domingo, 4 de setembro de 2011

Freud e as pessoas "que não querem incomodar". Parte 1

Já ouviu aquela história do sujeito que é convidado para algum evento e responde com questionamentos sobre a intenção de quem o convidou e depois ainda diz que não quer incomodar?
A cena é mais ou menos assim:
- Oi Juliana, quanto tempo né menina, quer almoçar comigo logo mais?
- Não vai lhe atrapalhar? Sei lá, você é tão ocupado, de repente você pode querer almoçar com outras pessoas.
- Claro que não Juliana, se estou lhe convidando...
- É, mas, você pode ter  algum compromisso e aí eu vou acabar te atrapalhando e eu não quero incomodar.
Outro exemplo ainda mais contundente que o anterior: um sujeito oferece uma carona para outro pelo simples fato de que obrigatoriamente passará pelo lugar para o qual o outro está indo, e obtém como resposta a pérola abaixo, que como veremos, acaba em recusa:
- Não vai lhe atrasar? Sei lá, não quero incomodar. Melhor não, não quero tirar você de seu caminho, eu dou um jeito, pode ir...

Bem, porque será que essas pessoas se preocupam tanto em não incomodar, não atrapalhar? Certamente não é porque desejem isso. Aprendemos com Freud que existem motivos ocultos (inconscientes) por trás dessa aparente benevolência.
O principal motivo parece ser o desejo (inconsciente ou não) de não estar com a pessoa que o convida, seja por alguma rusga não resolvida no passado e causadora de ressentimentos presentes, seja por uma autoestima baixa que corre o risco de piorar na presença do outro, ou mesmo por uma agressividade dissimulada em que a recusa ao convite faz a função de elemento punitivo.
Um outro elemento interessante é a onipotência do pensamento do sujeito que "não quer incomodar", ele pensa por todos, e se julga conhecedor do pensamento alheio. Para esses indivíduos, a palavra do outro que oferece ajuda não merece crédito, pois, ele prefere crer em suas fantasias de estar incomodando, apesar de todas as alegações em contrário, e isso é que realça o caráter irracional dessa conduta.

Há também aqueles casos que decorrem de um temperamento extremamente introvertido, ou  ainda aqueles indivíduos que se encontram com distúrbios de comportamento, em que os sintomas de isolamento ou fobia social os leva a restringir (ou mesmo a abolir, nos casos mais graves) seus contatos com o semelhante.
Entretanto, excetuando-se os casos em que o sujeito utiliza esse argumento (não querer incomodar) de forma consciente para fugir a um encontro desagradável, ou é fruto de algum distúrbio psicológico, nos demais casos podemos ver traços de soberba em ação, camuflada sob a aparência de uma preocupação com o outro.

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