir seus automóveis ou assinar seu nome em qualquer petição. Tenho ainda acompanhado o terror de alguns diante de uma experiência sexual, pois, ou não respondem ao estímulo ou nada sentem. E ainda há aqueles para quem a vida perdeu o sentido.
Para todos há uma esperança: remédios para os casos mais graves (só para aliviar os sintomas) aliados à psicoterapia, pois sem psicoterapia nada será resolvido, já que não se trata de problema orgânico. E, para todos os casos, psicoterapia, que mesmo sem medicação resolverão o problema, pois é problema de vida, de emoção e de história, e para isso não há droga, a não ser aquelas que entorpecem e causam mais problemas ainda.

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