sexta-feira, 6 de agosto de 2010

SIGMUND FREUD - Uma Introdução à Psicanálise. Parte 1.

Torna-se tarefa quase impossível falar da teoria psicanalítica sem fazer referência à vida de seu criador. Sigismund Schlomo Freud nasceu em Freiberg na Morávia, no dia 6 de maio de 1856, primeiro filho do segundo casamento de Jacob Freud, um comerciante de lãs, com Amália Nathansohn. Ainda na adolescência e por motivos desconhecidos até pelos biógrafos, Freud passa a assinar Sigmund, sem o "is", e a não utilizar o segundo nome, Schlomo, que era uma homenagem ao avô.
Os Freud eram uma típica família judia, que movida por dificuldades financeiras teve que emigrar para centros mais promissores, primeiro para Leipzig e depois para Viena, onde fixaram-se de forma definitiva. A infância de Freud foi marcada pela luta de seu pai para manter uma família extensa (Sigmund, Anna, Rosa, Marie, Adolfine, Pauline e Alexander), e pelo favoritismo declarado de seus pais a esse jovem promissor.

No outono de 1873 Freud ingressa no curso de medicina da Universidade de Viena, e sente na pele o anti-semitismo reinante naquele período. O curso de medicina possuía duração de cinco anos, mas só oito anos depois, em 1881 ele sai da Universidade com seu diploma de médico. Dos anos que passou na Universidade, seis foram dedicados ao trabalho de pesquisa em neurofisiologia no laboratório de Ernst Brucke, que teve um papel importante na criação da psicanálise ao apresentar o jovem Sigmund ao já famoso clínico Josef Breuer.

No ano de 1879, Freud se licencia da Universidade para se dedicar ao serviço militar obrigatório, onde fica até o ano seguinte. Por achar a vida na caserna um tanto tediosa, ele passa seu tempo livre traduzindo para o alemão quatro ensaios das obras reunidas do famoso psicólogo John Stuart Mill. Em abril de 1882, Freud conhece Martha Bernays e rapidamente se apaixona e ficam noivos dois meses depois do primeiro encontro; agora ele tinha um forte motivo para se preocupar com sua situação financeira, pois pretendia casar-se o mais rápido possível.

Apesar de já ter concluído o curso de medicina, Freud permanece trabalhando no laboratório de Brucke; mas, no verão desse mesmo ano, aconselhado por seu mestre, deixa o laboratório e assume um posto não muito importante no Hospital Geral de Viena, onde ficou por três anos trabalhando em várias especialidades médicas. Em maio de 1883, ele foi promovido a "Sekundararzt" e passa a trabalhar na clínica psiquiátrica dirigida por Theodor Meynert, com quem anos mais tarde viria a ter problemas por causa da histeria e da hipnose.

No início de 1884, Freud dedicou-se ao estudo das propriedades anestésicas da cocaína, e, em junho desse mesmo ano, concluiu um artigo técnico intitulado "Sobre a Coca". Entretanto suas pesquisas lhe trouxeram mais aborrecimentos que dinheiro e sucesso - que era o que ele esperava conseguir. A glória pela descoberta do uso da coca como anestésico local em pequenas ciriurgias coube a Carl Koller, que aproveitando-se da ausência de Freud - que viajara para encontrar-se com sua noiva - apresentou um trabalho sobre coca no congresso oftalmológico de Heidelberg que estava totalmente baseado nas pesquisas realizadas por Freud.

Em meados de outubro de 1885, Freud chega a Paris para estudar com o célebre médico Jean-Martin Charcot, que entre outras coisas, teve o mérito de demonstrar que a histeria não era fruto de lesões orgânicas - tal como era postulada por Meynert e por toda tradição médica alemã. Charcot foi ainda mais longe ao afirmar que a histeria não era uma doença exclusiva das mulheres (histeron= útero); e mais ousado, quando resgata a hipnose das mãos dos mágicos e curandeiros "para aplicá-la de modo conseqüente no tratamento de doenças mentais" (Peter Gay, p.61). No entanto, o interesse de Charcot pela histeria não foi suficiente para que ele se preocupasse em procurar um modo de tratar o distúrbio; a hipnose, tal como utilizada por ele, não representava propriamente uma modalidade de tratamento. Segundo Maud Manoni, Charcot estava tão absorvido pela observação científica que não deu importância à vida infantil dos pacientes, nem a relação que se estabelecia entre estes e o médico, impedindo assim quaisquer possibilidades de se chegar à cura da histeria. Malgrado toda admiração que Freud sentia por Charcot, ele não estava muito satisfeito com a explicação dada pelo médico francês sobre a natureza da hipnose, pois, para Charcot o estado hipnótico só poderia ser provocado em histéricos. Adotando postura contrária à tese defendida por Charcot, a Escola de Nancy - representada por Liébault e Bernheim - afirmava que a hipnose era apenas uma questão de sugestão, Freud achava esse ponto de vista mais coerente.
... continua.


Nenhum comentário: