Em entrevista à revista Veja (Ed.2335 de 21 de agosto de
2013), o psicólogo americano Philip Zimbardo retoma o tema da maldade humana e
suas raízes. Famoso na década de 1970 por seu experimento em parceria com Stanley Milgram na Universidade
Stanford, em que chega a conclusão de que o mal “repousa dentro das pessoas” e
que apenas 10% das pessoas permanecem imunes àquelas situações que poderiam
levá-las a agir de forma má; ou seja, todos nós – a depender das circunstâncias
– podemos cometer atos atrozes e de intensa maldade. Em sua pesquisa Zimbardo
também observou que militares nazistas, guardas de campos de concentração,
torturadores de regimes ditatoriais não são uma espécie de “monstros” especiais
que se destacam da multidão; são, antes, pessoas comuns, sem desvios de
personalidade e “em geral, indivíduos normais, com vida comum, até assumirem a
função” e conclui afirmando que qualquer um pode ser treinado para se tornar
torturador.
A entrevistadora pergunta se existem pessoas que são
mais propensas a praticar o mal, e o psicólogo é categórico ao afirmar que sim,
que além do grupo dos psicopatas (que representam 1% da população), pessoas que
sofreram alguma espécie de violência brutal em qualquer momento de sua história,
têm uma tendência maior a praticar tais atos no futuro. Do mesmo modo, também existem pessoas mais
resistentes a prática da maldade, como exemplo temos os indivíduos altamente
críticos que não se submetem a sistemas que consideram injustos e se rebelam
contra todo tipo de tirania. Para Zimbardo, “a melhor vacina contra a prática
do mal é o exercício permanente da autocrítica”.
Para saber mais
leia o livro O Efeito Lúcifer (Ed. Record) de Philip Zimbardo, e veja também a pesquisa de Alexander
Haslam e Stephen Reicher, da Escola de Psicologia da Universidade de
Queensland, na Austrália que contesta o experimento de Zimbardo e Milgram (Contesting the "Nature" Of
Conformity: What Milgram and Zimbardo's Studies Really Show). Os psicólogos australianos discordam de Zimbardo e MIlgram quando eles sentenciam
que “a obediência aos desmandos de autoridades mostrava que os seres humanos
normais tendiam a se conformar com a tirania”, e propõem, por sua vez, que essa obediência se
deve ao fato de a pessoa se identificar com a autoridade e acreditar estar
fazendo a coisa certa. Com certeza são duas boas leituras para nos fazer
entender um pouco mais dessa porção de maldade que habita em todos nós.